"Gabriel Medina é, de facto, um génio"
Uma análise detalhada da etapa gaulesa do Tour, pelo juiz internacional Pedro Barbosa.
Quiksilver Pro France, o centro europeu do surf durante muitos anos - a transição tem vindo a ser feita para as nossas praias -, os beach breaks de excelência com ondas que proporcionam grandes manobras e excelentes tubos, a qualidade de vida que existe nesta zona faz que seja uma paragem obrigatória no tour e um dos locais preferidos dos melhores surfistas do mundo.
Sendo uma prova da Quiksilver temos a oportunidade de ver aquele que dizem ser o melhor free surfer do mundo e o 2º surfista mais bem pago da actualidade, Dane Reynolds. Apesar de gordo e aparentemente numa forma diferente de quando esteve no tour, é claramente uma referência para qualquer surfista actual e as suas prestações vão do fabuloso ao desastre completo. Os seus vídeos são analisados meticulosamente por qualquer surfista que tenha nos seus objectivos entrar na 1ª divisão do surf mundial.
O Top 10 dos surfistas mais bem pagos do mundo
Prova complexa em termos de calls, uma vez que a variação da maré tem uma influência tremenda na qualidade das ondas, alguns heats excelentes, outros realmente difíceis para alguns atletas em termos de oportunidades. Por vezes é nestas condições que alguns surfistas mais surpreendem.
Inicio de prova com ondas de 2 metros, maré vazia e com poucas oportunidades, destaques da 1ª ronda vão para:
Julian Wilson - o melhor score do round.
John John - a melhor onda do round, o à vontade com que surfa ondas destas dimensões, os tubos que faz, carves e o ataque às junções neste tipo de condições mais difíceis fazem dele um surfista de excepção e talvez o melhor do mundo neste tipo de condições (Hossegor difícil com 2/2.5 m). Prova disso foi o show que deu em 2014 que culminou com uma brilhante vitória.
O melhor free furfer do mundo, num local de prova bem semelhante às ondas da sua terra, Ventura CA, também passou o heat com a excelente média de 17 Pontos em 20 possíveis.
Na minha opinião, para se ser o melhor do mundo é necessário o 'push' de um circuito competitivo, se não o Dane desaparecerá como aconteceu com muitos outros! O 2º Round foi dramático, realizado em condições de mar difíceis. Não me recordo de um round com scores tão baixos como neste dia. O nº 3 do mundo, Filipe Toledo, perde numa fase prematura e mostra mais uma vez que quando as condições estão difíceis e com algum tamanho o seu surf desaparece. O Slater deu um ar da sua graça e demonstrou a sua mestria nos tubos.
No 3º Round o mar baixa consideravelmente, o cenário muda de figura e os protagonistas passam a ser outros:
Maxime encosta o três vezes campeão do mundo Mick Fanning contra as cordas, e o Mick faz isto:
A 10 segundos mostra de que são feitos os campeões e com os seus Carves cheios de “finesse” faz esta onda impressionante de 9.03 e vira o resultado.
Gabriel Medina faz o score do round e começa a mostrar o melhor backside para a direita do tour, Owen é muito bom, Wilko e Wiggoly também, mas o jovem prodígio, na minha opinião, está noutro patamar. Nesta onda tem um 9.70 com uma sequência de manobras, top to bottom, com algumas a chutar o tail com speed, power and flow.
Assistimos também ao heat do evento do Bede contra o Ace Buchan. O Bede, como dizia o Rosss Williams, é um performer a dá sempre luta nos heats, nunca desiste e aparece sempre. Kelly perde contra o Kolohe e perde a possibilidade de lutar pelo título mundial. Muito provavelmente não estará presente em Portugal.
Na 4ª ronda avançam directamente para a os quartos de final, na minha opinião, os 4 melhores surfista de competição da actualidade: Julian, Fanning, Adriano e Medina.
