Uma breve história do campeonato de surf de Pipeline (parte 3)
Uma história em 4 partes sobre o campeonato mais importante para o mundo do surf
Parte Três.
A gloriosa época de Andy Irons, e a maior rivalidade da história
Em 2002, ainda com um Kelly Slater a meio-gás regressado ao Tour, o surfista havaiano de 24 anos, Andy Irons, inspirado e até «picado» pela vitória do seu irmão Bruce no ano anterior, conquista o seu primeiro Pipemasters, junta-lhe a Triple Crown, e ainda o título de campeão mundial. “E o North Shore pertence aos locais” – Do filme “Rise Above.”
O mundo nunca mais voltaria a ser o mesmo. Seria apenas a segunda vez que teríamos como campeões de Pipeline dois irmãos (antes tivemos Derek e Michael Ho). Curiosamente em ambos os casos, os irmãos eram havaianos.
Durante toda a época Kelly e Andy não se cruzaram em nenhum heat, até à final. E sua famosa rivalidade estava apenas a nascer. Antes de entrarem na água, fica na história um dos momentos mais marcantes de todo o surf competitivo. Kelly Slater aproxima-se de Andy Irons, e diz-lhe “eu adoro-te meu, boa sorte!
Kelly até hoje defende que foi genuíno, num ano em que se viu marcado pela morte do seu pai. Já Andy sentiu aquelas palavras, com um jogo mental de Kelly Slater, com o objectivo de o afectar naquela final.
No ano seguinte, desafiado pela meteórica ascensão deste surfista magnífico chamado Andy Irons, Kelly Slater atira-se novamente ao Tour a 100%, fazendo uma época brilhante vencendo os eventos de Jeffrey’s Bay, Teahupoo, Mundaka, e Florianópolis. Mas com Irons a responder com Bells Beach, Tavarua, Japão, e Hossegor, a disputa pelo título mundial estava taco a taco. Seria mais um ano, onde Pipeline iria decidir o novo campeão do mundo. Que seria decidido uma vez mais nos momentos derradeiros na final em Pipeline. Em 2003 foi instituído um novo critério, de contar apenas as duas melhores ondas. E Andy vence novamente, sagrando-se também bicampeão mundial, naquela que foi uma das derrotas mais duras para Kelly Slater.
Desta vez, 10 dias antes da competição o evento ficaria marcado novamente, por acontecimentos fora de água, quando Kelly Slater supostamente procurando Damien Hobgood, «invade» a Red Bull House, a «casa forte» de Andy Irons que é surpreendido na cozinha pela presença de Kelly Slater, naquela que é considerada mais uma jogada mental do actual 11 vezes campeão do mundo.
Foto: Steve Sherman
Em 2004, é a vez do o famoso local de Pipeline com apenas 18 anos, Jaimie O’Brien – sim o mesmo Jaimie, que tinha «levado emprestada», uns anos antes, a famosa prancha cor-de-rosa de Tom Caroll - de vencer o evento, dominando por completo uma final composta 100% por havaianos, em condições completamente glass entre os 2, e os 2,5 metros. Andy Irons sagra-se tri-campeão mundial, um jovem Joel Parkinson é vice-campeão, e Kelly assegura “apenas” o terceiro lugar no ranking.
2005 e 2006, Pipeline pertence novamente a Andy Irons que se tornara já um verdadeiro mestre nesta onda desafiante. Contudo, em termos de títulos mundiais, as coisas invertem-se em 2005, quando Slater assegura a vitória, nos últimos 35 segundos da final em Jeffreys Bay, vencendo marginalmente Irons. Kelly somava assim mais dois títulos mundiais.
Uma nova geração australiana, e a queda de um herói.
No ano de 2007, chega uma nova era, a dos miúdos de Coolaganta na Austrália, onde se destacam sobretudo Mick Fanning e Joel Parkinson.
A final em Pipeline, conta com os 3 australianos, Bede Durbidge, Dean Morrison, e Joel Parkinson, com o outro spot ocupado pelo powerhouse havaiano Pancho Sullivan. A vitória seria de Bede Durbidge. E o título mundial iria para Mick Fanning. Um incaracterístico Andy Irons, inicia o seu percurso desdente, caindo para número 6 mundial.
2008 é um ano de domínio absoluto de Kelly Slater, que vencendo 6 das 11 etapas mundiais, sagra-se novamente campeão do mundo. Uma dessas etapas foi a de Pipeline, já com a mudança de formato, onde todos os heats, incluindo a final passam a ser man-on-man. De registar também que foi nesse ano, que pela primeira vez alguma realizou um «heat perfeito», conseguido dois 10’s perfeitos. E esse feito pertence a Joel Parkison.
Joel Parkison numa espetacular direita de Backdoor, em 2008.
2009, é um ano novamente «australiano» com a vitória em Pipeline de Taj Burrow frente a Kelly Slater, e com título mundial a ir para Mick Fanning.
2010, é o ano que fica marcado pela tragédia da morte de tri-campeão mundial Andy Irons, a 2 de Novembro, em Dallas no Texas. O evento de Pipeline passaria então a ser celebrado em memória de Andy Irons.
O Francês Jeremy Irons faz história ao vencer na final aquele que se sagrava uma vez mais campeão do mundo, Kelly Slater. Jeremy torna-se assim primeiro francês e o primeiro europeu a vencer Pipeline, arrecadando o prémio de 75 mil dólares.
2011 é a ano da vitória do australiano Kieren Perrow, e 2012 a primeira a única de Joel Parkinson em Pipeline, ano em que também consagra como campeão mundial.
2013 nova vitória do inexplicável Kelly Slater, já com 39 anos. Mick Fanning arrecada o seu 3º título mundial.
Hoje a crónica fica por aqui. Amanhã será lançada a 4ª e última parte. Acompanhem-nos nesta crónica exclusiva sobre a história de Pipeline.
A parte I do artigo, pode ser lida aqui.
A parte II do artigo pode ser lida aqui.