"O telhado da nossa casa foi arrancado" - Elaine Abonal conta os momentos de terror que viveu durante o super tufão que atingiu Siargão
Elaine foi evacuada e está agora em Manila.
Elaine Abonal, fundadora e instrutora da Surfista Travel Siargao, é uma local da ilha de Siargao, a mais afectada das Filipinas pelo super tufão Rai, que matou pelo menos 388 pessoas e deixou 60 desaparecidas. Elaine contou à Surftotal o seu relato em primeira mão da catástrofe.
Por ser surfista e ter um negócio ligado ao surf, Abonal tinha visto as previsões e sabia que se aproximava uma tempestade, mas não tinha noção da sua dimensão. “Estávamos à espera que a tempestade passasse, e pensávamos que acabaria quando chegasse a noite”, contou.
"Se saíres de casa vais morrer!!!."
Sem electricidade e nada para fazer, Elaine dormiu uma sesta com a filha de dois anos, até ser acordada pelo barulho da tempestade. Viu as suas longboards a serem levadas pelo vento, e queria ir recuperá-las. “O meu marido disse-me, ‘se saíres da casa vais morrer, vais morrer por causa de uma prancha’”, e foi aí que Elaine se apercebeu realmente que não era uma tempestade normal. “As árvores mais pequenas estavam a ser arrancadas do chão, começou a entrar água pela janela. Havia lama e folhas a voar em frente às janelas, então não conseguíamos ver o que se passava lá fora, mas conseguíamos ouvir os telhados de metal a soltar.”
“Quando percebemos que o nosso telhado tinha sido arrancado, tivemos medo que o tecto colapsasse. Pusemos capacetes e capas de chuva, e eu, o meu marido, a minha filha e o meu cão fomos para debaixo da mesa para nos protegermos.”
Do lado de fora, ouviram vozes, e inicialmente pensaram que de auxílio se tratasse, mas eram locais cujas casas tinham sido destruídas. “Deixámo-los entrar, mesmo com a nossa casa também a ser destruída. Ajudá-los distraiu-nos da gravidade da situação.”
Depois da tempestade, “não sobrou nada”
A casa de Elaine ficou alagada depois da tempestade, o que fez com que ela e a família passassem a noite num abrigo. Saíram de casa já de noite, e só na manhã seguinte é que conseguiram ver com clareza a destruição causada. “Não havia mais coqueiros, as casas pequenas foram destruídas, não sobrou nada.”
"Começámos todos logo a trabalhar."
Num dia normal, os residentes daquela área cumprimentam-se e conversam durante a manhã, mas este dia amanheceu silencioso. “Na verdade, estávamos felizes por estarmos vivos. Não havia muita gente a chorar, começámos todos logo a trabalhar, a limpar a rua, a tentar reconstruir as casas, a secar roupas.”
“Voltámos à estaca zero” – depois da pandemia, negócios de Siargão sofrem mais um golpe
O negócio de Elaine gira à volta do surf e do turismo, e é um dos muitos afectados por esta catástrofe. “Começámos agora a recuperar da pandemia. Não tivemos turismo nos últimos dois anos, e agora em Dezembro as coisas estavam a começar a melhorar. “Na manhã a seguir à tempestade, os surfistas locais estavam a dizer que voltámos à estaca zero”.
Falta de ajuda e falta de cobertura nos media internacionais
A família de Elaine esteve ainda cinco dias em Siargão antes de ser evacuada. Durante o tempo que esteve lá, Elaine não testemunhou nenhum tipo de ajuda exterior. Em Manila, afirma que consegue ver que estão a ser feitos esforços por parte do sector privado, nomeadamente de donos de negócios que têm alguma ligação com a ilha. “Esta ajuda chega à ilha e vai directamente para as pessoas. É tudo o que posso dizer, é o que tenho visto e é o que sei.”
Elaine termina o seu depoimento afirmando que Siargão ainda precisa de muita ajuda, e pedindo que se espalhe a palavra, já que “não estamos a receber atenção dos meios de comunicação internacionais”.