O triunfo de Miguel Pupo, o regresso de "The Hog" e o brilho dos wildcards na etapa decisiva de Teahupo'o
A análise do juíz internacional Pedro Barbosa.
MiGERRY Pupo, 10 anos depois de entrar no circuito mundial, vence a sua primeira prova na 1ª divisão e deixa a sua marca como um dos mais talentosos de sempre no circuito mundial. Já não era sem tempo, uns dos goofys com mais estilo do surf mundial, apelidado de Gerry Lopez do surf moderno, vence uma das provas mais emblemáticas em condições de luxo. Well done, Miguel.
Na minha opinião o facto mais relevante deste evento foi a fantástica performance de Nathan Edge (Hog). O seu “comeback” no heat contra Jack Robinson, a 10 minutos do fim, foi memorável e vai ficar para sempre na história da World Surf League. Como é possível um surfista com 43 anos de idade, 17 anos depois de abandonar o tour, chegar a uma prova com esta exigência técnica e arrasar toda a concorrência até ser parado a precisar de uma onda de apenas 2 pontos?! Impressionante! E a única explicação que encontro é que de facto a geração de Mick, Hog (apesar de um pouco mais velho), Andy e companhia, foi de ouro, e especialmente os jovens que embarcaram na missão “The Search” desenvolveram um go for it e nível técnico em ondas de consequência que não se verifica nos dias de hoje. Sem querer ser saudosista, precisamos mais deste espírito da procura pela onda perfeita. O investimento traz os seus resultados a longo prazo, foi um grande espetáculo! Obrigado, Hog.
Relativamente à performance dos atletas:
Desta vez tivemos um “The end of the road” com condições incríveis, o que nos permitiu acompanhar as novas estrelas do tour neste tipo de mar. Em provas anteriores os surfistas wildcards eram bastante fracos - não me recordo de um ano em que o nível fosse tão baixo, em alguns casos diria mesmo constrangedor. Onde andam os Sean Holmes, Adam Robertson, Ricardo Santos etc.? Como dizia um grande surfista português, Miguel Ruivo: “não há nada melhor do que ver um surfista local ganhar na sua praia”. Esta prova foi uma exceção este ano e teve um wildcard de alto nível. O espetáculo proporcionado por Kauli Vaast nos tubos de Teahupo'o foi de grande qualidade, não só pelo excelente conhecimento local como pela técnica que apresentava. No último dia de prova e especialmente no heat contra Kelly Slater, foi notável a forma como travava e acelerava nas diferentes secções. Nos primeiros oito minutos tinha o Slater em combinação e o seu surf demonstrou muita qualidade para um jovem de 20 anos.
Kauli Vaast. WSL / Poullenot
Relativamente aos atletas que terminaram no TOP 5, de uma forma geral, estiveram todos bem. Sem serem excepcionais, como se espera, foram competentes e confirmaram a sua vaga no restrito grupo. Filipe Toledo, apesar de fazer o seu melhor heat de sempre em ondas de consequência em Teahupo'o, não esteve à altura e tinha obrigação de fazer mais neste tipo de condições. No primeiro heat fez apenas uma onda que não chegou a 2 pontos e no round de eliminação perdeu com um surfista que deixou o tour há 17 anos. Vestir uma camisola amarela exige um patamar de bravura e atitude que estão muito associadas a um desporto onde a natureza é desafiada. Em condições de surf próximas da perfeição o número 1 do ranking tinha obrigação de ter feito mais, talento não falta!
Entre as mulheres, o surf apresentado em condições de excelência também deixou muito a desejar. Obviamente que o surf feminino precisa de fazer o seu caminho em ondas de consequência e têm de ser criadas oportunidades para que isso aconteça, mas em termos de espetáculo há muito pouco de positivo a apontar. À semelhança do do que aconteceu em Pipeline, a wildcard acabou por salvar as honras do convento. Vahine Fierro fez alguns dos tubos mais técnicos e se as condições nas meias finais fossem diferentes o resultado poderia ser melhor. A destemida Courtney Conlogue foi uma justa vencedora e foi quem mostrou mais go for it e qualidade técnica nos tubos de Teahupo'o.
Courtney Conlogue. WSL / Poullenot
Relativamente ao julgamento:
Esta é uma prova muito técnica onde praticamente apenas tubos são avaliados. Os juízes valorizam quem arranca mais no crítico, nas maiores secções, e quem consegue uma maior profundidade dentro do tubo com uma boa gestão do “foam ball”. Parece-me que fizeram um bom trabalho, atribuíram um 10 à melhor onda do evento e creio que todas as comparações, a partir desse momento, foram bem conseguidas. A onda de Matthew foi impressionante, com o arranque no limite numa secção monstruosa e directo para o tubo, super profundo e com excelente gestão do “foam ball”. 10 unânime para todos os juízes.
Heats que requerem análise:
Existe um heat cujo resultado foi muito próximo. Na minha opinião o resultado deveria ser distinto. Obviamente que no local a perspectiva pode ser diferente, mas creio que no heat de Colapinto, na ronda de 16, a sua última onda seria o 5.94 que necessitaria para passar à próxima fase. Onda com algum tamanho, atravessou uma boa secção dentro do tubo e saiu clean. Os juízes acharam que não seria o suficiente e há que dar o benefício da dúvida, uma vez que estão no local e analisam as ondas com diversos replays para que a comparação possa fazer sentido.
No heat de Slater contra Yago, apesar de próximo, consigo ver a melhor onda do Yago superior à do Slater, ao contrário do que saiu. Acho que a última de Slater é superior ao 7.44 que precisava para passar. Yago teve tubos mais intensos, em que não precisava de atrasar para se encaixar no tubo. Slater quase sempre atrasava à espera de que a secção levantasse, tubos mais longos, mas menos intensos. Tenho também algumas dúvidas neste caso.
São heats próximos, mas de uma forma geral, considero que foi um trabalho muito competente por parte do painel de juízes.
Esta prova teve a particularidade de apurar os 5 finalistas para Trestles. Acho que conseguiram encontrar os quatro melhores surfistas deste ano. Ítalo acabou por se qualificar, mas acho que Colapinto, pelo que fez durante o ano, seria também um digno finalista, e como seria bom ver o Griffin na sua praia local, o resultado seria curioso. Este foi um ano de mudança, na final vão estar dois surfistas que são menos progressivos, mas muito fortes no surf de rail. Ethan e Kanoa podem surpreender em Trestles, no entanto este ano parece que todas as estrelas vão na direção do Filipe Toledo. Que vença o melhor!