
Jeremy Flores revela luta contra tumor cerebral: “Os meus filhos tornaram-se estranhos para mim”
“Durante anos tive enxaquecas, estava sempre cansado e sem motivação. Achei que era dos acidentes que sofri a surfar..."
Jeremy Flores, um dos maiores talentos que o surf europeu já viu nascer, partilhou pela primeira vez em quatro anos a sua dura batalha contra um tumor cerebral inoperável, numa entrevista comovente por ocasião da estreia do documentário "Dos au Mur" (“De Costas para a Parede”), esta semana em Paris.
“Durante anos tive enxaquecas, estava sempre cansado e sem motivação. Achei que era dos acidentes que sofri a surfar… até ver o tamanho do tumor numa ressonância. Estava sozinho e o olhar dos médicos dizia tudo”, confessou o francês à AFP.
Apesar de o tumor estar localizado na base do cérebro e inicialmente ser considerado inoperável, Jeremy foi submetido a uma cirurgia de alto risco em que esteve acordado durante todo o procedimento. A operação foi conduzida pelo neurocirurgião Hugues Duffau, e embora o tumor não tenha sido totalmente removido, passou a ser vigiado com ressonâncias a cada três meses.
“Tive de reaprender a falar, ler e escrever. Perdi grande parte da memória. Os meus filhos tornaram-se estranhos para mim.”
A sua carreira fala por si: campeão mundial júnior, rookie do ano no CT aos 18, vencedor de dois Pipe Masters (2010 e 2017), do Quiksilver Pro Hossegor em 2019 – o primeiro francês a consegui-lo – e vencedor do prémio Andy Irons Most Committed Award em Teahupoo (2011) com um 20 perfeito num dos dias mais pesados de sempre. Até Kelly Slater afirmou: “Jeremy surfa melhor do que eu à idade dele.”
Mas depois de se retirar do Championship Tour em 2021, Jeremy foi confrontado com a notícia que mudou tudo.
Hoje, quer que a sua história inspire outros. “Precisava de libertar isto do meu peito, de enviar uma mensagem aos meus filhos e a quem possa precisar.”
Entre os amigos, Slater foi o mais presente: “Ligou-me quase todos os dias, antes, durante e depois da operação.”
Jeremy Flores está vivo, consciente de que terá de viver sob vigilância, mas determinado a seguir em frente. “É preciso encarar o problema de frente… mas acima de tudo, é preciso continuar a avançar.”