BAÍA DE CASCAIS: “ABRIMOS O LIVRO DO TOW-IN EM PORTUGAL”
Foi há quase 9 anos. José Gregório lembra-se desta sessão épica como se fosse hoje.
Por Patrícia Tadeia
O tow-in está na ordem do dia. As tempestades também. Ultimamente têm feito capas e notícias por todas as publicações de surf, e não só, mas a verdade é que já não é de hoje que se fala do tema. Em 2005, Cascais – sim, Cascais! – recebia um swell gigante e uma sessão histórica de tow-in. Por lá estava José Gregório, e não só. Fomos perceber como foi este dia que podes recordar no vídeo acima.
O que recorda desse dia?
O que mais me lembro ainda hoje, passados quase 10 anos, foi a ansiedade durante a semana que precedeu o swell. Lembro-me perfeitamente de estar a combinar tudo com o Peyo Lizarazu, que era e é muito meu amigo, de falarmos ao telefone que ia ser uma das maiores tempestades de sempre do Atlântico e que apesar do vento norte tínhamos absolutamente de encontrar um sítio onde desse para surfar umas ondas realmente grandes. Depois de vermos o mar na Ericeira, no cabo raso, e também tínhamos uma pessoa a “checkar” a Consolação ficámos um pouco desmotivados porque o vento estava a afectar todos esses spots. Parámos no farol da Guia para ver os sets e, para surpresa nossa, o mar estava tão grande que começámos a ver umas linhas em direção à marina. Fomos ver. Mal chegámos vimos um set enorme e tão perfeito que entrámos logo para dentro de água. Atenção que, em 2005, os limites eram muito diferentes de hoje em dia, o set que vimos devia ter uns 6 metros, e hoje, depois de tudo o que foi feito na Nazaré, e noutros sítios essas já nem são consideradas ondas grandes.
Como foi a experiência?
Senti-me no topo do mundo nesse dia, apanhámos ondas incríveis, partilhámos experiências inesquecíveis com os nossos amigos franceses, que já nessa altura tinham surfado Belharra enorme, mas acima de tudo acho que abrimos o livro do tow-in em Portugal, foi o dia que, há uns anos, mais marcou o panorama das ondas grandes no nosso país.
Quem esteve lá consigo?
Eu estava na mota com o Paulo do Bairro, mas dentro de água estiveram também o Peyo Lizarazu com o Max Larrache, o Vincent Lartizien com o Yan Benetrix e o Saca que teve um piloto a sua disposição o dia todo, o Francois Lietz. Houve ainda um pessoal que alugou um iate para ir tirar fotos e filmagens que ficou muito perto do pico, lembro-me que nesse barco havia o meu amigo operador de câmera, o Fortes, o João Valente e mais alguns. Ainda apanharam um bom susto quando um set maior quase apanhava o barco. Foi sem dúvida um dia de histórias para depois contar.
É para repetir?
Já me fiz esta pergunta a mim mesmo várias vezes, porque aquele dia sem dúvida que me marcou muito e adorei a experiência, mas acho que hoje em dia o objetivo são mesmo sítios novos ou ondas realmente grandes. Não sei se mais algum dia vamos acabar na baía de Cascais…
Nessa altura pouco se falava de tow-in, comparando com agora. Como foi nessa altura? O que se dizia do tow-in?
Recordo-me da abertura do telejornal da TVI nessa noite que começava assim: “Mar destrói casas e barcos na Cova do Vapor, e surfistas aproveitam as ondas grandes em Cascais com ajuda das motas de água”. Havia uma fila de mais ou menos 2 km nessa tarde entre o Estoril e a Boca do Inferno só para verem os surfistas naquelas ondas. Ninguém sabia que se podia fazer surf com uma mota de água nem sabiam para que isso servia. Até eu sabia muito pouco apesar de já termos perdido a mota numas quantas ocasiões. Foi um dos eventos do ano no nosso meio do surf e um marco na história deste desporto em Portugal. Na altura ainda ficámos apreensivos que se iam utilizar as motas para surfar ondas vulgares. Agora, passados estes anos, já se viu que até em ondas monstruosas se vai na remada. O surf de ondas grandes foi talvez a variante do nosso desporto que mais evoluiu. Acho mesmo que se está a tornar cada vez mais espetacular e mediático.