Apesar da 'brazilian storm' o surf brasileiro vive dias complicados
Em contraste com o sucesso internacional dos surfistas canarinhos, o surf de base está em profunda crise.
Um dos pioneiros do surf brasileiro, o empresário Alfio Lagnado, criador da marca Hang Loose e patrocinador de Fábio Gouveia e Teco Padaratz, que abriram as portas do WCT aos brasileiros no final da década de 80 - deixou duras críticas à Confederação Brasileira de Surf (CBS) e às bases do desporto no Brasil - mas não é o único. Embora o momento seja de euforia para os brasileiros, com o fenómeno ‘brazilian storm’ e a recente vitória de Filipe Toledo em ambiente apoteótico no Rio de Janeiro, nem tudo está bem no reino do surf brasileiro.
Uma reportagem de fundo da Gazeta Esportiva desvenda que apesar do sucesso internacional, o surf brasileiro vive momentos muito delicados nas suas bases. O motivo? Amadorismo na gestão do desporto leva a falta de patrocinadores e consequentemente diminui as hipóteses de surgirem novos talentos.
As competições nacionais são escassas bem como o número de atletas federados. A somar a isto tudo a CBS vive em crise e clima de guerra política. “Infelizmente o surf amador está nas mãos errada. Com pessoas a querer enriquecer às custas do nosso desporto, que ainda caminha de joelhos no país”, diz Ricardo Toledo, pai de Filipe e bicampeão brasileiro. “Como serão as próximas gerações se não temos trabalho de base?”, questiona.
Até ambicionarem competir ao mais alto nível, todos os surfistas devem passar pelas competições locais, como aconteceu com Medina, Adriano de Souza ou Miguel Pupo. Mas para as novas gerações brasileiras não é fácil seguir este caminho, com a maioria das etapas do Circuito Brasileiro concentradas a Nordeste e a atraírem cada vez menos os principais atletas do país.
A CBS encontra-se sem fundos e patrocínios e os atletas que se deslocam a competições internacionais têm de pagar as despesas do seu próprio bolso. Para Alfio Lagnado a chegada das grandes marcas contribuiu para este fenómeno. “Antigamente havia muitas pequenas empresas a patrocinar vários pequenos eventos e surfistas. Com a vinda das grandes marcas, elas foram eliminadas. As gigantes não dão valor à formação dos atletas na base e preferem apoiar as estrelas mudnials. Não precisam de investir num jovem da Praia Grande, porque já têm o Kelly Slater”, afirma.
“Muitos atletas pequenos que estavam em desenvolvimento perderam o patrocínio, e o vários eventos acabaram. As grandes empresas são cotadas na bolsa de valores e estão preocupadas em vender, não têm o romantismo dos antigos donos de marca. É claro que, no fim das contas, todos querem lucro, mas antigamente havia um envolvimento maior com o desporto”, disse.
O estado de coisas do surf brasileiro apresenta, assim, um contraste brutal com a euforia causada pelo sucesso dos brasileiros nos circuitos profissionais da WSL. Apesar da crescente popularidade do surf no Brasil, que atraiu gigantes como a Oi, Alfio não acredita que estes patrocinadores queiram investir nas bases, pelo que o futuro do surf canarinho é, por agora, uma incógnita.