SOS Salvem o Surf diz não ter motivação para participar na Global Wave Conference 2023

O Grupo ambientalista mais conceituado de Portugal enviou um comunicado assinado por Pedro Bicudo...

 

Nos próximos dias 2 a 5 de Outubro, a Global Wave Conference (GWC) estará em Portugal pela primeira vez, para a sua sétima edição. A GWC é um evento internacional realizado de dois em dois anos que reúne algumas das principais Organizações Não Governamentais (ONG’s) de ambiente do mundo, académicos, oceanógrafos, ambientalistas, activistas, surfistas, políticos, a indústria do surf e as comunidades costeiras. Checa aqui mais informações sobre a GWC.

 

O SOS Salvem o surf considera que há uma descaracterização desta Global Wave Conference e que alguns dos speakers , em destaque, deste ano de 2023 fizeram carreira em grandes empresas poluidoras, que têm prejudicado em muito o ambiente.

 

"O surf, por ser um desporto praticado na natureza, tem associada uma imagem ambiental extremamente positiva, que sabemos ser usada em estratégias de marketing."  Diz Pedro Bicudo

 

 

 

Porque a SOS - Salvem o Surf não participa nesta Global Wave Conference ?

 


Passamos a citar o comunicado na íntegra:




"Em consequência de frequentemente sermos questionados sobre a nossa ausência na Global Wave Conference (GWC), decidimos comunicar a nossa opinião e posição sobre este evento


A SOS - Salvem o Surf participou em praticamente todas as edições da GWC, tendo suportado a participação de  voluntários para adquirirem conhecimento e partilharem conceitos e experiências sobre a componente ambiental associada ao Surf e desenvolverem capacidade crítica e motivação, promovendo a continuidade do trabalho da SOS. A GWC foi fundada por Angel Lobo e Tony Butt com o foco no pilar ambiental e cultural do surf, foco com que nos identificamos. A primeira edição foi organizada em Tenerife, Espanha por Angel Lobo, e tornou-se numa sequência de conferências, tendo  a segunda edição sido organizada por Tony Butt no País Basco em Espanha e França e sendo naturalmente apoiada pela associação local que é a Surfrider Europe. Seguidamente, a GWC passou por Rosarito no México, Cornwall no UK, Santa Cruz nos USA e Gold Coast na Austrália. Infelizmente, é quando chega a Portugal, que nós questionamos o foco desta conferência e consequentemente ela deixa de nos interessar.


A SOS não tem motivação para participar este ano. Na nossa perspetiva, a vertente que mais nos interessa, a vertente ambiental,  cedeu lugar nesta GWC a outras facetas do surf. De facto, esta conferência planeia dar o maior destaque a speakers que fizeram carreira em grandes empresas poluidoras, que têm prejudicado em muito o ambiente. O surf, por ser um desporto praticado na natureza, tem associada uma imagem ambiental extremamente positiva, que sabemos ser usada em estratégias de marketing. Algo, que agora é comum. No passado,  as gerações mais antigas só conseguiam ver surf na TV nos anúncios da Old Spice. Por exemplo, agora a palavra Surf até é usada para dar nome a uma marca de detergentes que encontramos em todos os supermercados. Esta estratégia de associação a algo “natural” pode tomar muitas formas. Esta edição da GWC tem entre os principais oradores e patrocinadores, marcas como a EDP, Microsoft e Mercedes, que não são marcas diretamente relacionadas com surf, apesar de mais recentemente terem feito essa ligação. Contudo, não podemos deixar de observar o passado destas companhias: a EDP, é tristemente famosa pelas suas centrais térmicas produtoras de CO2 e pelas suas barragens, que impactam negativamente os ecossistemas, reduzem significativamente o transporte de sedimentos para as praias e isolam comunidades locais. Por exemplo, as barragens que a EDP construiu nos rios Tua e Sabor foram combatidas durante anos por todas as grandes associações ambientais (ONGA) nacionais.  Do mesmo modo, a Microsoft é uma empresa de software, que apesar de se esforçar em termos de sustentabilidade, a sua pegada ambiental tem crescido, tendo tido um aumento de 21% em emissões de carbono. A Mercedes embora esteja a fazer um esforço por reduzir o impacto, é responsável por ter produzido alguns dos carros que mais combustível gastam. Também não consideramos que a prática de surf com o apoio de jet skis deva estar representada numa conferência de surf e ambiente.


Acresce que para salvar ondas e praias de agressões (tais como grandes obras costeiras, o excesso de esgotos ou a excessiva pegada humana) as comunidades locais são muito importantes. São os surfistas locais (tal como eram os canários nas minas de carvão) que se apercebem em primeira mão dos problemas na qualidade da água, das ondas ou dos ecossistemas.  São eles que acabam por ter o empenho necessário para resolver os problemas criados por outras atividades da sociedade humana e frequentemente arcar com todo o peso dos impactos e consequências. . Ora esta conferência não mostra o chamado "local organizing committee", que normalmente organiza qualquer conferência. Os organizadores são instituições estrangeiras como a Surfrider Europe, que são sediadas em França, no UK ou nos USA. Dessas instituições apenas devemos dar o crédito à Save the Waves Coalition que por exemplo se empenhou há cerca de 20 anos a salvar ondas em Portugal, na região da Madeira.


A SOS-Salvem o Surf é a única ONGA (associação ambiental portuguesa) especializada em praias e surf, desde há mais de 20 anos. Já organizámos dezenas de ações de salvamento de praias apoiados pela comunidade local e por cientistas, do Norte ao Sul do continente e ilhas. Em cada caso montamos eventos nas praias com a comunidade local e reunimos com Presidentes de Câmaras Municipais que representam o Povo e outros decisores tais como Secretários Governamentais. Também realizámos estudos sobre a renaturalização de praias, o valor do surf, a tecnologia do surf, e o mapeamento do surf. O nosso DNA não é o marketing, é o trabalho voluntário e transparente em prol das praias, das comunidades e dos ecossistemas. Não estamos disponíveis para limpar a imagem ambiental de outros.


Com as nossas melhores saudações oceânicas,

pela direção da SOS - Salvem o Surf,

 

Pedro Bicudo "

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