Como é que o colonialismo influenciou o surf?
Curta-metragem da Red Bull 'Raça e Surf', explora o tema da herança cultural e racial do surf pela voz de Selema Masekela, que se esforça por manter vivo o assunto.
“Há algum desporto ‘mais branco’ do que o surf?”, perguntaram ao narrador da curta-metragem ‘Raça e Surf’, publicada ontem pela RedBull. “Já deveria estar habituado a esta questão mas magoa-me como da primeira vez”, porque há todo um contexto histórico por trás. Apesar do surf ser dominado maioritariamente por pessoas brancas, a história mostra que as raízes não o são.
Os primeiros relatos de surf remontam a 1640 no Gana, mas os primeiros registos documentais surgiram após a expedição do Capitão Cook, um explorador que desbravou o Pacífico. Na altura já se delizava pelas ondas e este preservou no seu diário detalhes daquilo que viu, em 1779. “Ele descreve observar os locais a surfar com uma sensação de admiração e fascínio”.
Mas por essa altura já a cultura do surf estava enraizada no Hawaii. Tanto quanto conta o produtor e jornalista, Selema Masekela, havia tradições onde se faziam cânticos para abençoar novas pranchas de surf, pedia-se aos deuses para trazer boas ondas e encorajar aqueles que se atiravam às ondas grandes. Foi neste sentido, mediante canções e story-telling que as histórias e nomes locais importantes foram-se perpetuando de geração em geração.
Este estilo de vida tinha no entanto um fim à vista, ou pelo menos uma tentativa disso. Com a chegada dos Impérios Europeus e Americanos, que se espalhavam pelo Pacífico, os povos indígenas foram transformados em “produtos coloniais”. Procurou-se pôr travão ao surf e aos rituais já que ninguém deveria ser distraído do trabalho. Ainda assim, não deixaram morrer a tradição e continuaram a escapulir-se para surfar.
As raízes que cairam no esquecimento e a segregação racial no surf
O avançar da história, acabou por espalhar o surf através do turismo e os locais, nomeadamente Duque Kahanamoku, começaram a atrair os olhares exteriores. A moda do surf caminhou para a Califórnia e foi lá que explodiu para o resto do mundo, ignorando-se a história e os protagonistas que estavam por trás. Segundo Selema Masekela, substituiu-se a herança havaiana pela versão Hollywood, potencializando uma "desigualdade estrutural". O narrador referiu ainda que passou a haver uma elite a dominar o surf ao longo da costa californiana e uma segregação em relação aos negros, que "não tinham acesso às mesmas praias". Neste contexto, Nick Gabaldon contrariou o bloqueio a remar durante 19 kilómetros desde Santa Mónica até à onda de Malibu, tida na altura como o epicentro do surf. Em 1975 fundou a Associação de Surf Negro depois da famosa revista Surfer escrever publicamente uma carta dirigida a si para se apresentar.
Hoje existem organizações comprometidas a dar seguimento à missão dos antepassados. A "1 Planet One People", é uma delas.
"Ainda há muito trabalho a ser feito para tornar este desporto verdadeiramente inclusivo. O oceano é para todos, é o equalizador final. Não importa de que cor, sexo, religião ou origem financeira de onde se vem", rematou Selema.
"Race & Surfing: A Brief History With Selema Masekela"