"Existe uma guerra que não foi ultrapassada" - Ivan Tomás, da Surf'Scool, comenta o conflito entre a FPS e a AESP quinta-feira, 02 fevereiro 2023 10:04

"Existe uma guerra que não foi ultrapassada" - Ivan Tomás, da Surf'Scool, comenta o conflito entre a FPS e a AESP

"Ninguém ficou satisfeito com a proposta da FPS".

 

 

 

No passado mês de Janeiro, a FPS apresentou um projecto de reestruturação do ensino do surf em Portugal que deixou as escolas preocupadas, alegando que essa reestruturação verificava diversas medidas complexas para as escolas. Após uma reunião entre a FPS e escolas de surf, a AESP divulgou um comunicado. A FPS respondeu, afirmando que o comunicado inclui "informações incorretas, incompletas e/ou descontextualizadas, bem como alegações infundadas", e salienta que a proposta feita pela Federação é um "trabalho em progresso e não uma solução fechada".

A Surftotal tem acompanhado de perto o desenrolar dos acontecimentos, e conversou com o dono de uma escola de surf que, não tendo ligações com a AESP, formula a sua opinião com alguma imparcialidade. O seu nome é Ivan Tomás, filho do conhecido surfista dos anos 70 e 80 na Figueira da Foz, Tomás. Ivan gere a escola Surf'Scool, na Figueira da Foz, ao lado so seu irmão mais novo, Igor Tomás. 

 

 

 

 

 

Olá Ivan! Muito obrigado pela tua disponibilidade. Consideramos este assunto muito importante e também sério, pois o sector do ensino do surf e as pessoas que o enriquecem são fundamentais para o desenvolvimento do surf no nosso país.

Como e porquê começaste a tua actividade do ensino do surf?

 

Olá! Antes de mais, eu sou filho do meio de um dos surfistas dos anos 70 e 80 chamado Tomás, da Figueira da Foz e como tal nasci e fui criado em cima de pranchas de surf, igualmente com dois irmãos.

A ideia da escola de surf foi do meu pai que está a viver há 26 anos na Holanda, mas nunca deixou de cultivar na nossa família o bicho. Desde muito cedo nos levou mundo fora para podermos ter uma visão aberta do que é o surf, não só como desporto mas também como modo de vida, e para continuarmos a fazer esse trabalho não só na família mas também com alunos e todos aqueles que querem experienciar e saber o que é o surf na sua essência.

A nossa escola foi criada da ideia do meu pai para três irmãos. Mais tarde um dos meus irmãos decidiu abrir a própria escola e acabamos por ficar só dois: eu e o meu irmão mais novo.

 

 

 

"Já não é qualquer pessoa que pode dar aulas sem que seja credenciado"

 

 

Como tens visto o sector do ensino do surf evoluir desde que começaste a tua actividade? Podemos identificar fases distintas? Se sim quais e porquê?

 

A parte do ensino acho que tem vindo a evoluir no bom sentido, uma vez que já não é qualquer pessoa que pode dar aulas sem que para isso seja credenciado. Acho que os cursos estão bem estruturados. Eu tirei na “Sharks Training” e acho que é bom para quem quer fazer vida de treinador de surf estar habilitado para isso, até porque na vida estamos constantemente a aprender e só assim evoluímos.

 

 

O que mais te tem motivado a estar ligado ao meio do ensino do surf?

 

Eu como já disse anteriormente nasci e fui criado no meio. Tenho um irmão mais velho com uma escola de surf também na Figueira e trabalhamos directamente na mesma praia. Não o vejo como concorrência mas sim como um irmão. Gosto de partilhar os momentos bons e maus que tenho na minha escola assim como ele faz o mesmo comigo e com o meu irmão mais novo, que é meu sócio.

 

 

"O sector de escolas de surf tem sido esquecido pela Federação"

 

 

 

O que sentes que seria importante fazer (e que por ventura não foi feito estes anos que passaram) para melhorar e organizar o ensino do surf no nosso país?

