A bodyboarder Teresa Sukienik, local de Santa Catarina, no Brasil, denunciou uma situação em que o machismo se aliou ao localismo durante uma surfada na Praia do Silveira. Segundo o relato de Teresa , a bodyboarder estava na água com uma amiga, e na areia o instrutor filmava o treino, quando Fellipe Ximenes, surfista profissional, a dropinou em duas ondas. Teresa afirma não ter dito nada, mas que a sua amiga pediu que ele a deixasse apanhar ondas, o que levou o surfista a começar a gritar com elas. 

Teresa conta que a discussão continuou mesmo depois de saírem da água: “Ele continuou na areia, veio para cima de mim e quase me bateu. Ele punha o dedo na minha cara e dizia: 'se tu és mulher, tu ficas quieta agora, se me prejudicares vais ver o que é bom'". A bodyboarder relata que os amigos do surfista apareceram, e acredita que, se não tivessem aparecido, ela poderia ter sido agredida fisicamente. Para Teresa, foi uma situação "traumática", que fez com que sentisse necessidade de apresentar queixa contra Fellipe. Conta ainda que recebeu várias chamadas dele, mas que não atendeu nenhuma. 

André Carvalho, o instrutor que viu o desenrolar da cena na areia, confirma que Teresa foi dropinada duas vezes "de forma bruta". André ainda conta que o Fellipe o ameaçou, dizendo: “Não passes imagem minha que vá me prejudicar, senão vais ver". Para o instrutor, o ocorrido não teve somente a ver com localismo, e acredita que o machismo também foi um factor: "o facto delas serem mulheres aumentou a raiva dele, no meu ponto de vista". Outro dos insultos que André recorda ouvir Fellipe a proferir foi o seguinte: "Elas vêm surfar aqui, essas mulheres, não sei se elas colam velcro ou não”. Este último tem acrescido um claro teor homofóbico. 

Imagens recolhidas por André Carvalho onde se vê Teresa a ser dropinada por Fellipe.

André defende a reputação de Teresa, afirmando que ela é um "ícone em Santa Teresa, super respeitada (...). Dentro da modalidade e no sul do Brasil ela tem uma representatividade muito grande nesse nosso universo”. A própria bodyboarder considera que tem uma reputação "excelente", admitindo que a única outra situação polémica pela qual passou foi com um amigo de Fellipe. Comenta ainda o apoio que tem recebido nas redes sociais após ter decidido comentar o caso publicamente: "As pessoas estão a apoiar-me. Estou no mar, também a querer surfar de igual para igual, e eles não suportam isso”. 

A resposta de Fellipe Ximenes

O surfista respondeu às acusações através de um comunicado em que afirma que "todas as acusações realizadas não condizem com a realidade". Fellipe e a sua equipe declaram não compactuar "com qualquer tipo de violência ou discriminação, seja no desporto ou fora dele, de modo que as acusações proferidas são direcionadas para uma pessoa e um profissional íntegro, pai de família e que sempre tratou sua esposa e todas as mulheres, na vida e no esporte, com muito respeito."

Para Fellipe, o seu único erro foi "uma interferência em uma onda", algo que, segundo ele, "não foi de maneira proposital, pois o atleta (...) em nenhum momento percebeu a presença da surfista Teresa, não se tratando, nem na mais remota hipótese, de qualquer perseguição direcionada a outro profissional".