WELLINGTON MAGALHÃES: NASCIDO PARA VOAR!

Em exclusivo para a Surftotal, o surfista brasileiro fala da sua adaptação a Portugal, das ondas e dos objetivos para os próximos tempos... 

 

Wellington Magalhães, conhecido por “Gringo”, é um surfista brasileiro que se encontra a viver em Portugal. Ele é um dos emblemáticos surfistas de Santos, da Praia do Tombo e de São Paulo, Brasil, conhecido entre os top surfers pelo seu extraordinário arsenal aéreo e diferente “approach" às ondas. Para já, enquanto ganha ritmo e forma no free surf, aproveita para conhecer os cantos e recantos da costa portuguesa. As competições nacionais são o objetivo para 2017. 

 

Confere já a entrevista exclusiva

 

Fala-nos um pouco de ti. Há quanto anos estás ligado ao surf, de onde és e que importância/relevância tem tido o surf na tua vida?

Estou ligado ao surf desde os 11 anos de idade. Iniciei com amigos na praia de Santos, cidade onde nasci, no Brasil. Depois que experimentei pela primeira vez  nunca mais parei de praticar. Esta decisão mudou totalmente a minha vida para melhor, em diversos aspetos, e o principal deles é que hoje em dia tenho uma família linda, vivo num lugar incrível com ondas perfeitas, feliz e em paz comigo mesmo. Só tenho a agradecer ao surf por esta vida cheia de alegria!

 

- A voar no Guincho. Foto: Paula Costa

 

E em que parte entra Portugal no teu caminho?

Portugal entra na minha vida após conhecer a minha mulher que é portuguesa. O nosso primeiro encontro foi no Peru onde ficámos quatro meses, viajando entre o norte e o sul do pais. Durante este período ficámos grávidos (risos), estávamos a espera de um bebé e com isto mudámos os nossos planos. Decidimos então ir para o Brasil que ficava mais perto do que Portugal. Aí ficámos durante um ano e, assim que o bebé nasceu, preparámos tudo para vir a Portugal com o objetivo de viver com família e cosntruir uma vida. Como a minha mulher já tinha família aqui, em Portugal, foi tudo muito mais fácil. Já tínhamos uma base para iniciar e pessoas incríveis que nos deram todo o apoio de que precisávamos para dar os primeiros passos e, mais importante, ter confiança para seguir em frente com os novos projetos de vida. Eu passei o tempo todo da minha vida a viajar, produzindo, a surfar em lugares ao redor do mundo, pois iniciei a minha carreira no surf profissional há muito tempo atrás, e, desde então, sempre produzi para as marcas que me patrocinavam no Brasil e com todo o trabalho duro acabei por conquistar o meu espaço na imprensa, nas revistas e nos restantes canais de surf do pais. Obtive muita experiência e, mesmo assim, mudar para um pais diferente para viver toda a vida, é preciso algum tempo de adaptação aos costumes e cultura. Por sorte, tenho o maior orgulho deste país, pois no dia-a-dia tenho conhecido e assistido à educação e ao cuidado que os cidadãos portugueses têm pelo seu país. Isso traz-me muita paz, pois saber que meus filhos vão crescer e ser educados num país como este, além de ser um dos melhores lugares em que já surfei, é uma satisfação. Assim que cheguei em Portugal pensei: “Nossa, vou ter que começar novamente uma carreira onde ninguém conhece o meu trabalho!” No entanto, mantive a calma e com o correr do tempo as coisas foram-se encaixando. Está tudo a acontecer no tempo certo que Deus quer, estou muito feliz com os resultados até agora e focado num futuro melhor com minha família e amigos.

 

"Decidi focar-me nos aéreos, visando evoluir o meu surf e,

principalmente, evoluir o desporto com novas manobras”

 

És um surfista com uma abordagem às ondas diferente à norma e que apresenta um cunho claramente marcado por manobras aéreas e futuristas. Como surgiu essa tendência?

