Waikiki prepara-se para a última homenagem a Clyde Aikau, lenda do surf havaiano
O encontro está marcado junto ao estátua de Duke Kahanamoku, em Waikiki, e está aberto a todos.
No próximo dia 26 de junho, às 7h45 da manhã, a comunidade do surf no Havai — e todos aqueles que reconhecem a importância histórica e espiritual da cultura surfista — reúnem-se para o “The Last Ride with Uncle Clyde Aikau”, um paddle out coletivo em homenagem a Clyde Aikau, lendário waterman havaiano falecido a 3 de maio de 2025.
O encontro está marcado junto ao estátua de Duke Kahanamoku, em Waikiki, e está aberto a todos. Como é tradição nestas cerimónias profundamente simbólicas no Havai, os organizadores pedem que sejam trazidas flores soltas. No caso de colares de flores (lei), a linha deve ser removida antes de serem lançados ao oceano — um gesto de respeito tanto pelo homenageado como pelo mar.
A cerimónia promete ser um momento de forte carga emocional e cultural, representando a forma como o Havai continua a honrar os seus heróis do mar e a manter vivas as raízes espirituais do surf, onde este desporto teve origem.
Clyde Aikau, irmão do icónico Eddie Aikau, foi ele próprio uma figura incontornável do surf havaiano, conhecido pela sua ligação ao mar, pela sua coragem em ondas grandes e pela humildade que demonstrava fora de água. A sua partida deixa um vazio, mas também um exemplo de vida que continua a inspirar novas gerações de surfistas.
Origem da tradição do paddle out no surf
A tradição do paddle out como cerimónia memorial no surf tem raízes modernas, apesar de muitos acreditarem que remonta à antiga cultura polinésia ou havaiana. Historiadores e especialistas em cultura havaiana afirmam que os antigos havaianos enterravam os seus mortos em terra, e não há registos de rituais semelhantes realizados no mar na antiguidade.
O paddle out memorial, como é conhecido hoje, surgiu no Havai no início do século XX, especialmente entre os chamados “beach boys” de Waikiki — um grupo de instrutores e entusiastas do mar, incluindo figuras lendárias como Duke Kahanamoku. Estes surfistas começaram a realizar estas cerimónias para homenagear membros da comunidade que faleciam, formando círculos flutuantes no mar, partilhando palavras e lançando flores na água.
A prática popularizou-se e foi levada para o continente americano nas décadas de 1910 e 1920, espalhando-se globalmente com o crescimento do surf, especialmente a partir dos anos 1950 e 1960.
Significado cultural do paddle out:
Culturalmente, o paddle out é muito mais do que um simples memorial. Ele representa:
Ritual de despedida e celebração: Surfistas reúnem-se para homenagear e celebrar a vida de alguém querido que faleceu, formando um círculo no mar, partilhando memórias, lançando flores e, por vezes, espalhando as cinzas do falecido na água.
Símbolo de união e comunidade: O círculo formado simboliza a união e o apoio mútuo entre os surfistas, reforçando laços de solidariedade e pertença à “tribo” do surf.
Conexão espiritual com o oceano: Para muitos, o mar é visto como um espaço sagrado, e o paddle out reforça a ligação espiritual entre surfistas e o oceano, proporcionando também um momento de catarse e renovação emocional.
Ritual aberto e adaptável: Embora com raízes havaianas, o paddle out é um ritual flexível, que pode ser adaptado segundo as tradições locais e o perfil do homenageado, mantendo sempre o carácter de celebração da vida e da identidade surfista.