Uma breve história do campeonato de surf de Pipeline (parte 4)
Uma história em 4 partes sobre o campeonato mais importante para o mundo do surf.
Parte quatro.
A «Tempestade Brasileira», o prodígio John John, e uma nova era para a WSL
Em 2014 o vencedor do Pipeline Masters é australiano Julian Wilson, curiosamente daria início ao fim da era de ouro dos australianos no surf mundial. Uma final absolutamente épica disputada até ao último segundo, com o australiano a conseguir o score combinado de 19.63, contra uns 19.2 do fenómeno brasileiro Gabriel Medina.
Em 2015, dá-se inicio então a uma época de domínio brasileiro no surf mundial, com o surgir de uma nova geração cheia de talento. Adriano de Sousa veterano no Tour, e «trailblazer» da futura geração atinge o culminar da sua carreira. Uma vez mais o vencedor de Pipeline é corado o campeão do mundo, na segunda final seguida de Gabriel Medina – derrotado - em Pipeline, desta vez contra Adriano de Sousa. E assim surgiu o primeiro brasileiro campeão do mundo!
2016 traz-nos um campeonato cheio de surpresas. A final, disputada em ondas mais pequenas do que o desejável, acaba por inscrever Michel Bourez na história. Seria a primeira vez que um surfista tahitiano venceria a prova rainha das competições de surf. Curiosamente o seu adversário na final foi Kanoa Igarashi, o Japonês criado na Califórnia e apaixonado por Portugal. Seria também a primeira vez que um surfista Japonês chegaria a uma final de Pipeline. O campeão do mundo desse ano seria John John Florence.
Em 2017 o prodígio John John Florence, local de Pipeline, aquele que todos sabíamos desde os 12 anos que estava destinado a ser campeão do mundo, vence de forma peremptória o seu segundo título mundial, e um pouco à semelhança de Kelly Slater, fá-lo a um nível quase extra-terrestre, demonstrado sempre qualquer coisa acima de todos os outros. A final, com um John John já coroado campeão do mundo foi dominada por Florence quase do principio ao fim. Quase. Porque literalmente na última onda do heat, já com a buzina a tocar, o francês Jeremy Flores, apanhou a sua última onda, onde de forma dramática consegue um 8.33, para dar a volta ao Heat, e vencer o Pipeline Masters pela sua segunda e última vez.
Chegados a 2018, Medina manda a casa abaixo. O surfista brasileiro, também prodígio desde muito novo vence categoricamente o Pipeline Masters, em condições épicas, e naquela que seria a sua terceira final. Ainda para mais contra um dos seus arqui-rivais, o australiano Julian Wilson, com o qual já tem um histórico marcante de disputas. Medina, leva para casa também o Título de campeão do mundo.
2019 assistimos ao nascimento de mais um fenómeno. Ítalo Ferreira, um surfista brasileiro eléctrico, mas à época subestimado surpreende tudo e todos com o seu primeiro título de campeão mundial, conquistado precisamente na final em Pipeline, contra Gabriel Medina, que já adquirira o estatuto de mestre em Pipeline ao realizar a sua quarta final.
Uma Pandemia, e um novo formato que mudaria tudo
2020 foi um ano negro na história mundial, e na história do surf, afectado por uma Pandemia provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2. O Tour acabaria por ser cancelado, não havendo campeão do mundo pela primeira vez desde que existe competição. E não havendo propriamente um Pipemaster correspondente a esse ano.
Contudo a WSL anuncia mudanças radicais no seu formato, e o evento de Pipeline sobretudo viria sofrer com estas alterações. Pela primeira vez em 50 anos o campeonato de Pipeline deixaria de ser o evento que coroa campeões do mundo, como grande finale do Championship Tour, e passaria a ser o primeiro evento do ano. A WSL introduz também o conceito das Finais WSL, que seriam disputadas em Setembro de 2021 em Lower Trestles na Califórnia, onde os 5 melhores surfistas da categoria masculina e da categoria feminina, iriam ter um dia de super-finais para decidir entre si, quais os campeões do mundo.
Ora a WSL aproveitando a slot que estava já negociada, inicia a época oficial de 2021, com campeonato de Pipeline em Dezembro de 2020. E John John acabaria por vencer aquele que foi o 50º Pipeline Masters, numa disputadíssima final contra Gabriel Medina (sua 5ª final). Seria também a primeira vitória de John John no mais prestigiado evento do mundo de surf, depois de já ter estado muito perto de o vencer em 2017.
