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LISA MARQUES. O SEGREDO ATRÁS DAS QUILHAS
Com desenhos feitos nas quilhas de Marlin, a ilustradora esteve no Allianz Portuguese Surf Film Festival
“Acredito numa relação mais espiritual com o mar e é essa a relação que tenho. Surfo desde os 15 anos, mas daquilo que preciso mesmo do mar é o contacto. Tanto faz ser com uma prancha, a mergulhar ou a nadar. O que importa mesmo é entrar na água salgada”, confessou Lisa Marques à SurfTotal.
Lisa não é uma menina qualquer. Tem 25 anos, mas uma visão muito clara da vida. Aprendeu a surfar sozinha, com uma prancha do ISN e só começou porque acredita que viu alguém na televisão a fazer o mesmo. Natural de Paris, cresceu na Marinha Grande, mas foi parar a Peniche. Logo cedo percebeu que a vida tinha que levar outro rumo que não aquele que é imposto pela sociedade.
“Desde pequena que sempre desenhei muito. A minha mãe sempre me comprou todos os materiais necessários. Cresci e quis tirar um curso de design gráfico.” O trabalho de Lisa não passa despercebido e esteve em exposição na última edição do Allianz Portuguese Surf Film Festival, na Ericeira, a convite de Marlin, responsável pelo fabrico de fins feitos com material reciclado e de origem portuguesa. “O Marlin propôs-me fazer uma coleção porque ia ter aqui esta exposição. Ele sempre gostou muito do meu trabalho”, conta.
A inspiração para os seus desenhos vem muito daquilo em que acredita: a natureza misturada com a mitologia e a simbologia. “Tem aqui umas grandes maluquices”, diz-nos em tom de brincadeira. Falando um pouco mais a sério, “podes encontrar o marinheiro, as figuras mitológicas, as energias, as âncoras, a baleia. Aliás, na cultura maori eles acreditam que a civilização começou porque veio dentro de uma baleia. No fundo acaba por ter muita história em volta da simbologia… os triângulos, adoro triângulos porque é sinal de equilíbrio”, acrescenta, apontando para um dos trabalhos expostos.
"O barulho não faz bem e o bem não faz barulho"
Lisa acredita que é possível apenas viver da sua arte, mas não aqui. “Estamos habituados a objetos e a trabalharmos para termos mais por isso, aqui nunca nada será suficiente”, considerou. “Sabes, sou um bocado outsider. Não me identifico muito com esta sociedade e sou muito revoltada com isso, por isso é que estou sempre a fugir. Tenho uma frase que é o barulho não faz bem e o bem não faz barulho… para fazer o bem não precisamos de barulho, apenas de sermos nós próprios. Por isso, acredito que posso viver do meu trabalho, mas talvez lá fora”, continuou.
Desafiadora por natureza e porque acredita que a humildade é algo que deveria estar intrínseco no ser humano, entre um desenho ou outro, Lisa dedicou-se ao surf de ondas grandes. “Tirei agora o curso de tow-in e faço parte da jet resgate Portugal. É mais pelo desafio, isto ainda é muito recente.” Recente ou não, certo é que esteve na Papoa, quando a tempestade “Hércules” decidiu visitar a nossa costa. “Não apanhei nenhuma onda e cai duas vezes. Só sei que não conseguia….o Ramon só dizia: ‘pá vamos parar com isto, estás a cair muito já não estás a conseguir deslizar, alguma coisa se passa´ e eu só pensava que realmente não estava bem. Só me apercebi quando coloque o pé fora de água e cai para o lado, completamente sem forças e anestesiada”, recordou.
Questionada sobre se alguma vez pensou em seguir o surf profissional, Lisa diz-nos muito rapidamente que não. “O meu surf não é de performance e digo: não sou boa surfista. Gosto de surfar pelo contacto com o mar, apenas isso. Tanto que vou sempre à procura de ondas alternativas, onde não há ninguém. O fato de surfar ondas grandes é por desafio, para aprender o que é humildade, gratidão e pela natureza, pois acredito que ela está acima de nós.” Nem mais.
BS
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- Créditos fotos: Rui Oliveira