Esta tendência no meu surf começou no início da minha carreira, quando competia como júnior, e na passagem para amador. Nesta fase eu já tinha muita facilidade em fazer aéreos, embora não fossem bem pontuados, pois naquela época os aéreos não eram tão valorizados nas competições, ao contrário de hoje em dia em que são bem pontuados e é básico ter no repertório de manobras os aéreos. Desde pequeno sempre fui mais voltado para um surf radical. Eu lembro-me que tinha que procurar referências em vídeos californianos onde estava em alta este segmento de surf aéreo, pois no Brasil não existiam ainda tantos surfistas que fizessem este tipo de surf. Decidi focar-me totalmente nisso, visando evoluir o meu surf e, principalmente, evoluir o desporto com novas manobras procurando que as gerações futuras quisessem também seguir este movimento dos aéreos. As coisas acabaram por correr muito bem, eu conquistei o meu espaço e hoje em dia a nova geração brasileira, alguns deles presentes no circuito mundial, dizem ter sido uma inspiração ter assistido ao meu surf. Foi algo que lhes deu motivação para fazer um surf mais radical. Para mim é um orgulho saber que fiz a diferença para ajudar os nossos futuros surfistas e mais ainda ver alguns deles a tornarem-se os melhores surfistas do mundo e sagrando-se até campeões mundiais.

 

O novo vídeo do "Gringo"... 

 

Pelo que tens visto até ao momento, como dirias estar o surf português?

Eu estou muito feliz de encontrar em Portugal surfistas tão talentosos desde os da velha guarda, nova geração e profissionais da atualidade, todos estão muito focados. Tenho assistido a isto sempre que entro no mar, tenho visto os “mulekes” (miúdos) a destruir, a partir a loiça como dizem por aqui, e isso faz-me pensar cada vez mais num futuro de campeões portugueses. Esta nova geração está a treinar diariamente à procura de um futuro como surfista profissional e, na minha opinião, estão no caminho certo. Fico feliz por saber que, um dia, vou vê-los em eventos do circuito mundial e a representarem muito bem Portugal.

 

Há algum surfista português que tenha chamado a tua atenção?

Sim, com certeza. Tenho muitos nomes e não apenas de surfistas que estão no circuito mundial atualmente, mas também os da velha guarda e nova geração: “Gato”, “Xenico”, Gonçalo “Ratinho” Lopes e “Toneca”. Todos surfistas da praia do Guincho onde surfo e vivo a maior parte do tempo e que sempre chamaram a minha atenção por terem uma leitura de ondas perfeita, surfando com estilo e power. Mesmo não fazendo aéreos, tenho-me inspirado muito ao assistir ao surf que apresentam. Surfistas como Ruben Gonzalez e Marlon Lipke também são brutais e, mesmo antes de vir para Portugal, eu já assistia o surf deles em videos na Internet. Foram uma grande inspiração antes mesmo de eu chegar em Portugal. Da nova geração são tantos que nem me atrevo a dizer nomes, pois seria um livro completo. (risos) Mas como já disse anteriormente, a nova geração tem vindo a partir tudo e a representar muito bem Portugal nas competições e no free surf.

 

- A cruzar os cilindros da Praia Brava, Brasil. Foto: Cezinha Pereira

 

Quais os planos relativamente à competição. Por onde queres começar? Quais os objetivos?