O campeão do mundo da época 2021 acabaria por ser novamente Gabriel Medina, que atingiria o estatuo de tri-campeão mundial, superando John John que apenas conta com dois títulos.
2022 foi mais um ano marcante. A WSL introduz ainda mais mudanças, com um novo formato do Championship Tour, re-introduzindo o polémico mid-season cut, onde a meio da época de 36 homens e 18 mulheres, o Tour fica reduzido a 24 homens e 12 mulheres para a segunda metade.
Assim completa-se um ciclo de mudanças, onde se altera o formato do Tour para terminar numa super final de um só dia em Setembro de cada ano, onde se perde Pipeline como prova final para prova inicial, onde se começa a incluir uma piscina de ondas com um formato de competição diferente como paragem oficial do Tour, onde se re-introduz um mid-season cut, onde as provas femininas e masculinas são realizadas nas mesmas paragens, e onde, talvez aquela que é a informação mais chocante, o evento de Pipeline perde o estuto de Pipemasters, para passar a ser apenas o Pipeline Pro.
Ora o que aconteceu, foi que a Vans era a marca que na verdade detinha os direitos do nome Pipeline Masters, e após as negociações terem falhado com a WSL, a Vans decidiu reclamar para si mesma a utilização do nome, realizando um evento próprio, com um novo tipo de formato inovador, realizado por convite, mas desconectado com o Championship Tour. A WSL perdeu assim os direitos a utilizar esse nome, e perdeu também assim a capacidade de chamar ao seu vencedor o Pipemaster.
Mas regressando à competição, vencedor em 2022 faria uma vez mais história. O único e incomparável, aquele que é indubitavelmente o melhor surfista do mundo de todos os tempos, Kelly Slater, 30 anos depois de ter vencido o seu primeiro título de Pipemaster, e à beira de completar 50 voltas ao sol, como surfista mais velho a conquistar este título. Com ou sem nome de Pipemaster, a verdade é que até hoje, nenhum outro surfista se pode considerar tão mestre de Pipeline como Slater, com 8 títulos de campeão de Pipeline, participou em 29 eventos, a média de resultados é 4º lugar, fez cinco 10s perfeitos, tem 64 ondas na casa do excelente, e a percentagem de vitória em heats é de 71%. Não há palavras, excepto: GOAT (greatest of all time – o melhor de todos os tempos).
Um emocionado Kelly Slater, após vencer o seu oitavo título de campeão de Pipeline, em 2022.
Uma das excelentes novidades que 2022 nos trouxe, que também entra para a história, foi que pela primeira vez realizou-se uma competição feminina para o CT em Pipeline, vencendo a Havaiana Moana Jones Wong.
De notar que hoje começa hoje, dia 29 de Janeiro de 2023 a janela de espera do Billabong Pro Pipeline, onde vamos ter a participação da portuguesa Teresa Bonvalot
Termina aqui uma breve (talvez, não tão breve assim) história do evento de surf mais prestigiante do mundo, divida em 4 partes.
Obrigado a todos por nos terem acompanhado nesta jornada.
A parte I do artigo, pode ser lida aqui.
A parte II do artigo pode ser lida aqui.
A parte III do artigo pode ser lida aqui.
Hall of fame do Pipeline Pro:
Masculino
1971 | ||||
1972 | ||||
1973 | Gerry Lopez (2) | |||
1974 | ||||
1975 | ||||
1976 | ||||
1977 | Rory Russell (2) | |||
1978 | ||||
1979 | Larry Blair (2) | |||
1980 | ||||
1981 | ||||
1982 | ||||
1983 | ||||
1984 | ||||
1985 | ||||
1986 | ||||
1987 | ||||
Tom Carroll (2) | ||||
Tom Carroll (3) | ||||
Derek Ho (2) | ||||
Kelly Slater (2) | ||||
Kelly Slater (3) | ||||
Kelly Slater (4) | ||||
John Gomes | ||||
Jake Paterson | ||||
Kelly Slater (5) | ||||
Andy Irons (2) | ||||
Andy Irons (3) | ||||
Andy Irons (4) | ||||
Kelly Slater (6) | ||||
Kelly Slater (7) | ||||
Jérémy Florès (2) | ||||
2021 | ||||
2022 | Kelly Slater (8) |
Feminino
2022 | Moana Jones Wong |