David Davila a receber tratamento após aula de surf fracassada. David Davila a receber tratamento após aula de surf fracassada. Foto: DR quarta-feira, 04 abril 2018 11:42

Quando uma aula de surf corre mal e traz à baila o desenfreado crescimento turístico

Crescimento sustentável e pensado é preciso e procura-se… 

 

O crescimento exponencial do Surfing não ocorre apenas em Portugal, mas também ao redor do globo - é já um dos desportos mais procurados que apresenta os maiores índices de popularidade. O episódio que hoje resolvemos trazer para cima da mesa relembra-nos que, nem sempre, a desenfreada proliferação de escolas de surf ou o aumento do turismo é garantia de serviço de qualidade. 

 

No final de março, Karen Davila, uma aclamada jornalista das Filipinas, decidiu fazer umas férias por Siargao juntamente com o seu marido e dois filhos. O local escolhido foi Isla Cabana, um resort de 4 estrelas a curta distância da afamada onda de Cloud 9. Aproveitando a ocasião, marcou aulas de surf para David e Lucas, os seus filhos. No entanto, o resultado não foi bem o que esperava.  

 

Apesar de precisar de uma atenção especial, por se encontrar no espectro do autismo, "David pratica desporto regularmente e é na verdade um bom nadador”, garantiu Davila. Mas nada explica o que aconteceu. 

 

Na sua página oficial do Facebook, Karen Davila explica todos os pormenores, começando por mencionar que, como é habitual, as aulas foram marcadas com dois instrutores, para as 16h na altura da maré cheia, na praia Jacking Horse que é indicada para principiantes e fica ao lado de Cloud 9. Segundo a jornalista, “as ondas estavam fortes, a praia cheia de turistas, estrangeiros, locais, muitos com famílias e crianças pequenas”.  

 

Com os miúdos a fazer o aquecimento na praia, Karen e o marido finalmente relaxaram e aproveitaram a beleza da região para descansar. Apenas durante meia hora, altura em que o seu filho David se aproximou com o peito todo raspado dizendo que tinha tido um acidente. 

 

 

Tinha claramente batido nas rochas e apresentava cortes por todo o lado, no peito, na barriga, no queixo e nas mãos. Depois de procurar por assistência na praia, sem sucesso, um dos instrutores levou-os a uma loja onde podiam comprar algodão, betadine e gaze… e desapareceu logo em seguida, confirmando a ideia de que realmente não estava capacitado para dar aulas.

 

Sendo uma região fortemente turística, Karen Davila não compreendeu como não havia primeiros socorros na praia, uma enfermeira ou alguém que os ajudasse. Mais tarde acabaram por seguir para o hospital que ficava a 45 minutos de distância. 

 

As coisas no hospital também não correram bem, pois, segundo a jornalista, não havia medicamentos, apesar de se escontrarem vários turistas nas urgências. Tudo isto levou a um post no Facebook que acelerou a discussão - e serviu de alerta para as entidades competentes, nomeadamente, o Departamento de Turismo. 

 

As palavras de Karen foram duras, mas verdadeiras: “A partir do momento em que uma cidade é vendida aos turistas, a responsabilidade primária do governo local e nacional passa por garantir a segurança dos turistas. Ponto final."

 

Ao longo do texto a jornalista menciona ainda o facto dos instrutores não possuírem formação ou certificado para dar aulas de surf, de não terem como prioridade a segurança dos seus alunos, de não existirem nadadores-salvadores por perto ou sequer uma mala de primeiros socorros na praia. 

 

 

Aconteceu em Siargao onde existem 100 resorts e, curiosamente, tem lugar em setembro próximo o Siargao Cloud 9 Surfing Cup, etapa 53 da Qualifying Series de graduação QS3,000. Mas atenção, podia ter sucedido em qualquer lugar, até em Portugal. 

 

Crescimento do turismo e criação de surf schools são sempre bem-vindos, desde que feitos de uma forma sustentável, objetiva e consciente. Para já fica o exemplo e a má experiência da família Davila que muito dificilmente voltará a escolher Siargao para passar férias. 

 

Fica a chamada de atenção. 

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