A FISICA DO SURF EXPLICADA DE UMA FORMA SIMPLES
Uma explicação da autoria de Nic Pizzo.
Ciente ou não, como surfista nós somos mestres de uma física complexa.
A ciência de surfar começa logo que entramos com a prancha na água. O tamanho e o peso da nossa prancha fazem com que ela desloque bastante água. Por sua vez, uma força flutuante, correspondente ao peso da água deslocada, faz pressão para cima, contrabalançando o nosso peso e o da prancha. Isso permite-nos flutuar enquanto esperamos para remar em direção a uma onda.
E o que exatamente nós esperamos? A onda perfeita, é claro. Como em outras ondas na física, as do oceano são uma troca de energia. O vento que sopra pelo oceano acelera as partículas da água perto da superfície, levando ao aumento das oscilações que acabam por formar as ondas. Estas variações da superfície plana são causadas pela gravidade, que tenta restaurar o estado plano original da superfície. Desta forma, quando as ondas se movem pela água, as partículas empurram e puxam as suas vizinhas através da pressão induzida da onda, e esse movimento propaga energia pela água em uníssono com o movimento da onda. O movimento dessas partículas é muito mais limitado do que o movimento geral das ondas. Perto da praia, o leito mais raso do mar confina o movimento das ondas a uma região mais limitada do que no mar aberto, concentrando a energia da onda perto da superfície. Se a topografia da costa for plana e suave, isso vai refratar as ondas para se tornarem mais paralelas à praia à medida que se aproximam.
Este é um momento crucial. Quando as ondas se aproximam, rapidamente viramos a nossa prancha na mesma direção da onda e remamos para igualarmos a sua velocidade. A nossa prancha forma um ângulo com a água, e isso cria uma pressão dinâmica no seu fundo, empurrando-nos assim como a nossa prancha para fora da água, para "navegarmos" pela superfície. Ao mesmo tempo, a crescente velocidade permite-nos mais estabilidade, pondo-nos assim de pé e surfar a onda.
Agora apanhamos a onda e deslizamos ao longo da sua parede, paralela à linha da costa. As quilhas da prancha permitem-nos alternar a direção e a velocidade com o constante reposicionamento do nosso peso. Na parte de cima da onda está a crista, onde as partículas da água sofrem sua maior aceleração. Isso força a que se movimentem mais rápido do que a parte de baixo da onda, lançando-se assim para frente, antes de quebrarem sob a influência da gravidade. Isso forma os característicos tubos e espumas das ondas quando elas quebram na praia. Às vezes, um cilindro é criado em parte da onda, fazendo assim um túnel de água conhecido como tubo. Devido a irregularidades no leito do mar e na própria ondulação, poucos tubos duram tanto quanto os lendários da costa da Namíbia, de 27segundos. Muitos surfistas que conseguem deslizar dentro dos tubos dizem sentir o tempo passar diferente ali dentro, fazendo disso uma das experiências mais mágicas que um surfista pode ter.
Obviamente, nem todas as praias são iguais. Canhões profundos ao longo da costa ou formações rochosas em lugares como Nazaré, Portugal, ou Mavericks, na Califórnia, refratam, num único ponto, a energia da ondulação que vem na direcção costa, criando ondas enormes, tão cobiçadas por surfistas de todo o mundo. E algumas dessas ondas viajam mais de uma semana com ondulações originadas a mais de 10 mil km. Ondas surfadas na Califórnia podem ter origem nos mares turbulentos da Nova Zelândia.
As ondas que surfamos, criadas pelo vento, são apenas a parte visível da contínua oscilação de energia que moldou o nosso Universo desde a sua origem.