NIC VON RUPP: "SENTI QUE PODERIA TER IDO UM POUCO MAIS LONGE EM PIPE"

O ponto de situação com o surfista da Praia Grande depois do ótimo desempenho no Volcom Pipe Pro...

 

Nic von Rupp, 25, é, sem sombra de dúvida, um dos jovens mais promissores no panorama do surf internacional. Como é seu apanágio, começou o ano à procura de ondas perfeitas e tubulares, e para isso rumou ao North Shore para competir (novamente) no Volcom Pipe Pro. Do Havai regressou com um 17º lugar no currículo, algumas mazelas no corpo e uma ou outra história para contar. Confere o ponto de situação com o regressado surfista da Praia Grande.

 

Ótimo desempenho em Pipe. Parabéns! No entanto, aquele último heat dos 1/8 de final foi um bocado estranho. De alguma forma, sentes que ficou a faltar a estrelinha da sorte para que pudesses ter chegado um pouco mais longe?

Bem, toda a gente está a dar-me os parabéns por Pipe, mas, muito sinceramente não vejo porquê. Tive uma boa atitude ao longo do evento, atirei-me em ondas em que… se calhar não estava a pensar direito, pois queria apenas fazer bons tubos e fazer mais do que aquilo que é possível. É um bocado inglório entrar num campeonato em Pipe com ondas perfeitas e não conseguir fazer um score mais alto do que 10 pontos. Obviamente que, estando o mar tão perfeito, também se torna mais difícil obter notas altas. Foi uma prova onde não tive muita sorte, onde não consegui estar no sítio certo à hora certa. Só para teres uma ideia, dos três heats que fiz em Pipeline, em dois deles acabei por bater com muita força na pedra, algo que nunca me tinha acontecido por ali. Portanto, acho que até poderia ter ido um pouco mais longe… e também ficou a faltar a tal estrelinha da sorte para apanhar aquela onda mesmo boa que desse para fazer uma grande nota.

 

De uma forma geral, tendo tu usufruído das condições, como descreverias as fantásticas ondas dos últimos dois dias de competição?

Bem, Pipeline esteve de gala, com apenas quatro pessoas na água… mas por vezes ali esquecemo-nos um pouco que estamos na competição e o que conta realmente é fazer pontos. Se reparares, a maior parte dos heats estavam a ser passados com quatro e cincos pontos. Muitas vezes ficamos à espera da bomba que tanto pode ou não chegar em 25 minutos... e quando o faz até podemos não ter a prioridade.

 

Na tua opinião, qual o melhor surfista do evento?

Quem leva a taça são aqueles do costume: John John Florence, Kelly Slater, Jamie O’Brien e o meu amigo Marco Giorgio, do Uruguai, que se mostrou ao nível dos melhores e esteve constantemente a apanhar boas ondas. Foi incrível vê-lo surfar!

 

- Um daqueles momentos incríveis de Nic em Pipe. Foto: Pete Frieden.

 

Parece-te que o “approach” (abordagem) dos havaianos às ondas é realmente distinto dos surfistas europeus?

É assim… Os havaianos são realmente muito bons tube riders, também porque treinam muito nessas condições. Eles têm Pipeline e outras ondas incríveis em Kauai, por exemplo. No entanto, acho que nós, europeus, não ficamos muito atrás. Temos ondas na costa europeia muito boas que nos tornam também excelentes tube riders. Exemplo disso são o “Saca” e o Jeremy Flores. Eles (os havaianos) têm talento, têm mais praticantes e também uma cultura do surf bem superior à nossa o que faz com que comecem mais cedo a praticar e passem mais tempo na água. A água quente também ajuda, mas acho que no final acabamos também por ser reconhecidos internacionalmente como excelentes tube riders.

 

Estiveste envolvido num ou noutro “beating” mais agressivo. Como se reage a um caldo em Pipeline?

Os três maiores caldos da minha vida e no Havai aconteceram em dois heats do Volcom Pipe Pro. Como já disse antes, não tive muita sorte nas ondas e na verdade nunca tinha batido no reef de Pipe com tanta força. Desta vez aconteceu bater três vezes de seguida em dois diferentes heats. Num dos heats bati na pedra duas vezes com bastante força e fiquei imenso tempo debaixo de água, sem conseguir vir à superfície. Como bati com muita força, com várias zonas do corpo, fiquei mais ou menos em choque. Porém, a reação a um “beating” em Pipe é como em qualquer outra parte: temos que manter a calma e esperar que a onda nos deixe vir ao de cima. Quando parti a prancha e o leash, acabando também por fazer um estiramento num ligamento, foi bom ter contado com o apoio da Water Patrol. Eles estão sempre ao nosso lado e prontos para acudir caso algo de mais grave aconteça.

 

"Acho que poderia ter ido um pouco mais longe, mas ficou a faltar a estrelinha da sorte para apanhar aquela onda mesmo boa que desse para fazer uma grande nota"

 

E agora? Os planos para seguir no QS mantêm-se?

Para já decidi não ir à Austrália. Vou focar-me um bocadinho mais no plano europeu e também em aumentar a minha forma física. Portanto, o meu primeiro evento vai ser em Trestles (QS3000) e o meu objetivo para a temporada continua a ser o de dar-me bem nos campeonatos. Quero mesmo ganhar um campeonato este ano e voltar a competir nos Prime.

 

Como olhas para o Capítulo Perfeito, evento do qual fazes parte e já foste vencedor?

Para mim é um campeonato como o de Pipeline, é dos meus preferidos. Quando perco em Pipe fico mesmo triste, porque é um campeonato que se realiza anualmente e faz com que ande o ano todo a pensar naquele momento. Portanto, o Capítulo Perfeito enquadra-se no tipo de eventos com ondas tubulares e perfeitas que eu nutro imenso carinho. No entanto, ao contrário de Pipeline, o Capítulo Perfeito acaba por ser um campeonato que nos dá mais condições na água, com heats de 30 ou 35 minutos, dando-nos tempo para nos divertirmos e apanhar as ondas certas.

 

Como analisas o cunho cada vez mais internacional do evento?

Eu acho que é ótimo! Acho que é um conceito que o evento merece. Aliás, eu já tinha esta ideia desde o primeiro dia e finalmente está a concretizar-se. Obviamente, o nível está mais alto e torna-se mais difícil vencer, mas é um evento que sendo internacional traz também mais impacto para os surfistas. No geral, fica mais competitivo e isso acaba por ser bom para todos.

 

Última questão. Que tamanho gostavas de apanhar a edição deste ano na Praia do Norte?

Gostava de apanhar com dois metros e meio a três. Era bom para todos.

 

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Entrevista: AF com Pedro Almendra.

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