De campeã mundial a motorista de um autocarro escolar
A história de Pauline Menczer, campeã mundial em 1993
Atualmente, Pauline Menczer, de 50 anos de idade, leva uma vida bastante mais modesta e silenciosa do que quando surfava, desde os seus 13 anos, em Bondi Beach, vencendo o campeonato mundial, em 1993. Vive nas proximidades de Brunswick Heads com a sua mulher Samantha e ganha a vida a conduzir um autocarro escolar.
"Realmente eu amo isto.
É ótimo ser uma boa influência para as crianças"
A atleta, que era das poucas meninas que surfava numa das praias mais icónicas de Sydney, na Austrália, foi criada apenas pela mãe. Cresceu sem pai (motorista de táxi que foi assassinado) e foi, muitas vezes, vítima de abusos sexuais por parte de surfistas de Bondi. Pauline estava tão longe do ideal de surfista daquela época que não conseguia patrocinadores. Fazia, então, o que podia para continuar a competir- vendia rifas, roupa que importava e velharias que encontrava nas ruas. Colecionar latas de alumínio, confecionar bolos e vender caramelos na escola também permitiam arrecadar algum dinheiro para ir às competições.
Foi quando Menczer estava falida, que veio ao de cima o que fazia de melhor no surf e, com 23 anos, acabou por vencer o campeonato mundial (mas, nesse ano, não havia dinheiro para o prémio, pelo que ganhou apenas um troféu que veio a perceber que estava partido).
Nas semanas que antecederam o campeonato, a surfista lutou contra uma artrite reumatóide incapacitante (doença reumática que provoca dor e afeta a qualidade de vida) e mal conseguia andar. Mas no dia da prova final, a tamanha adrenalina e determinação conseguiram diminuir a dor por um momento e Pauline venceu o campeonato, voltando para a praia a coxear. Toda esta fase não foi fácil: a artrite reumatóide incapacitante deixava-a frequentemente debilitada. Havia histórias da atleta a ser carregada por carros após as baterias e recuperar em cadeiras de rodas.
Ao longo da sua carreira, por medo de críticas e calúnias homofóbicas, Menczer sempre escondeu a sua orientação sexual, omitindo que a sua “treinadora” era, na realidade, sua namorada.
Nos últimos dois anos, desenvolveu uma doença autoimune rara que causa bolhas dolorosas e queimaduras na pele. Preocupada com a água suja depois de todas as chuvas nos rios do norte de Sydney e com o coronavírus, a ex-atleta apenas conseguiu surfar meia dúzia de vezes, no ano passado.
Podemos ficar a conhecer ainda mais sobre a história de vida desta surfista campeã que se tornou condutora de um autocarro já no dia 11 de Março. Estreia, nos cinemas, o documentário Girls Can't Surf, do diretor Chris Nelius, sobre as mulheres pioneiras que invadiram o mundo do surf (dominado pelos homens nas décadas de 1980 e 1990) e relata como foi difícil para todas as mulheres quando começaram a participar em competições.
Inspirado pela história particularmente difícil de Pauline Menczer, Nelius está a tentar pressionar o Conselho de Waverley para fazer uma estátua de Menczer na sua praia natal. “Ela é a única campeã mundial de surf de Bondi, merece ser reconhecida.” A prefeita de Waverley está a considerar a proposta e irá fazer uma homenagem, também, numa nova galeria digital de Bondi. Nos Estados Unidos, dois fãs do surf, Mimi LaMontagne e Sophie Marshall, começaram uma campanha do Gofundme para arrecadar e doar-lhe os 25.000 dólares em prémios que Menczer deveria ter recebido.
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