O FREESURF DOS FREESURFERS

Quando a verdadeira essência do Surf entra em modo reflexão…

 

O que é o freesurf? De um modo curto e simplista, poderíamos dizer que é o estilo livre de cada um de nós. É o poder fazer surf quando nos apetece, sem horários, obrigações ou um conjunto de regras pré-definidas. É prazer e diversão. É a procura da onda perfeita. É liberdade e partilha. É paixão.

 

O fenómeno é simples, mas muito abrangente. Por isso, com a missão de percebê-lo melhor, há tempos reuni com um reconhecido grupo de freesurfers que comigo partilharam experiências e opiniões ajudando-me a descobrir, não só a verdadeira essência do surf, mas também o que é isso do “freesurf dos freesurfers”.

 

De um modo geral, a sensação que todos temos do mercado é que o surf está em alta e goza de uma espécie de renascimento do espírito livre. Mais do que ter o nose da prancha preenchido de autocolantes e/ou vestir a pele de um atleta de alta competição, o que é verdadeiramente ’cool’  hoje em dia é passar a imagem de freesurfer. As pessoas parecem ligar-se mais ao surf pela sua essência e já não tanto pelo facto de ser moda.

 

Alex Botelho (na foto), um dos reconhecidos freesurfers que percorre diariamente a costa portuguesa, confirma esta ideia: “Nos últimos anos o surf foi apresentado a milhares de pessoas que se apaixonaram pela sua verdadeira essência. Há pessoas a fazer surf em todo o mundo, seja na Escócia ou no Canadá, que todos os dias vestem um fato húmido e gelado. Eles não o fazem por moda, mas porque gostam mesmo!”

 

É este espírito mais “soul” que leva as pessoas a associarem-se ao desporto e Alex sabe-o bem, justificando com um exemplo do foro pessoal: “Competi até aos 18 e gostei de o fazer. Depois comecei a viajar em busca de boas ondas e isso acabou por suscitar mais interesse e a dar-me mais prazer. Foi então que decidi focar-me no que era para mim a grande motivação: o freesurf.”

 

Para Manuel Cotta, um dos regulares da linha de Sintra, surfar apenas pelo prazer de surfar foi a forma que encontrou para cortar com vivências anteriores. “Optei pela vertente livre, porque quando comecei tinha acabado de abandonar outra atividade (Judo). Fartei-me simplesmente da competição!”, explica.

 

Na verdade uma boa parte dos surfistas está intimamente ligado ao freesurf e muitos só mais tarde optaram por relegar a competição para segundo plano. Os irmãos Guichard, do Algarve, são o exemplo perfeito. À imagem de muitos miúdos que povoam a vasta costa lusitana, também eles se iniciaram na modalidade numa tenra idade (aos 13) sendo que um ano mais tarde fizeram a estreia no primeiro campeonato regional. A coisa não correu mal: Joackim ficou em 2º lugar e Luca arrecadou a taça de campeão. Obviamente, daqui até às competições nacionais foi um tirinho.

 

De seguida vieram os WQS e um fantástico patrocínio da O’Neill. Os manos estavam aparentemente em alta, mas algo deixou de fazer sentido nas suas vidas. “Nos ‘QS não conseguimos bons resultados e nem estávamos a curtir a cena. Quando isso sucede tu sabes que não estás lá a fazer nada. Gastávamos o dinheiro todo em campeonatos e em ondas de meio metro para perdermos nas primeiras fases. Decidimos então fazer mais viagens, passámos a ir para locais que nunca tínhamos ido, conhecemos novas pessoas e aí começámos a curtir verdadeiramente. Nos campeonatos era precisamente o oposto: era tudo muito repetitivo, as mesmas caras, os mesmo locais”, partilha Joackim que hoje em dia não mostra sinais de arrependimento por ter feito a transição com o irmão Luca.

 

“Todos nós fazemos surf pelo prazer e diversão. É um vício!”, acaba por rematar Alex Botelho. E eu sublinho!

 

Texto: AF // Fotografia: André Carvalho

Itens relacionados

Perfil em destaque

Scroll To Top