“O surf continua a ser para mim o regresso à base onde eu faço o meu reset”
Diz o ator Pedro Sousa...
Pedro Sousa é um dos mais emblemáticos actores nacionais. Para além de actor, Pedro Sousa é um grande surfista e chegou a ser campeão nacional de surf na categoria de sub-18.
O ator, que também foi apresentador no SurfTotal TV, é agora presença assídua nas televisões nacionais, mas é no surf que encontra a sua base e onde lava a alma.
Nesta entrevista exclusiva à Surftotal, Pedro Sousa falou-nos sobre como o surf e a sua carreira se conectam e ainda como está a viver esta fase da sua vida.
Foste campeão júnior de surf e poderias ter continuado a seguir esse caminho do surf de competição, no entanto optaste por te focar na representação. Sentes que o foco e a disciplina que a competição exige te ajudaram na tua carreira como ator?
Na verdade não sinto que poderia ter seguido no surf de competição porque não tinha apoios suficientes que justificassem esse percurso perante os meus pais, principalmente, porque ainda era novo. Claro que faz sentido essa questão do foco e a disciplina ajudarem no meu trabalho, mas acho que a calma que o mar transmite, apesar de eu ter feito surf de competição, é o que eu mais utilizo do surf neste meu percurso enquanto ator. Acho que é mais por aí que o surf me ajuda do que pelo foco e disciplina, porque eu fiz um curso de atores e foi-me transmitido também muito isso, a parte do foco e da disciplina, já que isto é uma profissão que parece que é uma brincadeira e é fácil as coisas não serem levadas a sério mas isto é uma profissão séria e convém respeitar.
“é essencial para mim ir ao mar lavar a alma”
És um ator muito ativo e tens tido muitos papéis em novelas nacionais nos últimos anos. O surf continua a ser para ti a tua forma de recarregar baterias e de voltares ao teu centro após o trabalho?
O surf continua obviamente a ser para mim o regresso à base onde eu faço o meu reset, um recarregar baterias, como bem dizes, tanto que cada vez que acabo um projeto, ou pelo menos quase sempre, sempre que posso, vou viajar, e à partida escolho sempre um destino que tenha surf para pelo menos ter essa segurança. Eu sei que se houver ondas eu estou bem independentemente se depois não gostar do resto, mas sinto que o surf é o meu ponto de partida e é essencial para mim ir ao mar lavar a alma.
“Quando fiz o “Deste lado da Ressurreição" achei que a parte do surf ia ser a mais fácil de filmar
mas na verdade a parte mais difícil de filmar foi mesmo a do surf”
Fizeste de ator principal no filme “Deste lado da Ressureição”, um filme que tinha o surf como tema central. Como surfista, como foi fazer esse papel?
Quando fiz o “Deste lado da Ressurreição" estava a começar o curso de atores e achei que enquanto surfista tinha muito a dar ao filme e que a parte do surf ia ser a mais fácil de filmar, mas na verdade a parte mais difícil de filmar foi mesmo a do surf, porque eu estava habituado a surfar livremente, chegar à praia, escolher o melhor pico e surfar o máximo naquele pico, e enquanto ator não. Eu estava condicionado a uma zona específica porque o cameraman estava naquela zona. Não podia surfar as ondas livremente, porque tinha de procurar o cameraman enquanto surfava e andar atrás dele, e foi uma experiência bastante dolorosa. E depois, como surfei, no início da produção, porque filmámos em duas partes, com um fato 3/2 todo roto, porque fazia sentido para a personagem, depois fomos filmar as outras partes de surf em abril, quando estava muito frio. Eu estava com esse fato todo roto e uma vez até tive uma paragem de digestão a meio das filmagens, porque são muitas horas de filmagens. Uma sessão de cinema são praticamente 12 horas, então trabalhas cerca de 10 horas e páras por duas horas. É muito tempo. Foi a parte mais difícil e pela qual eu não estava à espera.
Como foi para ti estares privado de fazer surf durante o período de confinamento por que passámos? Com essa experiência cresceu em ti a vontade de passar mais tempo no mar?
Foi bastante difícil. Eu nunca tinha ficado tanto tempo sem surfar, tirando uma vez que estive em Londres a morar dois meses. Na primeira fase do confinamento, no ano passado, fiquei o tempo todo sem surfar até ser permitido. Este ano temos andado com limitações em relação a mudanças de concelho e como eu moro em lisboa não consigo ir surfar enquanto esta proibição de circulação entre concelhos se mantiver. Já levantaram isso e agora voltaram a pôr neste momento, que estamos quase na Páscoa. Como estou a gravar uma novela e gravo praticamente todos os dias durante a semana, só tenho tempo para o surf ao fim de semana, que é quando a polícia aperta mais e na verdade quando há mais crowd. Eu já não tenho muita paciência para levar com crowd, por isso quando este confinamento levantar vou surfar mais, obviamente, e vou procurar sítios sem crowd porque a fase da competição já me passou há muitos anos atrás, então não tenho paciência para levar com pessoal que está a competir dentro de água quando na verdade estamos todos a fazer free surf e a curtir.
Foste um dos apresentadores na Surftotal Tv em 2009. Que importância teve a Surftotal Tv no início da tua carreira de ator?
Na verdade, não influenciou muito. Eu fui apresentador da Surftotal Tv enquanto ainda competia e o meu foco era o surf. O que me influenciou a querer ser ator foi ir ver o meu amigo Frederico Barata, que surfava connosco na Guincho Surf School, ao teatro e quis saber como é que se passava um texto do papel para palco.
Como tem sido ser ator nestes tempos de pandemia?
Ser ator nestes tempos de pandemia tem sido na verdade uma salvação porque em vez de estar fechado num apartamento venho sempre trabalhar. Estou com pessoas, apesar de estarmos sempre com máscaras e cumprirmos todos esses procedimentos que a pandemia exige, e não me posso queixar. Tenho tido muito trabalho nos últimos tempos. O ano passado também estava a trabalhar por isso não fiquei desamparado, ou seja, recebi o ordenado na mesma durante o tempo que não estive a trabalhar, o que é ótimo tendo em conta que há tantas pessoas em Portugal sem trabalho e a perder empregos, a perder casas e tudo e mais alguma coisa. Eu tenho muita sorte e sinto-me muito abençoado por estar a trabalhar independentemente da pandemia ainda existir, por isso só posso agradecer o facto de pelo menos essa preocupação monetária não existir neste momento. De resto é igual. O trabalho é igual, estamos em estúdio sempre com máscaras, quando é para gravar tiramos as máscaras e as cenas fazem-se na mesma. O trabalho de casa é feito da mesma forma, só muda mesmo quando estamos a gravar aqui em estúdio, que temos de usar máscaras, o resto é praticamente igual.