Alterações climáticas estão a trazer tubarões para a superfície
pressionados pela desoxigenação do oceano profundo...
O oxigénio dissolvido na água está a diminuir
O oxigénio dissolvido na água está a diminuir o que está a provocar a desoxigenação dos oceanos e como consequência empurrar os tubarões no Atlântico para a superfície.
Zonas de oxigénio mínimo em expansão e a forma como comprimem o habitat dos tubarões estão a ser estudadas por investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), da Universidade de Lisboa, e do Centro de Investigação de Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), da Universidade do Porto, assim como cientistas de institutos em Inglaterra e Espanha.
A expansão destas zonas está a ser provocada pelas alterações climáticas, que estão a levar a um ao aquecimento da temperatura do mar, aumento da estratificação e alteração da circulação, e às interações desses processos com a atividade biológica indutora de hipoxia.
Segundo a NetGeo, o alargamento dessas zonas pode ter implicações significativas para a ecologia e pesca de predadores de topo, uma vez que se espera que camadas hipóxicas de cardumes comprimam o habitat de peixes pelágicos, ou seja, espécies que vivem na zona pelágica (nem perto do fundo, nem perto da costa).
A desoxigenação impulsionada pelo clima eleva a vulnerabilidade à pesca de tubarão-azul
Segundo um estudo levado a cabo pelos cientistas, prevê-se que as expansões de zonas hipóxicas oceânicas causadas pelo clima concentrem peixes pelágicos em camadas superficiais oxigenadas, mas ainda não se sabe como a hipóxia em expansão e a pesca irão interagir para afetar os tubarões pelágicos ameaçados.
A análise de tubarões azuis rastreados por satélite e modelagem ambiental na zona de oxigênio mínimo do Atlântico tropical oriental mostra que as profundidades máximas de mergulho dos tubarões diminuíram devido aos efeitos combinados da diminuição do oxigênio dissolvido na profundidade, altas temperaturas da superfície do mar e o aumento da produção primária líquida da camada superficial. Vários fatores associados à desoxigenação impulsionada pelo clima contribuíram para a compressão vertical do habitat do tubarão-azul, aumentando potencialmente a sua vulnerabilidade à pesca de superfície.
Tubarões na costa portuguesa e a captura do tubarão-azul
Segundo Nuno Queiroz, investigador do CIBIO-InBIO e co-autor do estudo, existem cerca de 40 espécies de tubarões na costa portuguesa, sendo as mais comuns o tubarão-azul, o tubarão-anequim, a pata-roxa e muitas espécies de águas profundas como o carocho e o barroso. Os anequins são sobretudo migradores, mas espécies de alto-mar como o tubarão-azul também usam a nossa costa como berçário – local onde os tubarões dão à luz.
O tubarão-azul perfaz, aproximadamente, 90% do total das capturas reportadas no Atlântico e, no entanto, está classificado como “Quase Ameaçada” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), tendo poucas restrições à sua captura a nível mundial.
Estratégias de proteção
Para o cientista, há algumas estratégias de proteção que poderão ser implementadas. Em relação à pesca comercial podem-se criar quotas de pesca, uma vez que actualmente não existem limites à pesca do tubarão-azul, embora haja intenção de as impor, ou identificar zonas onde a sobreposição com as frotas de pesca é maior e criar zonas de protecção marinha, inclusivamente no mar português. Em relação às alterações climáticas serão sobretudo importantes medidas de longo termo que levem à diminuição, ou pelo menos estabilização, da temperatura média global.