 

Acho que a parte do sector de escolas de surf tem sido esquecido pela Federação e percebo que existe um longo percurso ainda pela frente. Também acho que devia haver mais partilha, como tem acontecido ultimamente entre o sector, para que consigamos entre todos levar os nossos negócios mais além e para que tenhamos uma voz dentro da FPS, que não nos é dada. Em zonas de pequena dimensão como a Figueira acho que não é difícil haver coordenação entre todos, mas percebo que nas zonas de maior dimensão haja alguma dificuldade. Nessas zonas faz sentido haver um porta-voz eleito por todos que consiga passar a informação à FPS ou quem sabe mesmo a AESP se estas duas entidades se vierem a entender.

 

 

 

 

"Não há ninguém melhor para nos representar que nós próprios" 

 

 

Agora vamos a questões sobre esta situação que se tem vivido e que tem preocupado as escolas de surf em geral: esta proposta da Federação tem vindo a ser defendida pela própria como forma de auxiliar na gestão do ensino do surf em Portugal. Sabemos que não tens qualquer ligação com a AESP. Podes-nos dar a tua opinião? 

 

Na minha opinião e do que tenho vindo a perceber, ninguém ficou satisfeito com a proposta da FPS. Também percebi que de norte a sul tem havido trabalho junto dos municípios por parte dos operadores para conseguirem trabalhar da melhor maneira - como nós na Figueira da Foz o temos feito. Imagino que em zonas de maior dimensão seja mais difícil mas acho que não há ninguém melhor para nos representar que nós próprios, até porque somos nós que estamos no terreno e que sabemos quais as dificuldades existentes no local onde trabalhamos.

 

 

Que medidas têm tomado as escolas de surf no sentido de terem uma voz mais activa na FPS? Consideras que há abertura para tal por parte da FPS?

 

Logo de início, assim que a bomba foi lançada e depois de todos terem conhecimento - antes mesmo da proposta nos ser apresentada, devido a esta mesma proposta ter sido primeiramente exibida aos municípios e as capitanias de norte a sul do país -, o sector uniu-se num grupo de whatsapp e tem discutido nesse mesmo grupo e mostrado o descontentamento. Também tem feito chegar esse descontentamento através de e-mails para a Federação. De certa forma tem resultado, embora continue a haver intenção da parte da Federação de pôr isto em prática, o que é ridículo porque pouca coisa ali faz sentido.

 

Consideras que de alguma forma deveria existir um organismo na FPS que defendesse as escolas de surf em portugal? (Como existe a ANS para defender o interesse dos surfistas profissionais)? Se sim, como na tua opinião poderia ser?

Acho que faria sim sentido, se esse organismo fosse bem estruturado e funcionasse, porque teria que haver uma estrutura onde não houvesse conflitos de interesse entre membros internos da Federação e membros do organismo criado para dar voz ao setor.

 

 

"Enquanto a FPS não olhar para a AESP como um órgão agregador ao sector,

esta tem dificuldade em representar quem é associado."

 

 

Este diferendo é entre as Escolas de surf e a FPS? Se sim porquê? E porque razão na tua opinião a FPS dá tanta importância aos comunicados da AESP?

Sim, mas a AESP quer ser ela a representar o setor e a Federação não quer deixar essa fatia ser controlada por outra associação. Pelo que percebi existe uma guerra que já vem de trás entre a FPS e AESP e que não foi ultrapassada. Enquanto a FPS não olhar para a AESP como um órgão agregador ao setor, esta mesma associação tem dificuldade em representar quem quer que seja associado. Como tal, embora haja uma percepção de que ela esteja a trabalhar em prol do sector, não consegue fazer chegar essas ideias porque nem sequer são aceites pela FPS. Assim, o único caminho a seguir é todos nós, donos de escolas, fazermo-nos valer e pedir que a FPS arranje maneira de nos dar voz, uma vez que lhes pagamos obrigatoriamente cerca de 200 euros por ano para uma certificação que, traduzido para português, nada serve de melhoria ao sector e deveria servir para trabalho feito junto de todos nós, operadores, e não só para certificar no papel e inglês ver.

 

Queres acrescentar algo mais?

Acho que a própria Federação deveria perceber em que zonas do país existem dificuldades de operar, e juntamente com os operadores dessas zonas arranjar maneiras de ultrapassar essas dificuldades e posteriormente ir ao município mostrar o resultado do trabalho bem feito e coordenado entre Operadores, FPS e Município.

 

 

 

 

 

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