Teresa Bonvalot e Miguel Blanco já assinaram pelo Sporting e pelo Estoril Praia, respectivamente. Os dois clubes de futebol que viram no surf (e possivelmente na entrada da modalidade nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio) uma oportunidade de visibilidade, têm dado que falar por que não fazerem parte da história do surf nem da sua cultura.

Desde o anuncio da entrada dos clubes de futebol no surf a Surftotal tem vindo a dar voz aos clubes de surf de todo o país para saber a sua perspectiva sobre esta que tem sido a noticia do momento, e perceber o impacto desta mudança de direcção no mundo do surf.

A evolução do surf em Portugal tem sido enorme tendo passado de 10,000 praticantes nos anos noventa a quase 700,000 na atualidade (segundo o último estudo efectuado em Portugal). Esta evolução traduziu-se numa massificação do surf tornando a modalidade num nicho de interesse para alguns dos grandes players económicos. Esta forma de ver o surf é uma das grandes diferenças que nos separa da realidade Australiana, um dos países com maior cultura de surf e onde os clubes têm um papel importante na comunidade.

Os clubes de surf australianos são, por si só, únicos, acolhendo qualquer pessoa como membro, desde que estejam dispostos a prescindir dos seus fins de semana para se voluntariar, patrulhando a praia local e resgatando nadadores "aflitos" no mar.

*Os Clubes de Surf Australianos estão intimamente ligados ao conhecimento e educação sobre o Oceano e Praias. Não apenas ao Surf. - O trabalho com as comunidades locais começa em tenra idade.

"Bondi Beach em 1907 foi oficialmente reconhecido

como o primeiro clube de surf do mundo"

Esses clubes salvam vidas, literalmente, estando o movimento salva vidas intimamente ligado aos mesmos. O Bondi Surf Bathers Life Saving Club, fundado em Bondi Beach em 1907 foi oficialmente reconhecido como o primeiro clube de surf do mundo e tem como um dos seus objectivos treinar e coordenar pessoas de forma a garantir que as praias traiçoeiras da Austrália permaneçam patrulhadas.

Mas o clube não fica por aqui, dando também aos jovens australianos as habilidades e o respeito pela mãe natureza que precisam para prosperar e sobreviver nas ondas, através de programas como o “Nippers” que permite a crianças a partir dos cinco anos de idade começar a aprender sobre a consciência e segurança no surf. À medida que estas crianças crescem podem também participar de atividades como remo, surf, natação, corrida, entre outras, sendo o ênfase das mesmas divertirem-se enquanto desenvolvem habilidades que as irão ajudar a desenvolver competência e confiança no ambiente de surf.

O Manly Life Saving Club é também um dos clubes de surf mais antigos da Austrália e representa uma das praias mais icónicas de Sidney, a Mainly Beach. O clube orgulha-se dos seus valores que garantem segurança na praia, manutenção do ambiente aquático, educação, treinamento e desempenho dessas funções para permitir melhores salva-vidas e competidores, tudo de uma forma divertida, familiar mantendo uma atmosfera profissional.

 Tal como os clubes de surf portugueses, estas entidades não têm fins lucrativos, dependendo fortemente da gentileza dos patrocinadores e de donativos, mas este poderá ser o único ponto em comum que temos com os aussie brothers, uma vez que em Portugal os clubes de surf estão mais direcionados para o desenvolvimento da componente competitiva.

Numa altura em que há tantas dúvidas em relação ao futuro dos clubes de surf em Portugal e das intenções dos clubes de futebol que vêm agora entrar no mundo do surf, podemos ver na história dos clubes de surf australianos um exemplo a seguir para tornarmos  o surf em mais do que apenas uma modalidade desportiva, mas sim um verdadeiro estilo de vida com um impacto positivo na comunidade.

A historia dos Clubes de Surf na Austrália remonta ao inicio do século XX