"O consumidor ainda está numa posição forte" - representantes de marcas fazem reflexões sobre a indústria do surf e previsões para o futuro
Representantes da Stokehouse Europe, Rip Curl, Liberated Brands, Z Supply, entre outros.
O ano de 2022 chegou ao fim, e não há como negar que os últimos dois anos foram de muita incerteza e tumulto em todas as áreas. Com a chegada de 2023, temos uma sensação de normalidade maior em relação aos anos que passaram, mas é possível que o mundo tenha mudado de forma definitiva. A indústria do surf com certeza tem vindo a reformular-se bastante nos últimos tempos. Com isto em conta, representantes de várias marcas de surf falaram à shop-eat-surf sobre tudo o que aprenderam ao longo dos últimos dois anos e o que esperam dos anos que estão por vir.
Foram consultados Derek O’Neill da Stokehouse Europe, Dylan Slater da Rip Curl, Todd Hymel da Liberated Brands, Mandy Fry da Z Supply, Pierre André Senizergues da Sole Technology, Martino Fumagalli da Union Binding Company, e Eric Carlson da The Leisure Collective.
"Só podemos ajudar os nossos consumidores se nos mantivermos fortes"
Sobre os últimos dois anos, Derek O'Neill garante que "aprendemos muito mais quando estamos a ser desafiados", e este período de tempo foi, sem dúvida, um período de desafios - os preços dos materiais aumentavam constantemente e demoravam o dobro do tempo a chegar. Ao mesmo tempo, a procura por produtos subiu de forma inimaginável; a inflação, a descida do euro, a guerra... tudo era novo. Para O'Neill, este era um momento de revisão: "pretendemos existir a longo-prazo, e por isso analisámos quem serão os nossos parceiros mais fortes daqui para a frente".
"Cada vez mais as marcas precisam de procurar um caminho até ao consumidor final se os caminhos tradicionais estão fechados", afirma. "Só podemos ajudar os nossos consumidores se nos mantivermos fortes. E para fazer isso, temos que dizer que não muito mais do que no passado".
Para 2023, a expectativa é que os consumidores na Europa sejam mais cautelosos com os seus gastos. Em contraste, espera-se um aumento de fluxo de turistas em Portugal, Espanha e França, o que pode aumentar a procura durante o verão.
Agilidade, paciência e cautela - palavras para 2023
Para Dylan Slater, a maior lição que os últimos dois anos ensinaram foi "a importância da agilidade. "A adaptação às mudanças rápidas para ir ao encontro das necessidades do consumidor tem sido a chave para o sucesso". Sobre 2023, Slater não está pessimista: "Apesar da incerteza económica que se avizinha em 2023, acredito que o consumidor ainda está numa posição relativamente forte. Também acredito que a participação no surf e o maior interesse no surf profissional são bons argumentos a favor de um 2023 positivo".
Em contraste com o que afirma Slater, Mandy Fry fala sobre paciência como uma das maiores aprendizagens dos últimos anos. "A capacidade de manter a calma, sem nos deixarmos levar pelas mudanças frenéticas, ajuda a construir o negócio de forma menos turbulenta". Sobre as incertezas que se avizinham, Fry repete a mesma ideia: a marca vai agir de forma conservadora, colocando sempre à frente os colaboradores, a missão e os retalhistas como a parte mais importante da empresa.
Também Pierre André Senizergues enfatiza a cautela quanto ao ano de 2023, mantendo o foco na qualidade dos produtos e na criação e fortalecimento de laços. Entre muitos planos para o futuro, a Sole Technology vai apostar nos Jogos Olímpicos e nos seus atletas que lá vão competir.
Quem pode singrar num cenário económico incerto?
Eric Carlson enfatiza a importância de saber o porquê da existência de uma empresa ou de uma marca, "não como um slogan de marketing, mas como um mantra interno que possa guiar as acções de todos de uma forma que seja vista e sentida e apreciada pelo mercado". Carlson também realça a importância da comunicação transparente, frequente e consistente.
Carlson acredita também que em tempos incertos como os que se avizinham, as marcas que têm mais chances de singar são as líderes do mercado e as marcas novas. As líderes, porque "os consumidores tendem a comprar as marcas em que já confiam"; as marcas novas "porque os consumidores pensam nas marcas novas como sinais de esperança e optimismo".
Martino Fumagalli resume em poucas palavras aquilo que foi essencial nos últimos dois anos, e que continuará a ser essencial daqui para a frente: "ajustar, adaptar e executar".