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Ruy Morais, um jovem talento que faz 1000 km todos os fins de semana para surfar
Nesta entrevista, Ruy partilha a sua trajetória, os desafios que enfrenta e os sonhos que alimentam a sua jornada no surf.
Com apenas 14 anos, Ruy Hurtado de Mendoza Morais já demonstra uma determinação impressionante para alcançar os seus objetivos no surf de competição. Nascido em Málaga, mas com raízes portuguesas no Algarve, Ruy equilibra uma rotina exigente entre os estudos, treinos e longas viagens em busca das melhores ondas.
Ao contrário de muitos jovens surfistas que crescem junto a ondas consistentes, Ruy precisa de percorrer mais de 1000 km todos os fins de semana para treinar no Atlântico, o que reforça ainda mais a sua dedicação ao desporto. Entre a paixão pelas pranchas, o apoio familiar e a disciplina rigorosa dentro e fora da água, ele tem vindo a destacar-se tanto em Espanha quanto em Portugal.
Nesta entrevista, Ruy partilha a sua trajetória, os desafios que enfrenta e os sonhos que alimentam a sua jornada no surf.
Podes contar-nos um pouco sobre ti? Como começou a tua paixão pelo surf?
O meu nome é Ruy Hurtado de Mendoza Morais, fiz 14 anos no dia 9 de março e nasci em Málaga, Andaluzia. O meu pai é do Algarve, Portugal, e a minha mãe é espanhola. Desde muito pequeno sempre estive conectado com o mar, pranchas e ondas. Em Málaga, as ondas são boas para começar, pois o mar tem menos energia que o Atlântico, sendo mais suaves, como "Coca-Cola". Aos 4 anos, o meu pai lançou-me numa prancha 7.6 de SUP Waves e deslizei até à beira-mar. Esse dia marcou-me para sempre.
Aos 10 anos, num verão na Costa da Caparica após a pandemia, vi muitos miúdos da minha idade a fazerem surf e fiquei super motivado. Inscrevi-me no campeonato Matta Game On, onde vi jovens surfistas patrocinados por grandes marcas. A partir desse momento, decidi que queria seguir esse caminho.

Fazer 1000 km todos os fins de semana para surfar não é para qualquer um. Como é a tua rotina entre os estudos, os treinos e as viagens?
Sim, são muitas horas de carro, mas sei que preciso desse esforço para evoluir e estar entre os melhores rankings nacionais em Espanha e Portugal. Durante a semana, estudo em Málaga até às 17h. Às sextas-feiras, o meu pai ou a minha mãe vão buscar-me ao colégio por volta das 12h ou 13h e seguimos viagem de cinco horas até à Carrapateira, no Algarve. Muitas vezes, troco o uniforme escolar pelo neoprene e vou direto para a água.
Aproveito as viagens para estudar e fazer os trabalhos de casa. Os treinos durante a semana incluem natação e exercícios de core e elasticidade. Treino natação com atletas federados e faço exercícios físicos em casa através de apps no iPad.
Muitos jovens surfistas têm boas ondas à porta de casa, mas nem sempre aproveitam. O que achas que te diferencia e te mantém tão motivado?
A maior diferença é que, por viver em Málaga, onde há menos ondas, preciso de aproveitar ao máximo os fins de semana. Durante a semana, foco-me na parte física e mental, assistindo a vídeos e estudando técnicas. Quando chega sexta-feira, tenho de estar a 200% para treinar e evoluir.
Muitos surfistas que vivem perto das ondas acabam por relaxar e não dar valor ao que têm. A disciplina é o que marca o destino de cada um.

O teu pai tem uma grande ligação ao surf. Como é essa dinâmica entre vocês nas viagens e no dia a dia?
O meu pai surfa há mais de 35 anos e já deu aulas na Praia do Amado. Ele conhece muito bem as condições do mar e ajudou-me bastante a evoluir. Inicialmente, eu não ouvia muito os seus conselhos, mas, ao treinar com outros técnicos, percebi que ele já me dizia as mesmas coisas. Hoje, somos uma equipa, e apesar de algumas discussões, remamos sempre na mesma direção.
Como lidas com o cansaço físico e mental de uma rotina tão intensa?
O desgaste físico é grande, com viagens longas e muitas horas de treino. Por isso, dou prioridade ao descanso, durmo pelo menos 10 horas por noite e tenho uma alimentação equilibrada. Mentalmente, sinto-me bem e gosto de competir. Curiosamente, o que me cansa mais é o tempo passado no iPad ou no telemóvel, seja nas redes sociais ou a jogar TrueSurf.

Treinas natação e fazes exercícios específicos para o surf. Sentes que essa preparação fora de água te dá vantagem competitiva?
Sim, a natação foi essencial para melhorar o meu cardio e resistência. Treinar com atletas federados deixa-me exausto, mas faz toda a diferença nas competições. Quando o mar está grande e desordenado, sinto os benefícios desses treinos. Também faço exercícios de core e elasticidade em casa.
Tens algum surfista que te inspire? Quem são as tuas referências no surf?
Sim! Desde os 10 anos, admiro o Hugo Ortega, um surfista de Barcelona com um estilo técnico incrível. Ele faz tubos e aéreos espetaculares e, sempre que posso, troco ideias com ele quando surfa em Sagres. Também gosto de Noah Beschen, Ethan Ewing e os clássicos Tom Carroll e Occy pelo power surf.

O que dirias a outros jovens surfistas que, às vezes, desmotivam por causa de condições menos perfeitas ou da preguiça de se deslocarem?
Diria que antes de reclamarem das ondas ou do tempo, lembrem-se que há sempre alguém em condições piores e que adoraria ter as oportunidades que desperdiçam. O surf é como um comboio que passa a toda a velocidade: se não entrarem a tempo, podem perder a chance de chegar ao destino desejado.
Quais são os teus objetivos para o futuro no surf? Algum campeonato em que queiras brilhar?
Quero tornar-me o surfista mais técnico possível e minimizar os meus erros. No futuro, gostava de vencer um Rip Curl Grom Search ou um Eurokids.
Para terminar, que conselho darias a jovens surfistas que sonham em levar o surf a sério?
Querer é poder! Disciplina física e mental, dia após dia.
Quero agradecer à SurfTotal por esta entrevista, à minha mãe e ao meu pai, aos meus avós e a todos os que me apoiam: Bullwax, Reef España, SumBum Europa, BlueBanana Brand, Pukas, Premium Wetsuits, Gara, Dreisog e TW9.