Shamali Sanjaya a surfar Shamali Sanjaya a surfar @abay_girls_surf_club quarta-feira, 23 março 2022 18:22

As mulheres do Sri Lanka e o surf contra o mundo

A revolução feminina no surf no Sri Lanka tem nomes e rostos. Um testemunho na primeira pessoa.

 

Enquanto a nível mundial se vai igualando os prize-money e conduzindo o surf a uma cultura mais igualitária entre géneros, no Sri Lanka, a luta é feita em escalões mais abaixo onde o surf feminino ainda é olhado com alguma delicadeza. No entanto, há uma linha de vitórias que separa o passado do presente.

Num dia que remonta ao ano de 2011, Shamali Sanjaya mal sabia que o fruto proibido, que já era o mais apetecido, ia tornar-se parte do seu dia-a-dia. Quando a nova vizinha surfista, Tiffany Carothers, acabada de chegar da Califórnia a convidou para surfar, nem o facto de não ter prancha ou só ter experimentado uma vez serviu de desculpa.

“Quando eu surfo, é uma sensação tão feliz para mim”, disse. “Fico cheia dessa energia e sinto-me tão forte. A vida está recheada de todas essas dores de cabeça e problemas, mas assim que entro na água, esqueço tudo”, contou ao jornal britânico, The Guardian.

 

 

O surf não era novidade para a jovem, que na altura tinha 23 anos, sobretudo porque nasceu rodeada de pranchas cuja propriedade pertencia ao pai e irmão. Até Tiffany Carothers se cruzar no seu caminho, por si passavam homens ou estrangeiras com pranchas debaixo do braço, enquanto se sentava em Arugam Bay, a viver o surf como podia.

“O meu irmão disse-me que não faz parte da nossa cultura as mulheres surfarem, que eu deveria ficar em casa a cozinhar e limpar”, disse Sanjaya.

O desejo efervescente de deslizar nas ondas foi-se proliferando após a realização de um evento, organizado por Tiffany e Shamali, que passou a ser semanal, para ensinar mais locais femininas e contrariar os tabus colados ao receio de que se levasse uma vida de ociosidade e desrespeito para com a cultura. Carothers foi, inclusive, dissuadida de dar as aulas correndo o risco de ser obrigada a sair juntamente com a família do Sri Lanka.

“Eles acusaram-me de tentar mudar a cultura pois as meninas no Sri Lanka não surfam e se eu quisesse ajudar as suas famílias deveria dar-lhes máquinas de costura”

Seis anos haviam passado quando nasceu a Federação de Surf do Sri Lanka e em agosto de 2018 foi dado vida ao primeiro clube de surf feminino no país, o Arugam Bay Girls Surf Club que conta atualmente com cerca de 12 jovens entre os 13 e os 43 anos.

 

Shamali Sanjaya quando competiu em 2020 na primeira categoria feminina do Sri Lanka integrada numa competição nacional de surf

 

Pé anté pé, foram conquistando os olhares desaprovadores, fortalecendo os argumentos para justificar porque é que o surf não desrespeita a cultura e deve ser um direito geral. Ainda com réstias de estranheza, já é aceite com mais naturalidade.

O final da reportagem do The Guardian dá conta que para Sanjaya, com atualmente 34 anos, “o seu maior triunfo foi ganhar a aprovação do seu irmão. Em Main Point, onde as ondas costumam ter dois metros de altura, o par pode ser visto a surfar juntos.”

 

"Feliz aniversário à Presidente do nosso clube @shamalisurf!!! Somos tão gratas pelo impacto que tiveste no surf feminino do Sri Lanka. Nós amamos-te", pode ler-se numa publicação de Instagram da página do Clube de Surf Feminino, Arugam Bay Girls Surf Club.

 

Itens relacionados

Perfil em destaque

Scroll To Top