Surfista Damien Castera documentou o dia-a-dia de artistas ucrânianos num cenário de guerra
Castera documenta a arte como uma forma de resistência.
Damien Castera, de 38 anos, é um surfista profissional francês que nos últimos anos tem-se dedicado à fotografia, filmografia e à escrita. Com um interesse especial por conflitos geopolíticos, um dos seus trabalhos mais marcantes foi o documentário que realizou em 2018, Water has no enemy, que acompanhou crianças-soldado na Libéria que trocavam as suas armas por pranchas de surf.
Mas um documentário sobre a Ucrânia não foi algo planeado. Inicialmente, o surfista pretendia viajar até à fronteira da Ucrânia com a Roménia para entregar suprimentos médicos, mas chegando lá perguntaram-lhe se queria seguir para Lviv, e mais tarde pediram-lhe que documentasse a viagem para um jornal francês. Castera decidiu regressar a França para ir buscar a sua câmara e o seu colaborador Michael Darrigarde.
Sem arte não haveria esperança
Castera quis trazer uma abordagem diferente ao seu documentário. Percebeu que a maior parte dos relatos da guerra "focava, naturalmente, na morte e na destruição", mas queria dar ênfase aos "escritores, artistas e músicos", e "contar as suas histórias enquanto eles seguiam as suas paixões".
A ideia, segundo explica, era entrar "no dia-a-dia destas mulheres e homens que usam a arte como forma de escape e resistência". Um pintor que faz quadros de ícones religiosos em homenagem aos soldados, artistas de rua que pintam carros militares, músicos que dão concertos no sub-solo ou tocam Vivaldi nos escombros de um edifício - todas estas histórias foram guardadas por Damien.
"Em Kiev, as pessoas dançavam e cantavam no parque entre os bombardeamentos (...), mesmo com 100,000 bombas a cair por dia no país", conta. " Estavam desesperados por manter os aspectos positivos e felizes das suas vidas antes da guerra, porque se não o fizessem, não havia esperança".
Foi para Castera uma experiência marcante em vários sentidos, até porque nunca tinha estado numa zona de guerra. O que para ele teve mais impacto foi ver a união da população, "a defender o país de todas as formas possíveis". O objectivo do documentário será "capturar a humanidade que emerge deste caos".
O filme está a ser editado e deve ser durante o Outono deste ano.