*Por Pedro Quadros

Pedro Martins de Lima, muito provavelmente o primeiro surfista português, faleceu.

Como surfista, tenho imenso orgulho em que tenha sido ele o primeiro, alguém que sempre dignificou o surf.

Como amigo há cerca de 15 anos, resumo o Pedro numa palavra, um Cavalheiro.  Sempre sorridente e bem-disposto, cuidadoso e polido no trato, encantava-nos a todos com as histórias de uma vida vivida em pleno. Pois não foi só pioneiro no surf, mas também noutros campos, como no Jazz - foi um dos fundadores do Hot Club de Portugal - ou no mergulho – onde lidou de perto com tubarões (e há fotos a prová-lo) e conviveu com outros pioneiros como o Jean-Jacques Cousteau.

Baseado num artigo que tinha lido, em 1945, numa revista americana chamada Popular Mechanics, que explicava o que era uma prancha de surf, o Pedro, na altura com 15 anos, construiu a sua primeira prancha, ainda em madeira. Podemos também considerar o Pedro como o primeiro body-surfer e body-boarder português pois, tendo visto numa outra revista um anúncio às barbatanas Churchill, aproveitou a oportunidade de um primo ter ido ao Hawaii para lhe pedir que lhe trouxesse um par.

Lightning Bolt

Das muitas histórias que contava relacionadas com surf, há uma que retive particularmente. Algures no anos 60, num dia de ondas maiores, e enquanto surfava no porto de pesca da Ericeira, andou às cambalhotas com a prancha de tal modo que esta o atingiu no nariz, partindo-o e deslocando o osso. Contava que no momento do embate, tinha perdido os sentidos por breves momentos. Felizmente, recompôs-se e saiu pelos próprios meios. Isto numa altura em que as pranchas eram muito mais pesadas do que as actuais, e em que ainda não havia “shops”. Mas o mais impressionante no relato, foi ele só passados uns dias ter ido ao médico.

Enfim, uma vida rica de aventuras. Tenho muitas saudades das longas e animadas conversas com ele e com a Mané.

A Surftotal lamenta o falecimento de Pedro Martins de Lima, uma enorme perda para a comunidade surfista portuguesa. Pedro desafiou limites para deixar o seu contributo como pioneiro do surf em Portugal, sempre mostrando os seus valores, o seu carácter e a sua coragem. Só temos a agradecer pelo legado que deixou.