Adriano de Sousa faz uma onda surpreendente em que acelera quase toda a onda para passar uma secção enorme, que um surfista normal não passaria. Quando chega à parede da onda faz um carve impressionante e depois mais 2 rasgadas a chutar o tail, manobras impressionantes cheias de power e finaliza com um bom layback. Os juízes dão-lhe um merecido 9.57.
Interessante ver a dinâmica dos atletas de topo nas diferentes condições. Em Trestles, claramente uma onda com menos power, a fluidez do Mick destacava-se. O Adriano e o Medina, por exemplo, pareciam ligeiramente mais lentos. Aqui essa diferença de velocidade não se notava tanto, pelo contrário, em determinados momentos foram mais determinados e expressivos do que Fanning.
O que me surpreendeu também bastante foi a diferença na performance do John John quando o mar baixou, os seus carves, que funcionam muito bem em ondas grandes, em ondas pequenas deixam muito a desejar quando comparados com um Mick ou Julian.
Nos quartos-de-final, apesar de os comentadores estarem muito focados no heat do Medina, com o John John, na minha opinião, o heat a seguir seria o do Mick contra o Bede. O Bede é uma máquina de competição, é aquele surfista que em 5 minutos tem 2 notas boas, super consistente, power e com rail. Ganhou e chegou à final o seu melhor resultado desde há algum tempo perdendo apenas com o melhor surfista do evento - Gabriel Medina.
Melhor performance/Surfista em ascensão/Surfista com factor X:
Desta vez achei que estas 3 categorias deveriam ser atribuídas ao mesmo atleta, Gabriel Medina. É de facto um génio, surf progressivo, tubos, excelente backside attack, bottoms bem cavados à espera que a onda levante para manobrar mesmo no pocket com variações de rail e a chutar o tail.
Reparem nesta onda, a execução de um bottom largo à espera que a secção levante bem para executar 2 manobras bem no pocket, super explosivas e a chutar o tail para depois fechar com mais duas muito boas. Não menos impressionante é a fluidez entre as manobras, a gerar velocidade de manobra para manobra sem qualquer desequilíbrio ou perda de velocidade. “Speed, power and flow”, se tirarmos a manobra fora de série e o tubo, esta é claramente a onda do evento e os juízes reconheceram muito bem. Bom exemplo de onda para qualquer surfista que ambicione ser profissional. Enjoy.
É de facto um surfista completo, alguns dados estatísticos: as duas notas 10 do campeonato são dele, uma com um dos melhores aéreos já vistos em competição, o avô de Medina dizia que ele tinha de ir para o ar e ele fê-lo em sua homenagem, a outra com um tubo incrível seguido de várias manobras com qualidade superior.
Os 2 scores totais mais altos do evento (19.83 e 18.70);
Surfista que mais posições subiu no TOP 10 e fica numa posição onde ainda pode ser campeão do mundo.
Nota: Apesar do Medina ter sido genial e completo, existe um surfista que ao nível da manobra individual eu gostava de destacar. Vejam a 1ª manobra nesta onda de 9 pontos do Julian. Reparem no drive desde o bottom até à manobra onde rasga com tanta pressão que conseguimos ver as quilhas….isto é para poucos‼
E tudo isto que estou a dizer obviamente depende muito do tipo de condições.
As ondas e as decisões dos calls:
Prova difícil, marés com muita amplitude, as condições variavam bastante existindo heats que, na minha opinião, ofereciam poucas oportunidades aos atletas.
O Julgamento e os casos da prova:
Excelente, nada a apontar. Talvez a melhor prova do ano em termos de julgamento. Eu dou sempre uma margem de erro porque não estou no local e existem sempre algumas diferenças, mas achei muito bom.
Próximos episódios:
Camisola Amarela continua com Mick Fanning mas está tudo em aberto, vamos ter um final de ano dos mais emotivos de sempre e o Medina pode surpreender nestes 2 últimos eventos;
Slater não vai estar em Portugal;
Vamos ter oportunidade de ver os nossos Tiago e Vasco junto dos melhores do mundo e onde eles merecem estar‼