Mick Fanning foi um dos nomes apontados por Luiz Pinga como um dos lideres dos surfistas quando da sua presença no World Tour Mick Fanning foi um dos nomes apontados por Luiz Pinga como um dos lideres dos surfistas quando da sua presença no World Tour Boris Streubel/Getty Images terça-feira, 13 setembro 2022 15:19

"O surf perdeu toda a liderança" - Luiz 'Pinga' Campos sobre a falta de representatividade dos atletas de elite na WSL

Pinga falou sobre a liderança dos atletas, o desafio de treinar as camadas mais jovens, e sobre o percurso de Kikas. 

 

 

 

 

"30 Minutos de Onda" é o novo projecto da Surftotal, que consiste em conversas regulares sobre a actualidade do surf nacional e internacional, trazidas pelo jornalista e comentador de surf João Valente e pelo juíz internacional Pedro Barbosa, e com a mediação de Pedro Almendra, fundador da Surftotal.

O mais recente episódio de "30 Minutos de Onda" teve a presença de um convidado especial: Luíz "Pinga" Campos, mentor do actual Campeão Mundial, Filipe Toledo. A conversa deu-se logo após à Finalíssima em Trestles onde Toledo alcançou o seu primeiro título, e a conversa, naturalmente, abordou o evento. Mas Pinga, com a sua vasta carreira e alargada experiência, tinha muito mais a dizer sobre diversas áreas do mundo do surf. 

 

 

A falta de liderança e representatividade dos atletas de elite na WSL

 

Um dos temas abordados por Pinga prende-se com o envolvimento dos atletas na WSL para além do surf. A conversa partiu de uma reflexão sobre as várias alterações de formato que a WSL tem levado a cabo ultimamente e a consequente frustração por parte dos atletas que não estão de acordo com essas alterações. “Hoje existe um direcionamento da WSL para o lado do entretenimento, com uma preocupação com a audiência e com o público, porque é um negócio", explica Pinga.

 

"Mick Fanning faz falta como surfista e como liderança."

 

Porém, o treinador aconselha a que se veja os dois lados da moeda: se por um lado as decisões da WSL podem ser questionáveis, por outro, talvez esse questionamento não esteja a ser eficaz. Para Pinga, os atletas estão pouco envolvidos com os bastidores da organização em comparação com gerações anteriores. “Não vejo hoje nenhum atleta com o compromisso e o envolvimento que tinha o Jake Paterson, o Mick Fanning, o Ace Buchan". 

Pinga considera que "falta aos atletas uma representatividade melhor, mais coerente, mais inteligente” Com nomes como Mick Fanning, Ace Buchan e Joel Parkinson fora de cena, “O surf como desporto perdeu toda a liderança". O treinador conta que quando se encontra com Fanning diz em tom de brincadeira que ele deveria voltar, pois faz falta "não só como surfista, mas como liderança". 

 

 

O ambiente tóxico no surf competitivo jovem mundial

 

Pinga falou também sobre o panorama actual da preparação de crianças e jovens para uma carreira no surf, afirmando que é um universo cada vez mais tóxico para os jovens atletas. Pinga conta que já presenciou agressões entre pais e mesmo para com os próprios surfistas, e relata que, conversando com os pais dos seus atletas, pergunta se “já pensaram que os seus filhos podem ter vergonha de ir aos campeonatos por causa das suas atitudes".

 

"Se tivessem pressionado, Italo não era campeão mundial."

 

 

O resultado deste tipo de atitude para com as camadas mais jovens será "uma geração de crianças frustradas, que não estão preparadas, estão a pular etapas”. A solução, afirma, está no desenvolvimento de "um trabalho diferente até aos 12, 13 anos. Criar um tipo de evento diferente. Nas férias, um evento de 10 dias e fazer a separação para mostrar aos pais as diferentes fases. Criança é criança.”

Para Pinga, a pressão não é necessariamente o caminho, mesmo quando os atletas começam a amadurecer. Explica: “Se tivessem pressionado, o Italo não era campeão mundial. Ele não foi vencedor a nível nacional quando era amador. Ganhava os eventos regionais. Temos que olhar para a frente. Onde ele pode chegar. Sendo bem realista e verdadeiro com a criança.”

Pinga sublinha também a importância de uma formação académica além do surf, e de incentivar os atletas a não menosprezar os estudos em prol de uma carreira competitiva. "O atleta culto, educado, que estudou, tem uma chance muito maior de sucesso no alto rendimento". 

 

 

 

Kikas, "um atleta perfeito"

 

A propósito da importância da formação paralela ao surf, Pinga aproveita para falar de Frederico Morais como um exemplo. "Um atleta perfeito", diz Pinga, vê em Kikas um conjunto de valores - "educado, culto, que vem de uma família de desportistas" - que representam um "diferencial". 

Pinga refere também Vasco Ribeiro, que descreve como "um menino de ouro", mas a quem "faltou uma orientação na fase entre os 15 e 20 anos, alguém que lhe perguntasse ‘onde queres chegar?’ e dizer ‘Para chegares lá, tens que fazer isto, e abrir mão disto. Há um preço. Estás disposto a pagar o preço ou não?'”

 

Podes assistir na íntegra ao segundo episódio de "30 Minutos de Onda" no vídeo abaixo:



 

30 minutos de Onda - Mentor de Filipe Toledo explica como este atingiu o título Mundial de Surf 2022 Surftotal

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