Com apenas uma etapa até ao mid-season cut, o que se está a passar com a Brazilian Storm?
Teremos atletas brasileiros na segunda metade do CT 2024?
Nos últimos anos, os surfistas brasileiros têm ocupado lugar de destaque a nível mundial, com os seus representantes a carregar a promessa de ser a próxima grande força dominante do surf. Protagonizada por Gabriel Medina, Italo Ferreira e Filipe Toledo, a chamada Brazilian Storm contra com outros nomes de peso - os irmãos Pupo, Yago Dora e João Chianca, por exemplo - que, não tendo Títulos Mundiais, têm ajudado a consolidar esta ideia de que existe um núcleo alargado e forte de surfistas brasileiros a ocupar o seu devido espaço no Championship Tour.
Mas quem. desconhecendo o histórico recente de vitórias dos atletas brasileiros, olhar para o panorama da elite mundial do surf este ano, dificilmente terá uma percepção tão favorável destes atletas. Chegamos à quinta etapa do ano, o Western Australia Margaret River Pro, e não só não há nenhum atleta brasileiro no top cinco, como nenhum atleta brasileiro está sequer perto disso. Yago Dora é quem está melhor classificado no ranking, em 16º lugar.
Este quadro é especialmente crítico tendo em conta que esta é a última etapa antes do mid-season cut. Depois dela, apenas os primeiros 22 nomes no ranking manter-se-ão no CT para a segunda metade do ano. Neste momento, além de Yago Dora, apenas Italo Ferreira (18º) e Gabriel Medina (20º) estão dentro do cut, e estes três atletas estão bastante perto da linha de corte. Ou seja, até ao final da etapa de Margaret River, ainda podem descer mais no ranking e deixar o Tour sem atletas brasileiros.
Claro que o contrário também pode acontecer: com bons resultados, estes atletas podem subir no ranking e revitalizar a fé na Brazilian Storm. Há ainda os atletas abaixo do cut, como Samuel Pupo em 25º lugar e Miguel Pupo em 26º, que têm uma última etapa para mostrarem o seu surf e voltarem para dentro do cut. Nada é certo ainda, a não ser o facto de que esta situação é invulgar tendo em conta o que tem sido o desempenho dos surfistas brasileiros nos últimos anos.
O que estará então a acontecer?
Duas baixas fulcrais
Após dois Títulos Mundiais seguidos em 2022 e 2023, Filipe Toledo era claramente o homem do momento, e quando anunciou, após a etapa de Pipeline no início de 2024, que se retiraria do Tour este ano para se focar na sua saúde mental, apanhou o mundo do surf de surpresa. Mas não foi só ele: logo antes de o circuito começar, João Chianca lesionou-se a surfar em Pipeline e tem estado todo este tempo em recuperaçao, também ele afastado da competição.
Talvez estas duas baixas tenham abalado a confiança dos restantes atletas brasileiros do Tour. Não que este possa ser atribuído como um único motivo, até porque, quando em 2022 Gabriel Medina se afastou do Tour pelos mesmos motivos que Filipe Toledo, os restantes atletas brasileiros não se deixaram abalar. Nesse ano, cinco surfistas brasileiros terminaram no top 10 (Filipe Toledo em 1º, Italo Ferreira em 2º, Miguel Pupo em 6º, Caio Ibelli em 8º e Samuel Pupo em 10º).
Há, claro, para alguns, a ideia de que existe alguma animosidade por parte da WSL para com os atletas brasileiros, o que podeira explicar esta queda repentina. No entanto, este ano, além do heat entre Gabriel Medina e Cole Houshmand em Bells Beach que muitos consideraram injustos, não houve outros julgamentos polémicos que pudessem prejudicar os surfistas a este ponto. Mesmo assim, pode ser que a mera suspeição de que essa hostilidade existe seja suficiente para abalar a confiança dos atletas.
E as mulheres?
Quando se fala na Brazilian Storm, não se pensa, por norma, no surf feminino. Isto porque as atletas brasileiras não têm, até agora, mostrado a mesma força que os seus colegas masculinos. A excepção à regra tem sido sempre Tatiana Weston-Webb, que conta com vários bons resultados ao longo da sua carreira no CT. Neste momento, está em 7º lugar no ranking, e a única outra atleta brasileira que a acompanha no CT é Luana Silva, em 10º lugar.
Tendo em conta que apenas as 10 primeiras mulheres no ranking sobrevivem ao cut, as duas surfistas também estão, como os homens, numa situação crítica, e dependem de um bom resultado em Margaret River para garantir o seu lugar no Tour.
Chegou a vez da Californian Storm?
Não há dúvidas de que quem está a roubar as atenções neste momento no Tour é o contingente californiano. Os atletas da Califórnia que estão neste momento no CT reúnem vários elementos que fazem deles os novos 'fan favorites': bons resultados, tanto na categoria masculina como feminina, com Griffin Colapinto e Caitlin Simmers a liderar os rankings; um sentimento de união e apoio mútuo; uma imagem bem trabalhada, através, por exemplo, dos vlogs dos irmãos Colapinto, que os torna bem vistos aos olhos do público.
Então, será que este é realmente o fim da Brazilian Storm, e a hora de dar a vez a outro fenómeno? Talvez. Ou talvez os atletas brasileiros tenham tido um início de temporada menos favorável, sem que daí se possa prever o seu declínio definitivo. A ascenção desta nova geração de atletas da Califórnia não significa que não haja espaço para outros atletas que o reclamem para si. O ano, a bem dizer, ainda vai a meio, e após o final da etapa de Margaret River, teremos uma ideia mais clara de qual será realmente o futuro da Brazilian Storm no CT.