"É impressionante a quantidade de entendidos em julgamento nos dias que correm..."
A análise do juiz Internacional Pedro Barbosa sobre a Vitória de Toledo no Oi Rio Pro...
Oi Rio Pro de volta à cidade maravilhosa e à nação que neste momento domina o surf mundial! Pela primeira vez, se não me falha a memória, chegámos às meias-finais só com surfistas brasileiros, isto é um marco no surf mundial e prova clara do domínio canarinho! A prova começou com tímidas condições, mas acabou em beleza com altas esquerdas na praia de Saquarema. Desde que a prova se mudou para esta praia, a forma como olhávamos para uma prova da primeira divisão nas ondas do Brasil mudou e nos últimos anos vários momentos ficaram gravados na nossa memória e este ano não foi exceção! Que “beleza” ver a forma como o Yago Dora surfou as esquerdas de Itaúna (Saquarema) e a categoria com que o Filipe Toledo aniquilou todos os seus adversários. As esquerdas de um metro, com uma brisa de off shore, proporcionaram do melhor surf que se tem visto nos últimos tempos da World Surf League.
Relativamente à performance dos atletas:
- Filipe Toledo esteve num outro patamar. Combina de forma perfeita o surf progressivo com um surf de rail explosivo. Com uma nota 10 unânime na final, depois de realizar um aéreo reverse gigante, Filipe mostrou toda a sua categoria e terminou a prova deixando mais uma vez muito claro que em ondas pequenas não há ninguém no mundo que lhe chegue perto, teve uma performance irrepreensível! Destacar também a sua atitude, tudo ou nada, que eleva o surf competitivo para patamares nunca antes alcançados. No entanto, para mim, o facto mais interessante é a descontração que o Filipe apresenta com os seus adversários. Na meia-final trocava opiniões de forma relaxada com o seu adversário, Yago Dora. Fica bem ver esta atitude entre os atletas de topo.
- O Yago Dora e Samuel Pupo, que fez a sua primeira final, também mostraram que o futuro do surf brasileiro na 1º divisão está garantido e que este duo ainda vai dar muitas dores de cabeça ao TOP 5 mundial. O Yago tem uma leveza, elegância e estilo de surf ao nível das grandes referências para os “patetas” (Occy, Gerry Lopez, Luke Egan e por aí fora), grande prestação e parece-me preparado para voos mais altos. O Samuel Pupo confirmou as nossas expectativas e neste momento encontra-se na disputa com Callum Roboson para Roockie of the Year!
Relativamente ao Julgamento:
Meu Deus, tanta contestação no surf mundial! Desta vez são os australianos que não ficaram satisfeitos com o amargo resultado do Jack Robinson! É impressionante a quantidade de entendidos em julgamento nos dias que correm, tanta certeza, quando nós próprios com anos de avaliação pomos em questão a precisão na atribuição de um resultado… vamos lá ver, como acontece no futebol, se não serão os treinadores o próximo bode expiatório, tornando-se como responsáveis por tudo de mau que acontece no desporto! Esperemos que não e que consigamos copiar de outras modalidades, como por exemplo o râguebi, os bons exemplos de respeito por todos os intervenientes no desporto, o surf merece. Não querendo tirar responsabilidades ao corpo técnico, volto a frisar, que em resultados próximos o mais importante é fazer o trabalho de casa para que o surf se torne mais expressivo. Por parte dos juízes sempre que existe um resultado próximo, uma posterior avaliação é feita dando inclusive direito a um relatório para que no futuro a precisão na atribuição dos resultados seja mais afinada.
Relativamente ao julgamento:
Poucos heats próximos e considero que os juízes fizeram, de uma forma geral, um bom trabalho. Fiquei, no entanto, algo surpreendido de não ter sido chamada uma interferência na meia-final do Ítalo contra o Samuel pupo!
Heats que requerem análise:
Round of 16 - Mateus Herdy contra Jack Robinson: resultado próximo, sem dúvida, mas acho que os juízes estiveram bem. O Mateus, apesar de surfar ondas mais pequenas, teve mais velocidade e troca de rail nas manobras de finalização. Nos segundos finais Jack apanha uma onda com potencial, a maior do heat, mas a primeira manobra tem quebras na linha e desequilíbrios. A este nível não me pareceu o 7.07 que precisava e os juízes estiveram bem. Mateus foi melhor no heat.
Round of 16 - Ethan Ewing contra Yago Dora: resultado efetivamente muito próximo. Consigo ver os dois resultados, eventualmente com a vitória para o australiano. No entanto, com a perspetiva live a situação pode mudar. Parece-me um resultado próximo em que ambas as situações são justificáveis. O 8.17 do Ethan é claramente a melhor onda, com diferença: uma primeira excelente manobra numa secção com intensidade combinada com uma boa finalização. A diferença para o 7.23 do Yago seria maior na minha opinião. O back up do Ethan é fraco se compararmos com o do Yago. Mais uma vez resultado próximo que poderia dar para os dois lados.
1/2 Finais - A surpresa neste heat é não ter sido chamada interferência do Ítalo sobre o Samuel Pupo, o Samuel ganhou a posição interior e quando tentava entrar na onda o Ítalo estava praticamente em cima dele afetando a sua trajetória de remada e entrada na onda. Os juízes nada marcaram e parece-me estranho porque ambos os surfistas se prejudicaram naquela situação.
Vamos agora para JBay, África do Sul. A faltarem apenas 2 provas para chegarmos ao restrito grupo do top 5 as expectativas são altas. Na minha opinião Ethan Ewing é um forte candidato e a esperança é que desabroche do seu estado mais calmo e se apresente como uma das grandes figuras do surf mundial, surf para isso não falta.