Bruno 'Bubas' Charneca recorda como foi a primeira etapa do WCT em Portugal

O homem que bateu Kelly Slater no Coca-Cola Figueira 1996 - a primeira etapa WCT em Portugal - recorda como foi esse evento marcante e deixa algumas opiniões bem interessantes sobre a evolução do surf nacional.

 

 

 

O ano:1996; o local: Figueira da Foz; a ocasião: o primeiro evento do World Championsip Tour a disputar-se no nosso país, o Coca Cola Figueira, 12ª etapa dessa época, disputada entre 1 e 8 de outubro. Um dos momentos mais marcantes na história do surf nacional estava agendado para as ondas do Cabedelo, na Figueira da Foz. Kelly Slater já somava na altura três títulos mundiais, e chegava a Portugal com o ‘tetra’ na mira - que igualaria o recorde do australiano Mark Richards.

 

Na luta pelo título dessa época estava também Shane Beschen e a matemática para a etapa portuguesa era simples: para Kelly bastava que Shane não conseguisse chegar à final e sagrar-se-ia campeão do mundo. O seu rival na altura acabou por facilitar a tarefa, ao não comparecer na etapa portuguesa. Slater era, antes sequer de competir, campeão do mundo pela quarta vez.

 

Quis o destino - e alguns aviões perdidos - que o agora onze vezes campeão nacional não chegasse a tempo de competir na ronda 1, pelo que a passagem pela ronda 2 se tornava obrigatória. À sua espera estava Bruno ‘Bubas’ Charneca, o primeiro campeão nacional português, que se tornaria o primeiro português a eliminar o lendário surfista da Flórida, já tetracampeão do mundo. Ruben Gonzalez, Tiago Pires e Frederico Morais são os outros surfistas lusos que se podem orgulhar do mesmo feito.

 

Estivemos à conversa com o surfista que recorda como foi o evento e aquele heat para mais tarde recordar:

Como recordas aquele evento no já longínquo ano de 1996? A nível de organização, as diferenças para os dias que correm... Tenho ideia de uma grande prova, com uma infraestrutura incrível de vários andares. Depois destes anos todos, não há muitas provas com aquela dimensão - o Fernando Eloi, a Câmara da Figueira e os patrocinadores fizeram um trabalho incrível, com muita atenção aos detalhes e à imagem profissional que queriam passar. 

 

Recorda-nos como foi o heat com o Kelly.
Claro que sim, é um momento que vou guardar. Estavam ondas ótimas e o Kelly entrou com muita confiança para o heat. Por sorte comecei na frente, e quando ele tentou acelerar e fazer as notas que precisava, eu estava com prioridade e não entraram as ondas que ele precisava. 

 

É um marco que guardas contigo? A participação no primeiro CT em Portugal e eliminares o melhor surfista de sempre? 
Claro que sim, é sempre engraçado dizer que já vencemos um heat a um dos melhores surfistas de sempre. Mas é apenas isso. Não sei se ajudei as gerações seguintes a pensar que em 30 minutos tudo pode acontecer. A verdade é que especialmente o Saca, o Frederico Morais e o Vasco Ribeiro tem repetidamente vencido os melhores do mundo, e mostrado que competem de igual para igual.

 

Como avalias a evolução do surf nacional desde os teus tempos de competidor até hoje? 
Acho que a diferença para os melhores do mundo é menor, precisávamos de mais atletas a competir ao nível do Vasco e do Kikas. Não sou especial fã dos brasileiros, mas o surf que eles estão a apresentar é resultado de muito trabalho e de serem muitos com muito bom nível. Acho que temos qualquer coisas a aprender com eles. Para se estar no topo do WSL é preciso muito mais que talento, e tenho muita vontade de voltar a ver portugueses a tempo inteiro nas melhores ondas do mundo.


 

Bruno seria eliminado na ronda seguinte, por outra lenda do surf mundial, o havaiano Sunny Garcia. A competição, essa, seria ganha pelo australiano Matt Hoy, que bateu na final o havaiano Shane Dorian. Hoy dava por encerrado na altura um jejum de um ano sem vitórias de australianos no WCT e levava para casa um prémio de 20 mil dólares.


 

Nesta etapa estiveram também mais três surfistas portugueses: Miguel Diniz, João Antunes e Rodrigo Herédia. Miguel Diniz e Rodrigo Herédia foram eliminados na ronda 2, por Rob Machado e Luke Egan, respetivamente, enquanto João Antunes caiu na ronda 3, face Luke Egan. A participação de João Antunes foi também um marco histórico no surf português, pois tornou-se no primeiro surfista nacional a vencer um heat numa etapa do WCT. João ganhou a bateria na ronda 1 frente a John Shimooka e Luke Egan - deixando a sua marca para a posteridade.

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