João Lopes, mais conhecido por Johnny Reef, tem 44 anos e começou a fazer surf aos 14 nas águas da Costa de Caparica. Dois anos mais tarde, aos 16, começou a trabalhar em regime de part time na primeira loja de surf do país, a Miramar Surf Shop, onde chegou ao cargo de gerente com apenas 18 anos. Doze meses mais tarde decidiu ir trabalhar para a concorrência (Samadi Surf Shop) onde ficou até hoje. Com uma carreira de 26 anos em vendas, é atualmente comercial das marcas Reef, Creatures of Leisure, Sex Wax, SurfEars, Phix Doctor e McNett. O surf é a sua vida. 

Para começar fala-nos um pouco da situação do mercado português nos tempos que correm? 

Continuam a abrir boas surf shops em Portugal. Para as marcas de surf relacionadas com vestuário é que não está fácil, estamos a passar um bocado menos bom, mas já é normal, as modas são assim com altos e baixos, só temos que estar atentos e atenção que isto não se passa só em Portugal, mas a uma escala mundial. Existem marcas que tiveram mesmo muito mal, mas já começam a levantar a cabeça. Sobre o desporto em si, tem vindo aumentar bastante, existem escolas de surf por todo o lado. Para termos noção, o surf já é o segundo desporto que traz mais turismo a  Portugal. O primeiro é o golfe!

“[O Surf] tem vindo aumentar bastante, existem escolas por todo o lado

e o surf já é o segundo desporto que traz mais turismo a  Portugal"

A Reef e a SurfEars ganharam prémios nos SIMA Awards graças a novos produtos. Fala-nos sobre isso e diz-nos de que forma isso ajudou nas vendas do ano?

Bem, a Reef é a marca que vendo há 24 anos e hoje em dia sou o segundo vendedor mais antigo do mundo. Já tenho mais anos na marca que os próprios fundadores! Os prémios SIMA são os mais importantes na indústria mundial de surf e a Reef conquistou o prémio de melhor calçado do ano com a sua nova inovação de sola, a Swellular Techology  que tem um maior conforto, suporte e tração. É top, sem dúvida. Nós merecemos e vocês têm que experimentar! Sobre as vendas, aumentou pois e quem comprou quer voltar a comprar. Isso é bom! Já os SurfEars ganharam o prémio de melhor produto técnico do ano que foi distribuído pela Creatures of Leisure. Este produto é muito importante para os surfistas e outros desportos náuticos, pois tratam-se de uns tampões auriculares revolucionários que têm como lema: “Let sound in, Keep water out”. O mais importante é mesmo permitir manter uma boa parte da audição! As vendas estão a ser um sucesso, de momento não temos stock, mas vamos receber mais em maio. 

No leque de marcas que a empresa detém, que outras novidades são de salientar? 

A Sex Wax, pois é, sem dúvida, a melhor wax do mundo. Todos os anos esta marca surpreende pela positiva! Foi fundada na Califórnia nos anos 70 pelo grande senhor MR. Zogs que ainda hoje domina o surf com o seu produto que tem vindo a evoluir. 

Em tempos de crise, segundo a tua experiência, como achas que devem reagir as empresas e as marcas de surf?

Eu acho que devemos continuar a investir no surf, sempre! Sobre o vestuário, devemos fazer bons produtos, pois para pedirmos preços elevados temos que ter o melhor, mas ao mesmo tempo temos de fazer algumas peças sempre mais acessíveis, com bons preços. As marcas devem investir mais em eventos em sítios certos como, por exemplo, na limpeza das praias. Isto sim, é importante para o futuro e quer para o surf como para as marcas é sempre um bom marketing, Claro, também é um recado para as escolas de surf - educar os alunos a manter as praias limpas.

"O surf continua em franco crescimento, principalmente

no que diz respeito a vendas de material técnico"

Qual a importância de um team de surf ou, em última análise, de “embaixadores” de marca? Qual o seu verdadeiro papel?

O team ou embaixadores é muito importante para as marcas, pois muitos idolatram os seu ídolos. A Reef, por exemplo, preocupa-se muito com uma imagem limpa. Uma boa imagem até pode não ser do top do surf, mas são bons surfistas e têm boa imagem. Os exemplos Mick Fanning, 3x campeão do mundo, e Rob Machado, um grande ícone do surf mundial e um senhor muito boa onda, são sempre importantes para as nossas vendas! 

De uma forma geral, o surf continua em crescimento ou a “febre” (moda, se assim lhe quiseres chamar)  já passou?

O surf continua em franco crescimento, principalmente no que diz respeito a vendas de material técnico, fruto do aumento das escolas de surf. O restante vai vendendo consoante as modas. 

Como caraterizarias o verdadeiro consumidor de surf?

Bem, os verdadeiros consumidores das marcas de surf, muitas vezes nem fazem surf, mas gostariam e por isso gostam das marcas e da onda do surf. O surfista muitas vezes bate no peito que quer marcas “core”, mas depois quer tudo dado ou com preço de amigo e com essa atitude o surf não anda para a frente. Como surfista que sou vou continuar a consumir surf e quero sempre tudo de bom para o surf, para as marcas todas, pois o sol quando nasce é para todos. 

“O importante é sabermos de onde viemos e o surf vem da natureza pura"

O futuro é auspicioso para a indústria do surf (marcas, lojas, etc) ou é preciso cautela num mercado que se tem apresentado muito volátil, com altos e baixos, de oscilações difíceis de prever e controlar?

O futuro vai ser auspicioso para as marcas e lojas de surf, mas vamos ter de estar mais atentos. Hoje em dia as modas rodam muito mais depressa, o que nos obriga a evoluir sempre e a adaptarmo-nos a novas realidades. A evolução não fica por aqui e mesmo dentro do surf existem vários estilos (surf, retro, longboard, core, etc).

Ultimo comentário? 

Penso que o mais importante é sabermos de onde viemos e o surf vem da natureza pura. Por isso, temos de ser pessoas limpas, nunca falar mal das outras marcas para vender a nossa, mas antes mencionar o que existe de bom nas nossas marcas. Estas deviam unir-se pelo surf e pela limpeza das praias que é muito importante. Este é o desporto que eu amo e para ele só quero o melhor. 

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Entrevista: AF