"HÁ MUITOS SURFISTAS DE ALTO NÍVEL SEM PATROCINADOR PRINCIPAL"

João Kopke, em entrevista à SurfTotal, faz um balanço do ano que passou, projeta 2015 e deixa muitas reflexões interessantes.



Aos 19 anos, o surfista de Carcavelos, João Kopke, falou connosco sobre a época de 2014, de um ponto de vista pessoal, mas não só. Com os pés bem assentes no chão e a revelar muita maturidade, João avaliou o panorama competitivo nacional, e projetou a época que agora tem início.


Antes de mais, pedia-te que fizesses um balanço da tua época competitiva em 2014. Sentes que foi um ano satisfatório para ti?

Em termos de resultados, números, não posso dizer que tenha sido um ano positivo para mim. Não me consegui qualificar para o mundial de juniores pelo Europeu, não tive grandes resultados na Liga Moche e fiz muito poucos WQS para ter algum peso nos rankings. Tive momentos competitivos muito bons, fiz vários heats com ondas de 8 e 9 pontos no europeu, fui terceiro sub 20 nacional. Mas falando em números, foi um péssimo ano cheio de coisas boas.



Que viagem, ou viagens, guardas na memória do último ano?

Mundaka, logo para abrir o ano, não sei se por acaso viram o vídeo da Surf Portugal, mas o Goofy de fato verde sou eu.  A notícia diz que o vídeo é uma compilação dos melhores momentos de Mundaka do ano passado, mas, felizmente, o vídeo não mostra as minhas melhores imagens. Essas ainda estão para sair... O sítio é mágico, tive óptima companhia, fui com o Pedro Boonman, um dos meus melhores amigos dentro do surf e, sobretudo, a onda é incrível. México também foi uma viagem que me marcou. Foi o meu primeiro WQS fora da Europa, fui com mais portugueses que estão "na luta" e termos todos passado heats significou que esta vida é possível. Infelizmente foi o único campeonato realmente longe que pude fazer por falta de mais budget.



Como avalias o ano que passou para o surf (e surfistas) nacional?

Tirando a saída do Tiago do Tour (e desde já muitos parabéns por tudo o ele fez pelo surf nacional) acho que foi um bom ano. Tivemos um 'world champ', mais surfistas nos Primes, grandes eventos, Cave, um 540, Capítulo Perfeito épico, uma liga super mediatizada, Surf à Noite com a praia cheia... tenho alguma pena de, com o surf sempre em grande, nós os surfistas não termos meios para fazermos o nosso trabalho de forma séria. Já não digo que possamos pagar a renda e o carro e levar a namorada a jantar, digo que tenho pena de que não tenhamos forma de sermos realmente profissionais, que existam surfistas de alto nível sem patrocinador principal e tantos outros que têm, mas que mesmo assim não chega nem perto do necessário. Não digo que todos mereçamos super contratos. Mas acho que havendo tanto dinheiro no surf português, é um pouco triste que tão pouco seja para a maioria dos bons surfistas portugueses competirem e se provarem no estrangeiro, para além dos mesmos 3 ou 4 de sempre (que têm todo o valor e  por isso é que têm oportunidades, acho é que não são os únicos com valor). Felizmente, continuamos todos a trabalhar para que isso seja só um contratempo!



Como viste a vitória do Medina no CT, achas que vem aí uma nova era?

Vi como uma coisa que mais tarde ou mais cedo iria acontecer. O talento não nasce em nenhum lugar, não há sítios que criam mais génio que outros. Depende tudo do ambiente que rodeia o talento. Fiquei muito contente em ver a confirmação do que eu já sabia, que um atleta pudesse estar no topo independentemente do seu país. Porquê   que os EUA podem ficar bons no futebol? Porque desenvolveram infraestruturas para isso. O Medina tinha um talento gigantesco, desenvolveu um trabalho e ganhou, espero que seja suficiente para se iniciar uma nova era e que o resto do mundo do surf perceba que é preciso apoio, que o talento sozinho não ganha campeonatos contra atletas que têm todos os meios para evoluir e todas as formas para treinar (sim, americanos e australianos).



Como está a correr a tua pré-época? Tens apostado de forma mais intensa em que detalhes?

Tenho apostado muito na parte psicológica, mais do que outros anos porque considero que, a este nível, normalmente não falta técnica nem táctica a ninguém.  Falta muitas vezes uma mente capaz de tomar decisões sob muita pressão em tempos demasiado curtos e quem a tem ganha campeonatos, quem não tem torna-se muito inconsistente. 



Como vai a relação com os teus patrocinadores? 

A minha relação com os meus patrocinadores é muito boa e têm-me vindo a ajudar muito estes anos. Infelizmente tem sido uma ajuda insuficiente para poder fazer tudo o que eu quero (e de certa forma, preciso). Isso obriga-me a repensar objectivos a cada início de ano. No entanto eu compreendo as dificuldades das marcas que me apoiam (e que, afinal, ainda são das poucas que investem no surf) e agradeço muito à O'Neill, Fonte Viva e  Polen, para além da Reef, Creatures e Bana que me apoiam com material técnico. Quem me tem ajudado muito, e eu tenho que mencionar aqui, é também o meu treinador Pedro Marques que faz e fez já tudo por mim e sem ele não podia estar tão bem como estou.


Quais as tuas grandes metas para 2015?

A nível competitivo o objectivo é principalmente a qualificação para o mundial através do pro júnior europeu. À parte disso, todos os WQS que puder fazer e, claro, produzir clips de muita qualidade que, na minha opinião, é algo que faz parte da agenda de qualquer bom surfista profissional e começa a ser um dos pilares da nossa carreira, quase tanto como a competição.

IG

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