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PENICHE: O QUE MUDA DURANTE O WCT?
Hotelaria e restauração são alguns dos setores que mais ganham com o evento.
Entrámos em contagem decrescente. Falta menos de um mês para que Peniche se transforme de novo, no epicentro do surf mundial. Desde 2009 que esta cidade piscatória e de surfistas acolhe esta etapa do campeonato do mundo. Este ano, esta paragem do WCT chega pelo nome de Moche Rip Curl Pro Portugal, entre os dias 12 e 23 de outubro. Em jogo está um Prize Money de 500 mil dólares, mas o dinheiro que gira por ali nesta altura do ano não vai só para os surfistas de elite. A SurfTotal foi saber o que muda em Peniche, com esta “invasão” de profissionais.
“Nota-se principalmente uma extensão do verão. Desde 2009 que o verão em Peniche não acaba em meados de setembro, mas no final de outubro. Este é um dos aspectos importantes, o esbatimento da sazonalidade”, começa por dizer à SurfTotal o presidente da Câmara Municipal, António José Correia, que recentemente confirmou a vontade de garantir o evento nesta cidade por mais 3 anos.
“Costumo dizer que há um antes de 2009 e depois de 2009. Caminhamos para a 6.ª edição e já começam a ficar algumas coisas consolidadas. Há investimentos concretizados na área da hotelaria, principalmente. Temos, por exemplo, um investimento de 10 milhões de euros de um hotel do grupo Marteleira, que ficará pronto em junho do ano que vem. É interessante ver que, apesar do contexto desfavorável em que vivemos, há investimento. E a justificação para isso é de facto haver um aumento de pessoas que vêm para cá durante o WCT”, avança ainda.
“Associado a isso, há projetos na área da restauração, que está cada vez mais diversificada, e também muito centrada na zona do Baleal/Ferrel, é uma oferta muito interessante, com escolas de surf e surf camps”, acrescenta António José Correia.
Para perceber melhor este investimento fomos então à procura dessas pessoas. As que investiram em Peniche. E é aí mesmo, no Baleal, que encontramos a Naturexperience, uma empresa que aposta em aulas de surf, kayaksurf, stand up paddle, mas também em desportos como rappel, slide, ou orientação e escalada.
“Em Peniche nestes dias pós e durante o Rip Curl Pro, vive-se e respira-se mais ainda o espirito do surf, se isso é possível, visto que Peniche é a Capital da Onda”, começa por dizer Edgar Duarte, um dos sócios desta empresa. “Com o WCT vem sempre muita ruído mediático e por acréscimo mais clientes. Neste momento e desde 2009 a época ficou ligeiramente maior porque até ao final de outubro ainda muita gente procura os nossos serviços de surf, tudo fruto do campeonato do mundo”, explica. “O ano passado sentimos isso mesmo, durante o mês de outubro tivemos mais clientes”, diz ainda.
75 a 85% dos visitantes em Peniche são estrangeiros
De acordo com o autarca – apelidado carinhosamente nesta altura pelos surfistas como “cool Mayor” – durante quase todo o ano, exceto em dezembro e janeiro, a maior percentagem é de estrangeiros. E isso reflete-se no alojamento, particularmente nos hostels. O Tribo da Praia é um dos locais procurados. “A procura é elevada durante a altura do campeonato, como têm sido o caso dos anos anteriores principalmente em 2012 e 2013, conseguimos registar uma ocupação a rondar os 80% o que é bastante positivo já que no mês de outubro a tendência é para a taxa de ocupação diminuir e com este evento conseguimos contrariar a tendência”, diz Marcelo Ferreira do Hostel Tribo da Praia.
Habituadas ao “burburinho” dos campeonatos estão as marcas, claro. E em altura de WCT há sempre as famosas sessões de autógrafos com as estrelas da elite do surf. Assim foi no ano passado - e nos anteriores também - quando a 58 Surf Shop recebeu, por exemplo, os surfistas do team Billabong Joel Parkinson, Taj Burrow e Frederico Morais.
“A procura aumenta exponencialmente, apesar de ser uma altura que sempre teve bastante impacto na performance a loja. O WCT tornou-se um evento primordial para toda a dinâmica comercial da zona, uma oportunidade para dinamizar ações com os melhores do mundo”, defende Pedro Soeiro Dias da Despomar, representante exclusiva da Billabong em Portugal.
Também o fotógrafo Tobias Ilsanker, a residir em Peniche há mais de 3 anos, confessa que tem mais trabalho por esta altura. “Sim, sinto um aumento devido ao WCT. E há certamente vários setores económicos que ganham força durante o evento. O verão foi fantástico e tivemos swells muito consistentes, por isso estamos todos a torcer para que o mesmo aconteça durante o WCT”, avança.
Dia é de surf, noite é de festa
Além dos hostels, escolas e lojas, também os bares e a animação nocturna têm a ganhar com o WCT. Os estrangeiros – e nacionais – vão até Peniche para ver os melhores do mundo, mas também se querem divertir. O Bar do Bruno, no Baleal, já se tornou paragem obrigatória. “É aqui que se realizam anualmente as festas de encerramento do WCT. Organizámos também, no ano passado uma festa para a REEF, com a presença de alguns dos atuais top 10 e embaixadores da marca. Este ano iremos realizar novamente uma festa da REEF assim como a de encerramento do campeonato”.
O responsável pelo bar avança ainda que o campeonato trouxe mais clientes nesta altura. “Existe de facto um maior fluxo de pessoas comparativamente aos anos sem Wct. O campeonato traz consigo surf de alto nível, turismo, festas, animação, reconhecimento internacional à cidade de Peniche”, conclui.
Mas além de receber os melhores do mundo, não nos podemos esquecer que Peniche é já uma cidade de surfistas – e muito bons por sinal. Aos 17 anos, Guilherme Fonseca – que está neste momento a representar a selecção nacional no Eurosurf Junior nos Açores – é um deles. “A meu ver, a cidade fica muito mais animada e movimentada. É ótimo para o comércio local e a vinda dos surfistas motiva as pessoas a experimentarem o surf”, conclui Guilherme.
Como desvantagens a maioria concorda que o crowd pode ser desconfortável para quem está habituado a uma cidade idílica para o surf, e sem grandes confusões. Mas, lá está, faz parte do crescimento, e na verdade o "caos" não dura mais do que 15 dias.
Patrícia Tadeia
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- Créditos fotos: Rui Oliveira, Rita Neves, Tiago Segurado, Francisco T. Santos