Nos dias de hoje estou mais focado como jamais estive para evoluir o meu surf com aéreos cada vez mais altos, mas também nos tubos e nas manobras de rail. Quero deixar o meu surf cada vez mais completo para entrar nas competições e obter grandes resultados, ajudar a puxar o ritmo sempre que marque presença nas competições e free surf. Com a qualidade de ondas que existe em Portugal não é difícil conseguir evoluir mais o meu surf! Eu tenho praticado muito skate, pois adoro e este faz toda a diferença nos aéreos. Por isso, tenho andado de skate quase todos os dias e sinto-me muito bem quando estou no skate park. Tenho grandes amigos skaters que me ajudam muito dando-me dicas de como executar as manobras de skate no surf, como, por exemplo, o “kickflip" que já foi feito pelo californiano Zoltan Torkos e o brasileiro Rodrigo Genérik. Eles foram os únicos a terem-no feito no Mundo até agora, mas eu quero ser o primeiro a fazê-lo nas águas portuguesas. Como tal, tenho vindo a treinar bastante esta manobra e tenho fé que em breve vou conseguir aterrá-la. Tudo isto tem um objetivo principal que é o de ajudar a puxar a nova geração do surf português para um surf radical, com um repertório de manobras cada vez mais amplo e que ajude o nível a subir cada vez mais como, aliás, já está a acontecer. Este ano ainda não competi porque estou à espera dos meus documentos, mas quero fazê-lo no próximo ano. Estou super motivado para competir e sinto-me preparado e confiante para tal. Tenho vindo a ser apoiado por uma escola de surf da praia do Guincho, a Moana Surf School, e recentemente fechei uma nova parceria com a Xen&Co, Janga Wetsuits e SurfSkates Europe. Eles têm-me apoiado muito desde que eu cheguei a Portugal, conseguindo pranchas da Chilli e tudo o que eu preciso para ter um excelente rendimento e tranquilidade para poder surfar com equipamento de alto nível. Agradeço imenso tudo o que têm feito por mim e por acreditarem no meu potencial como surfista profissional. Eu acredito que trabalhando de uma forma séria posso conseguir um patrocínio principal para poder entrar em mais competições europeias. Nunca se sabe o que o futuro nos espera, mas eu não tenho dúvidas que vou lá chegar com apoio de todos.

 

>> CONFERE AQUI O VÍDEO "QUEM É WELLINGTON MAGALHÃES?"

 

Que ondas já surfaste por cá e quais te parecem ser os melhores spots?

Eu estive a surfar em poucos lugares, conheci algumas praias da Ericeira, algumas de Peniche e também fiz duas sessões na Costa de Caparica onde me diverti muito. Tenho surfado as ondas da Linha de Cascais e do Guincho, que adoro, mas tenho muito ainda para conhecer deste país lindo e rico em ondas perfeitas. Até agora a onda mais fantástica foi nos Coxos; aquela direita é incrível e quando lá surfei pela primeira vez pensei que ainda foi melhor ao que imaginava. Essa é a melhor parte de viver num país com uma qualidade de ondas brutal!

 

"Esta nova geração está a treinar diariamente à procura de um futuro

como surfista profissional e, na minha opinião, está no caminho certo"

 

Sendo brasileiro, como foi ver Gabriel Medina a conquistar o primeiro título mundial de surf? 

Esse feito foi incrível, pois o Brasil já teve muitos surfistas que foram vistos como futuros campeões mundiais e até então nada aconteceu, chegavam muito perto mas depois algo se passava e o resultado esperado nunca chegava. De repente, chega o “Brazilian Storm”! Eu conheço o Gabriel [Medina] desde miúdo, assisti à sua trajetória e tenho o maior orgulho de ser seu amigo. Vi-o desde garoto e agora é o primeiro, o surfista que mudou a visão e colocou a nossa bandeira no topo do mundo do surf. Ele fez com que os surfistas brasileiros fossem mais respeitados e abriu o caminho para outros. O titulo de Adriano de Souza, que também é um dos que vi crescer e um grande amigo, veio logo no ano a seguir. Filipe Toledo, que conheço e convivi desde miúdo, nas praias de Ubatuba, com sua família 100% surf, é hoje um dos favoritos em quase todas as etapas do circuito mundial. Isto para mim é deveras satisfatório e quero ver o mesmo a acontecer com os surfistas portugueses.

 

Por último, vai voltar a dar Brasil este ano? 

Como brasileiro estou a torcer para ser mais uma vez um “zuca” (risos), mas o circuito está com um nível muito alto entre todos os surfistas. É lógico que alguns se destacam mais, só que, na minha opinião, os brasileiros têm uma grande vantagem por terem sido os campeões nos últimos dois anos. Psicologicamente, saber que estão a dominar o circuito até então, ajuda muito. Mas vamos ver o que acontece. Estou a acompanhar e a torcer sempre para que vença o melhor!

 

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Entrevista: AF

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