Incêndios no Havai Incêndios no Havai Yuki Iwamura / AFP via Getty Images sexta-feira, 08 março 2024 10:47

A opinião de um especialista sobre a crise climática: Devemos sim estar assustados, mas é preciso ter esperança

O cientista climático Bill McGuire partilha as suas considerações.

 

 

 


A crise climática é um tema que faz parte do nosso dia-a-dia, e entendido de forma diferente por pessoas diferentes. Há quem esteja muito preocupado, e dedique a vida à procura por soluções – no activismo, na política, na ciência, na comunicação. Há quem esteja preocupado, sem que isso altere o curso da sua vida. Há quem nem sequer acredite no aquecimento global. Num artigo para a CNN, o cientista climático Bill McGuire serviu-se do seu conhecimento para partilhar qual estado de espírito, na sua opinião, é o correcto: Todos devíamos estar muito preocupados.

“A realidade é que, até onde sabemos, e no curso natural dos eventos, o nosso mundo nunca - em toda a sua história - aqueceu tão rapidamente como está a acontecer agora”, explica McGuire. “Nem os níveis de gases de efeito estufa na atmosfera viram um aumento tão precipitado”. Para colocar as coisas em perspectiva, “estamos a viver um episódio de aquecimento provavelmente único nos últimos 4.6 mil milhões de anos”.

McGuire entende que a sua profissão lhe permite ter um real conhecimento da gravidade da situação, conhecimento esse que não é acessível à maior parte das pessoas, o que impede a população de “agir eficazmente para enfrentar uma crise”. McGuire aponta o dedo às empresas e às figuras e partidos políticos, ”incapazes ou não dispostos a agir rapidamente o suficiente para travar as emissões como a ciência exige”. Cientistas como ele entendem como único recurso “tentar despertar o público para tentar forçar - através das urnas e escolhas do consumidor - as enormes mudanças necessárias para conter o aquecimento global”.

 

 

A verdade paralisa-nos ou motiva-nos?

 

Num parágrafo que faz lembrar o filme de 2020 Don’t Look Up, de Adam Mckay, McGuire pergunta: “Se eu gritar ao mundo verdade nua e crua, será que isso te mobilizará a ti e a todos a lutar pelo planeta e pelo futuro dos teus filhos? Ou deixar-te-á congelado como um coelho nos faróis, convencido de que tudo está perdido? É uma questão absolutamente crítica”.

Segundo um estudo publicado na revista científica Lancet Planetary Health em 2021, jovens entre os 16 e 25 anos em 10 países estavam, na sua maioria, “moderadamente a extremamente preocupados com as mudanças climáticas, mas mais da metade sentia-se sobrecarregada e impotente para agir”. Com base em dados como este, McGuire pergunta-se, então, como revelar a verdade sem causar desespero.

“Isto não é uma questão de assustar ou não assustar as pessoas, mas sim de as informar”, explica. “Tenho o dever de te informar sobre o que está a acontecer ao nosso mundo, quer isso cause medo ou não”.

A falta de informação, segundo McGuire, é ainda mais paralisante do que uma sobrecarga dela, e este problema já se faz sentir. “Muitos comentadores no espectro político à direita, juntamente com alguns cientistas do clima, chamam de pessimista qualquer pessoa que destaque os piores resultados do aquecimento global”, argumenta. “Esse ‘apaziguamento’ climático está a substituir cada vez mais a negação e pode ser um impulsionador ainda maior da inércia do que o medo, pois minimiza a enormidade do problema - e como consequência inevitável, a urgência da ação.”

 

 

Contra o medo, a esperança

 

A solução, para McGuire, é a esperança. “As pessoas conseguem suportar ter medo se souberem que ainda há esperança e que podem fazer algo para melhorar as coisas, ou pelo menos impedir que piorem”. O cientista apela à acção colectiva: a união “de um grupo de pessoas com ideias semelhantes”, para que trabalhem juntas “para impulsionar a mudança institucional e sistémica” Assim, substitui-se “o desespero pela esperança; a inércia pela ação”.

“Todos têm o direito de conhecer os factos”, defende McGuire “assustadores ou não, para que tenham a oportunidade de agir com base na realidade do que estamos a fazer ao nosso planeta e não em alguma versão sanitizada.” Conclui: “Em vez de levar à inação, acredito que isso pode ser transformador.”

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