O SURF É FEITO DE CURVAS
Um artigo de opinião de Bernardo Seabra que nos fala das curvas livres e sensuais do Surf…
Oscar Niemeyer, esse arquiteto genial que levou uma vida longa e rica, já dizia: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo Homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, curva essa que encontro nas montanhas, nas ondas do mar, no corpo da mulher amada.”
Essas curvas que o maior arquiteto brasileiro descreve, podem ser analisadas nos surfistas de hoje em dia. Há os que têm e os que, apesar de serem surfistas de topo e cheios de técnica, não têm…
Julian Wilson ou John John Florence são dois bons exemplos de surfistas da nova geração que utilizam muito o rail. Os seus bottoms turns são feito bem cá em baixo… Lá está, desenham uma curva longa antes de entrarem em estado predador no lip… e não é por isso que não deixam de ter um surf moderno, radical e inovador, misturando aerials, tail slides com rasgadas de rail.
Wiggolly Dantas consegue quase sempre utilizar o rail tirando o peso da prancha de tal maneira que os seus leques de água ganham uma dimensão acima da média. Por outro lado, Michel Bourez, outro surfista de rail, ao contrário de Wiggolly coloca todo o peso e pressão na borda gerando um surf de força, mas não menos bonito de se ver…
Na minha opinião, claro, e do lado oposto, não consigo apreciar tanto o surf de Josh Kerr ou Jadson André, surfistas progressivos, que muito provavelmente até são capazes de fazer numa só onda quatro, cinco ou seis air reverses. No entanto, a linha de surf que apresentam é um angulo reto, é uma curva sem liberdade.
Nos anos 80 um dos surfistas mais interessante de se ver no que respeita a linha de surf foi Miguel Vieira. Nunca é demais relembrá-lo. Tinha um talento muito acima da média, desenhava curvas infinitas, curvas longas e ao mesmo tempo tinha uma grande habilidade e técnica no seu surf. Com os meus 13 ou 14 anos, vê-lo surfar era um prazer extraordinário.
Tiago Oliveira, surfista da minha geração, é um dos que melhor representa o surf de linha. Basta vê-lo surfar nos Coxos para dar conta da harmonia que consegue estabelecer com as ondas e a sua fluidez são do mais atrativo de se ver no surf.
Que a progressão do surf não tenha limites, que apareçam mais manobras espetaculares e radicais, mas a harmonia do surfista com a onda vem sempre pelas linhas que ele traça, pois, sem elas, o surf fica amputado, fragmentado, incompleto e esteticamente feio.
Niemeyer tinha razão… As curvas no surf são como “a mulher amada”… Se não existirem, deixam de ser atraentes.
Opinião: Bernardo Seabra