John Carby John Carby terça-feira, 28 dezembro 2021 09:13

"O meu maior medo era pensar em quantas pessoas mortas iria ver" - John Carby, surfista australiano residente em Siargão, sobre o tufão que atingiu as Filipinas

Usou a escola de que é dono como um refúgio para a comunidade.

 

John Carby é um surfista australiano residente em Siargão, nas Filipinas. É um dos donos da Nissi Academy General Luna, uma escola sem fins lucrativos fundada em 2015. Carby contou à Surftotal como foi para ele, para a sua família e para a sua comunidade o dia da tempestade que devastou a sua ilha. 

 

 

 

 

Como é que descobriste que vinha uma tempestade? Onde estavas?

John: Como sou surfista, acompanhei a tempestade em vários websites pelo menos uma semana antes de ela entrar nas Filipinas. Inicialmente estávamos entusiasmados com a chegada de um bom swell com vento offshore. Mas à medida que os modelos começaram a mudar e a direccionar-se mais para Siargão, as coisas ficaram mais sérias. Uns 3 dias antes sabíamos que havia um tufão de categoria 2 a chegar a Siargão. Categoria 2 já é algo assustador, com o vento a soprar e 120 km/hora, vai causar alguns danos. Prendemos bem as coisas que estavam soltas à volta da nossa propriedade. Até à noite de dia 15 sentíamos que estávamos preparados.

 

 

 

 

"Nunca tinha visto uma tempestade a intensificar tão rapidamente."

 

 

 

Quando percebeste que era tão forte?

John: Às 6h da manhã do dia seguinte, a minha mulher disse-me que o tufão tinha mudado para categoria 5. Eu não acreditei. Nunca tinha visto uma tempestade a intensificar tão rapidamente, ela não acalmava, só crescia. Sabíamos que ela atingiria a ilha por volta das 14h, então tínhamos bastante tempo para nos prepararmos, mas como é que te preparas para um tufão de categoria 5? A única coisa que podíamos fazer era abrir a nossa escola como um centro de evacuação e encorajar as pessoas a vir.

 

 

 

"Rezávamos enquanto as estruturas à nossa frente eram destruídas"

 

 

 

 

 

 

Como te conseguiste proteger a ti e à tua família?

John: Eu e um amigo fomos documentar a manhã na GoPro dele, e por volta das 11h voltámos para a escola para ficar com a minha família e aqueles que se juntaram a nós. Estivemos na rua durante uma boa parte da tempestade porque o vento ainda não estava tão forte. Mas quando começou a ficar mais forte, fomos logo para dentro. Tínhamos 3 quartos com pessoas lá dentro, estávamos num quarto com umas 30 pessoas. Rezávamos enquanto as estruturas à nossa frente eram destruídas. As janelas no nosso quarto partiram-se, e nós em grupo fizemos um círculo à volta das crianças para protegê-las. A tempestade passou pelo quarto até aos ventos mudarem outra vez de direcção e pudemos relaxar. Mas o barulho e a tempestade seguiram fortes por mais uma hora.

 

 

 

 

"Quem tinha algo para oferecer partilhou com quem não tinha nada."

 

 

 

 

Como era o cenário quando a tempestade passou?

John: Assim que a tempestade passou, eu e o meu amigo fomos até à casa dele para ver se os seus vizinhos e amigos estavam bem. Quando vi a gravidade da situação, o meu maior medo era pensar em quantas pessoas mortas iria ver. Foi quase impossível fazer o caminho de um quilómetro até à área do meu amigo, tudo estava destruído e havia árvores a bloquear o caminho. Felizmente, percebemos que todos ficaram em segurança. Uma coisa boa que vi foi a rapidez com que toda a gente passou para a acção, e quem tinha algo a oferecer partilhou com aqueles que não tinham nada. Queria fazer uma menção ao meu amigo James O'Donnell e ao seu resort Greenhouse. É um amante do surf e um grande amigo. Ele tem uma lancha e começou a levar pessoas e a organizar as coisas. É um de muitos mas merece reconhecimento.

 

De que forma o teu negócio foi afectado?

John: Sou dono de uma escola sem fins lucrativos. Perdemos o tecto e os telhados dos andares de cima da escola. Vai ser uma luta difícil para fazer essa reconstrução e continuar a educar as crianças de Siargão. Todas as escolas foram afectadas.

 

 

 

"As necessidades parecem infinitas."

 

 

 

 

 

 

Estão a receber apoio do governo ou de outras ajudas externas?

John: Há bastante ajuda a chegar. Eu trabalho no sector privado por isso sei o esforço que estão a fazer e está a ser muito bom. Há muitas doações a chegar. A escola está agora a funcionar como um armazém e ponto de distribuição de arroz e outros bens. Outros na comunidade estão a tratar da organização da água. O sector privado está a ser uma grande ajuda. Mas as necessidades são muitas e parecem infinitas.

 

Tens alguma mensagem para a comunidade de surf internacional?

John: Se não conheces Siargão, conheces algum lugar parecido. Uma pequena comunidade que gira à volta do surf. Estas pessoas perderam as suas casas. Não há seguro, ou sequer trabalho para elas agora, e mesmo assim os seus sorrisos e corações são grandes. Precisamos de muito auxílio aqui. Por favor, ajudem.

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