Kelly Slater campeão em 1992 Kelly Slater campeão em 1992 youtube: ActionArchives sexta-feira, 27 janeiro 2023 11:20

Uma breve história sobre a competição de surf de Pipeline (parte 2)

Uma história em 4 partes sobre o campeonato mais importante para o mundo do surf.

Parte dois

 

Um mistério por resolver, a ascensão do «Rei», e o high-five mais famoso da história

 

Depois de já termos analisado como é que se deu início a este campeonato nos anos 70 e a sua evolução para os anos 80 – na primeira parte deste artigo aqui - regressamos a esta crónica para a segunda parte onde vamos viajar até aos icónicos anos 90.

Na transição dos anos 80 para os anos 90 estávamos numa fase de domínio dos australianos nesta competição. Em 1989 vence o australiano Gary Elkerton. E em 90 e 91 vence o também «aussie» Tom Carroll, que já tinha vencido em 1987, tornando-se assim no primeiro surfista a conquistar três troféus de Pipeline.

O ano de 91 ficou marcado pelo infame snap debaixo o lip de Tom Carroll. Manobra que colocou o mundo inteiro de queixo caído sobre aquilo que era possível fazer com uma prancha de surf numa onda de alta performance. A título de curiosidade, a famosa prancha cor-de-rosa de Tom Caroll desaparecia misteriosamente após o final do campeonato. Apenas anos mais tarde se esclareceria que tinha sido um jovem chamado Jaimie O’Brien a roubar a prancha do evento no momento de distracção, acabando o mesmo por vir a assumir o seu estouvamento, e devolvendo a icónica prancha ao seu legítimo dono.

 

 

Famoso Snap de Tom Caroll em Pipeline, 1991.

 

Em 1992 vemos a ascensão daquele que viria a ser 11 vezes campeão do mundo. O único e incomparável, um «extra-terrestre» norte-americano, Kelly Slater, cuja vitória no Pipemasters viria também a dar-lhe o seu primeiro título de campeão do mundo. Na altura com apenas 20 anos. Um evento dramático que ficou marcado, pela aparatosa queda do jovem local havaiano, Sunny Garcia, lesionando-se na final.

 

 

No ano seguinte vimos novamente o havaiano Derek Ho (também campeão em 86) a vencer o evento, que contava já com 77 atletas, e um muito respeitável prize money de 105 mil doláres.

Em 94 Kelly Slater inicia o seu período de domínio total, vencendo 3 Pipemasters seguidos em 94, 95 e 96, e arrecadando 5 títulos mundiais consecutivos, um feito único, até hoje não igualado.

1995 foi o ano de um dos heats mais lendários da história do surf competitivo. Numa Pipeline com ondas para lá de perfeitas, o norte-americano Rob Machado, que era um dos melhores amigos de Kelly Slater, apresentava-se a esta etapa (que era a última do ano) como líder do ranking mundial, e acaba por defrontar Slater nas meias finais. A vitória de Rob garantir-lhe-ia automaticamente o título mundial, enquanto que Kelly teria que ir à final e vencer o evento para o conquistar. Até determinado momento Kelly liderava o heat, mas Rob estava taco a taco, quando apanha uma das melhores ondas e executa um tubo perfeito, que o iria seguramente colocar na liderança. No momento em que está a sair do tubo, Kelly estica os braços no ar de forma entusiástica, celebrando a onda do seu amigo, que ao invés de sair por detrás da onda, e assegurar a prioridade, manteve-se na onda para dar o high five mais famoso, e controverso da história do surf mundial. Resumidamente, Slater ganha a prioridade, e apanha a onda seguinte que acabaria por lhe dar a vitória sobre Machado, lançando uma discussão eterna, se Slater teria feito de propósito, ou se estava apenas a celebrar o grande momento do seu amigo.

 

 

 

1996, nova vitória expressiva de Kelly Slater, novo título mundial. Com performance sobre performance histórica.

 

 

 

97 é a vez do lendário powehouse havaino Johny “Boy” Gomez deixar a sua marca na história.

No ano seguinte seria a vez do australiano Jake “the snake” Peterson, aquele que mais tarde viria a ser treinador de grandes nomes como Stephanie Gilmore, Ethan Ewing, Griffin Colapinto, Kanoa Igarashi entre outros, a conquistar o troféu.

 

A «reforma» de Kelly Slater

 

Depois anos de absoluta glória, um ainda jovem Kelly Slater, decide retirar-se do Tour em 1998. Kelly acaba por se dedicar mais à sua vertente musical, com a banda The Surfers, que contava  com Rob Machado, o surfista que acabámos de mencionar no na história do high five mais famoso da história do surf. Curisosamente qual título do album dos The Surfers? "Songs from the Pipe."

Em 1999 um kelly Slater semi-reformado, voltaria a vencer o evento, no ano em que Mark Occhilupo atinge o seu primeiro e único título mundial da carreira. Este campeonato acabou por ficar célebre, sobretudo por uma nova manobra radical que viria a redefinir os limites sobre o surf de alta performance. O primeiro rodeo clown da história. E o curioso é que a manobra nem sequer ficou 100% completa, pois Kelly Slater (quem mais poderia ser?), depois de deixar o mundo de queixo caído com o seu voo invertido, em rotação de 360 graus, acaba por cair, já depois de aterrar, na base da onda. Talvez o próprio tenha ficado estarrecido consigo mesmo.

Em 2000, já sem Slater no Tour, Rob Machado vence finalmente o Pipeline Masters, numa final onde não deu hipótese ao australiano Michael Lowe. O mundo assistia agora à ascensão do jovem Andy Irons, que neste evento chegava já aos quartos de final, perdendo apenas para campeão Rob Machado.

 

 

Rob Machado em Pipeline ano 2000, quartos de final vs Andy Irons.

 

Em 2001 o outro irmão Irons, Bruce surpeende tudo e todos ao vencer de forma categórica o campeonato frente a «Jimmy Slade» aka Kelly Slater (personagem da Baywatch interpretada por Slater entre os anos de 1992 e 93). Este campeonato ficaria também marcado pela grave lesão de Michael Ho, logo no primeiro heat onde após um drop mal executado o havaiano é trucidado pela onda, deslocando o seu ombro esquerdo. O ano de 2001 ano ficaria ainda para sempre tragicamente marcado pelos atentados terroristas do 11 de Setembro, encurtando o Tour para 5 paragens, e sagrando o americano C.J. Hobgood como campeão do mundo.

 

Hoje a crónica fica por aqui. Amanhã será lançada a parte III, onde iremos explorar a ascenção de Andy Irons entre outros temas. Acompanhem-nos nesta crónica exclusiva sobre a história de Pipeline.

A parte I do artigo, pode ser lida aqui.

 

 

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