A SAGA DE UMA PORTUGUESA NAS MENTAWAI - O ANTES E O APÓS O INICIO DA QUARENTENA

Sofia Homem Ribeiro desfrutou das belas ondas das Mentawai e teve de voltar a Portugal mais cedo, mas só conseguiu entrar pela fronteira terrestre...

 

Quando Sofia Homem Ribeiro de 24 anos de idade e estudante (dupla Licenciatura em Direito e Gestão) na Universidade Católica do Porto decidiu embarcar numa viagem de sonho às Ilhas Mentawai na Indonésia, não imaginava o que a esperava. Na altura em que a viagem arrancou já se falava do Covid 19 mas nunca se imaginaria que a situação chegasse ao ponto de provocar uma quarentena generalizada em todo o Mundo.

 

Esta é a entrevista em que Sofia nos conta tudo.

*Fotos por Margarita Salyak

 

O Grupo a caminhar por uma praia paradisíaca !

 

 

Sofia, sabemos que chegaste ontem a Portugal após uma aventura sem precedentes. Conta-nos como surgiu a ideia de embarcares numa surftrip exclusivamente feminina nas Mentawai?

Surgiu quando eu estava "enterrada" em estudos, cansada de estar em casa e soube da existência da viagem, que me cativou logo porque tinha imensa vontade ir às Mentawai mas é difícil surgir oportunidade, visto que muito poucas das minhas amigas fazem surf e. portanto, é difícil convencê-las a ir para um destino destes.

 

 

"O previsto era termos estado 10 dias mas com toda a pandemia global do COVID-19,

infelizmente, tivemos que voltar mais cedo"

 

 

 

Sofia Homem Ribeiro!

 

 

Qual o conceito dessa trip? Conta-nos onde surfaram.

Tudo surgiu porque o ano passado a Julia Muniz e a Margarita Salyak (que organizaram a viagem) foram com as amigas para lá surfar e gostaram tanto que este ano quiseram repetir. No entanto, como as amigas não conseguiam ter disponibilidade, decidiram abrir vagas ao público, só para raparigas!

Todos os dias surfamos em 2 a 3 "spots", portanto ainda deu para alguma variedade, surfamos em Burgerworld, Pitstop, Bangbang, A-Frames, Goodtimes, Telescopes, Macaronis, Roxies, Lancers Right e ainda num pico que descobrimos lá, que pelo que soubemos até agora desconhecido e para o qual criamos o nosso próprio nome!

 

Quantos dias estiveram embarcadas?

O previsto era termos estado 10 dias mas com toda a pandemia global do COVID-19, infelizmente, tivemos que voltar mais cedo e tivemos apenas 6 dias completos.

 

 

"Acordávamos com o nascer do sol, diretas para a água,

fazíamos cerca de duas sessões de manhã e mais uma ou duas de tarde."

 

 

 

Quem foi na viagem? Surfistas de todo o mundo?

Sim! A Julia e a Margarita, que organizaram tudo e já eram amigas, sendo a Julia brasileira e a Margarita russa mas a viver no Hawai e que além de surfista é fotografa e foi quem fez a reportagem fotográfica e filmagens da viagem. De resto eram tudo surfistas vindas das mais variadas partes do mundo, como Peru, Austrália, Londres, Brasil, Canadá, Hawai, Dubai e eu de Portugal, claro. Quase ninguém se conhecia e portanto foi uma óptima oportunidade para também criar novas amizades com este interesse comum.

 

Muita diversão e companheirismo !

 

 

Que fizeram para além de surfar?

Comer e dormir ahah. Na verdade era praticamente isso. Acordávamos com o nascer do sol, diretas para a água, fazíamos cerca de duas sessões de manhã e mais uma ou duas de tarde, parando para comer e descansar. Fora isso, íamos dar umas voltas de paddle, líamos, fazíamos alongamentos, umas tocavam ukelele ou guitarra e cantavam, passeamos nas ilhas ao pôr-do-sol... e falávamos de coisas de rapariga ahah.

 

 

"Assim que conseguimos ter rede e comunicar com o mundo real,

apercebe-mo-nos do caos que entretanto se tinha instalado."

 

 

 

Sabemos que não havia net a bordo, quando chegaste ao Porto a realidade do mundo já tinha mudado, certo? Conta-nos como foi perceber?

Sim, nós lá estávamos numa realidade totalmente paralela, perfeita e sem virús. E quando não se tem rede, os dias aproveitam-se muito mais e parecem demorar uma eternidade, sentíamos que estávamos ali há várias semanas, é uma experiência que é muito rara de vivenciar nos dias de hoje. Assim que conseguimos ter rede e comunicar com o mundo real, apercebe-mo-nos do caos que entretanto se tinha instalado e das medidas drásticas que começavam a ser tomadas. Aí, todas em conjunto com a própria organização do barco, decidimos que seria melhor a viagem ficar por ali e cada uma voltar a sua casa, antes que tal já não fosse possível. Agora que cheguei ao Porto é que me apercebi do quão as coisas mudaram e da prisão que se vive por agora, especialmente em contraste com a liberdade em que estava. É um choque de realidades.

 

 

A perfeição das ondas nas Mentawai!

 

 

 

"Lá consegui ir parar a Istambul

mas quando lá cheguei vi que tinham cancelados todos os voos com destino a Portugal."

 

 

 

 

E a viagem de volta para Portugal? Como foi essa ultima aventura?

Essa já não foi tão animada ahah. Tentando resumir, não foi fácil porque praticamente não havia voos para Portugal, estava tudo a ser cancelado e a realidade constantemente a alterar, com novas medidas a surgir. Lá consegui ir parar a Istambul mas quando lá cheguei vi que tinham cancelados todos os voos com destino a Portugal e tinham muito poucos para o resto da UE. Optei por ir para Madrid (e felizmente este não foi cancelado) visto que pelo menos  já estava a aproximar-me fisicamente de Portugal, e de lá, depois de vários contratempos pois mal lá cheguei tinha acabado de ser imposta uma obrigação de estar no máximo 1 pessoa dentro de cada carro, lá consegui um taxista simpático que decidiu "fugir à lei" por se tratar de uma emergência e levar-me a mim e mais 4 portugueses, que entretanto encontrei no aeroporto, até à fronteira, em Vilar Formoso. Tivemos que a atravessar a pé para depois entrar num carro que pedimos a familiares que nos deixassem do lado português, para finalmente seguirmos viagem até aos nossas casas, sem perigo de contagiar alguém. Foi, de facto, uma grande odisseia mas correu tudo bem e já está tudo no conforto de casa!

 

O grupo próximo do final da viagem!

 

 

 

"Apesar destes contratempos finais, valeu mesmo muito a pena,

repetia tudo outra vez!"

 

 

Algo mais a dizer?

Que apesar destes contratempos finais, valeu mesmo muito a pena, repetia tudo outra vez, porque tive a oportunidade de conhecer e criar amizades com pessoas espetaculares e estar num dos lugares mais paradisíacos do mundo a surfar ondas perfeitas. Por isso, agradecer muito à Julia e Margarita por me terem proporcionado esta experiência, seguramente inesquecível! Espero a próxima!

 

 

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