Os verdadeiros surfistas usam ou não roupas de marcas de surf?

A indústria da moda de surf começou simples, tornou-se global, e enfrenta alguns desafios.




Um mercado sempre em ascensão

O que começou por ser um mercado ‘básico’ onde imperavam as camisas havaianas, com os famosos padrões que ainda hoje perduram, transformou-se numa indústria de milhões: a moda do surf. As famosas camisas ‘Aloha’, criadas pelos havaianos, foram um sucesso instantâneo com os surfistas locais, e rapidamente se tornaram obrigatórias para os turistas que visitavam o Havai. O ícone da música e cinema americanos, Elvis Presley, era um dos ‘fãs’ destas camisas e o responsável, em parte, pela fama que ganharam nos anos 60 e 70.

 

As marcas de surf beberam muita inspiração do Havai e do mito ‘aloha’. Padrões coloridos, florais e joviais são desde há muito vistos em pranchas, t-shirts ou calções. Nos dias que correm outras influências gráficas se fazem sentir na moda do surf, como tipografia e ilustrações. Todas estas nuances fizeram crescer a roupa relacionada com o surf muito para além das praias, em lojas de renome de grandes cidades  e inclusivamente a influenciar marcas de alta costura, como a Gucci, por exemplo, que lançou uma linha de calções inspirados pelos padrões havaianos.


Uma moda que identifica uma cultura e um estilo de vida
 

É relativamente fácil identificar a grande maioria dos surfistas pelo tipo de roupa que usam. Ao longo dos anos a cultura do surf desenvolveu um estilo muito próprio, muito à volta dos clássicos ‘boardshorts’, t-shirts com imagens ou logos de surf, ténis e camisas - tudo isto de marcas bem identificadas com o lifestyle do surf.

 

Mas será que alguém ‘equipado’ com este estilo será forçosamente surfista? Não necessariamente. A roupa que originalmente era concebida especificamente para o surf, alargou o seu espectro de forma muito ampla para diferentes mercados e sectores da sociedade, e chega a muito mais pessoas, a quem o que mais importa é a identificação com este estilo enquanto vestuário, por si só.

 

Este crescimento fez desenvolver empresas como a Rip Curl, O’Neill, Quiksilver ou a Billabong até patamares que não seriam expectáveis numa fase inicial. As grandes marcas de surf conseguiram sair do estereótipo puramente surfista e ganharam um lugar próprio na indústria do vestuário global.

 

Hoje em dia o vestuário produzido e comercializado pelas marcas de surf já abrange um leque de opções vasto, que permite adequar diferentes peças para diferentes situações do quotidiano, sejam casuais, desportivas, ou até mais clássico. Existe toda uma amplitude de opções para usar na praia, numa saída à noite, ou até em reuniões de negócios.

 

Os desafios de uma indústria

E é alicerçado neste mercado que o surf, enquanto indústria, é sustentado e prolifera de forma vigorosa. A popularidade deste fenómeno não passou despercebida na competitiva indústria do vestuário - muitas marcas fora da esfera da cultura pediram ‘emprestado’ esse estilo, passando a comercializá-lo massivamente, e em muitas ocasiões a preços de tal forma baixos que desequilibram a balança competitiva perante as marcas ‘originais’ de surf, com naturais repercussões nas vendas a nível global.



Coloca-se a questão: será que os praticantes de surf se devem manter fiéis a estas marcas, que no fundo são a pedra basilar desta indústria, defendendo-a? Ou perante a atual conjuntura económica a procura por produtos mais baratos é inevitável?


A concorrência 'externa' 

Isto leva-nos a outra questão: de onde vêm esses produtos ‘low-cost’? Como são feitos? Quem os faz e em que condições? A verdade é que nem sempre perdemos tempo a pensar nisso. Afinal de contas, é fácil acenar positivamente quando somos confrontados com opções mais baratas, seja do que for - em particular face à situação económinca nos dias que correm.

 

Mas a que preço? Ao fazê-lo estamos a contribuir para que em muitos locais do mundo, crianças (e não só) sejam exploradas como mão de obra barata em condições deploráveis para fazer face à procura do mundo ocidental.



Ao mesmo tempo, e no caso do surf, enfraquecemos a indústria ao optar por essas soluções? As marcas que 'copiam' a moda surf, são as marcas que não vendem o surf  como estilo de vida; o branding do surf é único, e inimitável, por toda a mensagem de comunhão com o oceano, com a praia, as ondas. A cultura surf só identifica quem de fato a percebe, e esses são os verdadeiros fiéis ao culto deste estilo de vida único.

Queremos saber qual a tua opinião em relação a este tema.

 

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