Dezenas de casos de gatroentrite têm vindo a afectar surfistas e banhistas nas Praias de São Salvador e Matosinhos
Qual será o foco de poluição principal que dá origem a estes casos?
São dezenas senão centenas de casos de gatroentrite que têm vindo a acontecer a surfistas e banhistas que têm frequentado durante a ultima quinzena de Agosto as Praias de São Salvador e Matosinhos. O caso tem tido muita repercussão na comunidade de surf local onde nomes como o fotógrafo Tó Mané e o longboarder Martim Cabral Machado, deixaram os seus testemunhos à Surftotal, sendo que inclusive no grupo de facebook "Porto Expats", onde as pessoas expatriadas que residem em Portugal se apoiam mutuamente, descrevem casos que após terem frequentado a Praia de Matosinhos se sentem mal, tal como se pode ler neste "print screen daquele grupo" abaixo:
Conversa Porto Expats datada de dia 25 de Agosto de 2022:
O certo é que as Praias de Matosinhos e de São Salvador possuem com frequência informação de desaconselhamento a banhos, ou seja nessas ocasiões não se deverá entrar na agua do mar quer seja para banhos quer seja para a prática do Surf ou do seu ensino.
Placa existente a desaconselhar a ida a banhos na Praia de São Salvador.
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A Surftotal para além de falar com diversas pessoas afectadas por esta vaga de gastroentrites falou também com Humberto Silva, surfista e Presidente da Direção da Associação Cívica 'Viver Matosinhos' que se mostra francamente preocupado, tendo inclusive enviado um email que passamos a citar abaixo à Presidente da INDAQUA dia 26 de Agosto. Podemos observar no gráfico abaixo o acréscimo significativo de E Coli e Enterococos intestinais durante esta ultima quinzena de Agosto:
Gráfico que refere os valores de Enterococos Intestinais e E Coli durante esta época balnear de 2022. Aqui podemos ver um acréscimo significativo entre os dias 16 e 26 de Agosto de 2022
Email que passamos a citar à Presidente da APA (Agência Portuguesa do Ambiente) dia 26 de Agosto:
"Ex.ma Dra. Inês Andrade,Na qualidade de presidente da direção da associação cívica 'Viver Matosinhos' mas também como cidadão preocupado, venho por este meio pedir-lhe encarecidamente esclarecimentos sobre o recente desaconselhamento de banhos na Praia de Matosinhos.
A Praia de Matosinhos tem um historial de vários episódios de valores microbiológicos acima dos valores de referência, sendo que na sua maioria são causadas durante os períodos de chuva dada a existência de um exutor a céu aberto que coleta as águas de escorrência, introduzindo-as na rede pluvial e que são largadas sem qualquer controlo no areal, e inevitavelmente no mar; mas também por alguns ocasionais episódios relacionados com as estruturas de tratamento de águas.Sendo que as análises que levaram ao referido desaconselhamento reportam ao dia 24 de agosto, e que sabemos com toda a certeza que a chuva nada teve que ver com esta ocorrência específica, questiono-lhe:
1. Existe alguma comunicação por parte da INDAQUA sobre operações de manutenção e/ou mau funcionamento da sua ETAR e/ou das suas estações elevatórias?
2. Caso exista essa comunicação, não deveria ser aplicado, por princípio de precaução, um desaconselhamento de banhos no momento em que essas operações/mau funcionamento tivesse(m) dado início?
3. De acordo com os gráficos dos resultados das análises disponíveis no vosso site - em anexo - existem valores elevados (ainda que abaixo dos valores de referência) desde o dia 04 de julho, pelo que é pertinente concluir que existe uma fonte que de forma sistemática tem contribuído para maus resultados microbiológicos. Essa fonte está identificada pela vossa agência?
Agradeço desde já a disponibilidade, com a certeza de que este contacto merecerá a sua melhor atenção.Despeço-me cordialmente,
Humberto Silva"
Qual será o foco ou focos de poluição constantes na Praia de Matosinhos?
Os Cidadãos frequentadores assíduos da Praia de Matosinhos para a prática de Surf apontam de imediato dois focos principais:
Um é a chamada Ribeira da Riguinha que desagua na Praia de Matosinhos ao lados do Vagas Bar. Esta linha de agua desagua constantemente na Praia de Matosinhos e diz-se ser um dos principais focos de poluição. Em situações semelhantes de outras Autarquias Nacionais, estas ultimas optaram por canalizar para alto mar o conteúdo deste tipo de Ribeiras, fazendo com que as suas Praias não fiquem directamente afectadas por um potencial foco de poluição.
Outros focos de poluição são indubitavelmente o Rio Leça que desagua em Matosinhos, tendo sido já considerado em tempos o Rio mais poluído da Europa, assim como o tráfego de grandes navios que diariamente passam pelo Porto de Leixões. Também durante os últimos dias e conforme noticia avançada pela Surftotal, a maior draga da Europa encontra-se a retirar areias da entrada do Porto de Leixões assim como ao largo da Praia de Matosinhos por forma a permitir a navegabilidade para Navios de grande Porte.
Ou seja há aqui diversos pontos que podem estar a fazer com que as aguas da Praia de Matosinhos e São Salvador estejam a passar por um momento de maior poluição e que merecem atenção por parte das entidades competentes por forma a salvaguardar a saúde dos Cidadãos que frequentam e usufruem destas Praias.
Também quem deveria dar o exemplo, segundo Humberto Silva, seria a comunidade local de surf, começando pelas Escolas de Surf que se deveriam unir e pedir explicações às entidades competentes, não dando inclusive aulas de surf, pois acabam por estar a por em perigo a saúde dos seus alunos e a dar um mau exemplo da nossa comunidade:
"Para além de tudo, a comunidade surfista também precisa de ser mais unida quando o tema é a preservação das praias: não faz sentido termos escolas a continuar a dar aulas com um desaconselhamento em vigor. Se nós, que vivemos do mar e para o mar, não nos damos ao respeito, não podemos esperar que as entidades com responsabilidades no assunto o façam...." Humberto Silva