"O SURFISTA QUE MAIS SE APROXIMA DE SLATER É GABRIEL MEDINA"...PEDRO BARBOSA
Uma análise detalhada de Pedro Barbosa, à Etapa do WCT em Teahupoo, a sétima paragem do tour WSL 2015...
Teahupoʻo, Tahiti - a onda que deixa grande parte dos surfistas da World Surf League sem dormir à noite, a prova mais excitante do Tour mas que este ano ficou muito aquém das expectativas. Em Teahupo’o esperamos sempre ver condições extremas e quando isso não acontece o campeonato não tem a dimensão que se espera.
Início da prova com ondas com uns tubos, as previsões pareciam favoráveis, vários dias à espera de um swell sólido que nunca se concretizou.
PRIMEIRA RONDA:
Na primeira ronda o destaque vai claramente para o John John Florence. Após 2 eventos de fora, por lesão, chega e faz o melhor score da ronda. Isto demonstra o porquê de ser apontado como o melhor surfista do mundo neste tipo de condições.
Analisemos esta onda: arranque numa zona super crítica e intensa, directamente para o tubo e saída com controlo. 9.03.
TERCEIRA RONDA E O HEAT DO EVENTO:
A 3º ronda foi uma surpresa e os três primeiros do ranking, Adriano, Mick e o Julian, perdem os seus heats e uma boa oportunidade para se isolarem do pelotão. Em virtude deste ranking atípico, onde temos logo excelentes surfistas a defrontarem-se no 3º round, tivemos oportunidade de assistir ao heat do campeonato com o score mais alto do evento. O melhor surfista do mundo nestas condições - John John - perdeu e de forma justa, na minha opinião, com o campeão do mundo - Gabriel Medina.
Durante muitos anos andou-se à procura do próximo Kelly Slater. A Surfer fazia artigos de várias páginas apontando diversos candidatos ao trono. O sucessor apareceu de forma natural e foi facilmente reconhecido pelo Rei, opinião que é partilhada pelo seu grande amigo e que o conhece melhor do que ninguém: Shane Dorian.
Não podemos prever o futuro e tudo pode acontecer mas de facto o surfista que mais se aproxima do Kelly Slater, por mais que custe a muita gente, é o Gabriel Medina.
Voltando ao heat, a atitude mais despreocupada e menos estratega do John John saiu-lhe cara e o campeão do mundo ganhou de forma brilhante. O Medina saía de tubos de 9 pontos logo a remar para o Outside e em 5 minutos deu a volta ao heat.
ALGUNS FACTOS DO EVENTO:
• Adriano de Sousa: continua com a camisola amarela mas as suas prestações decrescem de prova para prova
• Aritz Aramburu: mais um guerreiro europeu que demonstra que é um dos melhores do mundo em esquerdas tubulares, eliminando o três vezes campeão do mundo Mick Fanning. Interessante o facto de haver um ecrã gigante na praia, em Zarautz, para acompanhar a máquina basca.
• Toledo: o melhor surfista do mundo em ondas pequenas, com mais notas de 10 pontos atribuídas neste tipo de condições, continua a ficar muito aquém daquilo que se espera para um futuro campeão do mundo e faz um heat com a pontuação total de zero pontos. Toda a “vibe” que existe à volta do Filipe cai por terra quando temos as ondas a sério do circuito.
• Joel Parkinson: está na sua pior posição de sempre.
• Medina com esta meia final entra também na corrida pelo título e se ganhar bate mais um recorde ao Slater, o sufista mais nova a ser 2 x campeão do mundo
A MELHOR PERFORMANCE:
É com muita satisfação que vejo o Jeremy ganhar esta prova. O melhor sufista europeu de sempre confirma o estatuto que tem, de ser um dos melhores tube riders do mundo. As prestações do Jeremy em Teahupoʻo nos últimos anos têm sido avassaladoras.Ganhou o Andy Irons award nun Teahupoʻo gigante e está, na minha opinião, no TOP 5 dos melhores surfistas de sempre em Teahupoʻo. A Estratégia do Jeremy foi irrepreensível, estava em sintonia com o mar e quase sempre 2 notas boas em alguns casos excelentes.
O SURFISTA FACTOR X:
O surfista com factor X tenho de eleger pela segunda vez consecutiva o Gabriel Medina. Para além de ser um excepcional tube rider consegue sempre surpreender, não só pelo surf, como pela estratégia que utiliza nos heats. Na meia final, contra o Owen, encostou-o às cordas completamente e deixou em combinação um dos grandes candidato à vitória. As palavras dos comentadores eram “Medina not giving an inch to owen” e foi isso mesmo que aconteceu. Em unidades portuguesas/internacionais não lhe deu nem 1 cm. Neste vídeo podemos ver a 2º melhor nota do evento - 9.97 (2 notas 10 e um 9.9), praticamente um 10, que por si só justifica a sua reeleição para o surfista com factor X.
O SURFISTA EM ASCENÇÃO:
Normalmente guardo esta categoria para o surfista que mais posições sobe no TOP 10, contudo achei que teria de aumentar o range e eleger o surfista que mais posições subiu no ranking 10 posições: CJ HOBGOOD. Esta nomeação tem um carinho especial e é também em jeito de despedida de um surfista que tanto deu ao circuito mundial, especialmente em esquerdas buracosas e que este ano vai deixar o circuito mundial. Não poderia deixar de fazer referência a um Campeão do Mundo, bom tipo, profissional e que na sua ultima prova em Teahupoʻo faz o único 10 do evento, mostrando a sua química com esta onda. O CJ é de facto um surfista de esquerdas poderosas em Teahupoʻo e Cloudbreak nunca ficou a dever nada a ninguém, sendo para muitos uma referência. Obrigado por tudo CJ.
AS ONDAS E AS DECISÕES DOS CALLS:
Não tivemos um Teahupoʻo de gala. Depois de muitos dias de espera o swell sólido que se esperava nunca chegou. Os call’s foram bem feitos tendo em conta as condições que estavam disponíveis.
O JULGAMENTO E OS CASOS DA PROVA:
Mais uma vez o julgamento foi excelente, os atletas que deveriam ter passado os heats passaram.
Esta é uma prova que só estando no local conseguimos ver a intensidade das ondas e a forma como são surfadas. Houve um caso que suscitou algumas dúvidas aos internautas: o 8.23 do Jeremy. Na minha opinião também me pareceu um pouco alta a nota, mas analisando em detalhe o Jeremy arrancou numa onda com intensidade, com rabeta toda a derrapar, entrou directo para o tubo, desaparece e controla muito bem a secção curta mas intensa, volta a atrasar com mais intensidade, a agarrar na parede e com o rabo e nunca fica muito profundo e faz mais um pequeno “coverup” na secção seguinte.
Os juízes comparam esta onda do Jeremy com o 8.33 do Slater onde o arranque também directo para o tubo é mais simples, mas depois o tubo é mais profundo com excelente gestão do foam ball. Creio que a separação podia ser ligeiramente maior (3 a 4 decimas, para quem vê no sofá). No entanto o resultado foi justíssimo, o próprio Slater não fez qualquer observação e quando tem argumentos não se coíbe de o fazer, e uma variação de 5 décimas não é significativo quando se julgam centenas de ondas, desde que o resultado final esteja correcto.
Aguardemos agora pela prova mais high performance do circuito, Trestles, no ano em que o ranking está mais excitante e interessante de ver.