Vitória no QS3000 de Santa Cruz dá novo fôlego financeiro a Marco Giorgi
Campeão do Pro Santa Cruz fala da importância de ter vencido a 26.ª etapa do WQS…
O Surf, para nós, é o desporto mais incrível e apaixonante à face da Terra. No entanto, viver estritamente para ele e à conta dele, nos dias que correm, não é uma tarefa fácil. É preciso muito jogo de cintura. O mercado não está fácil e são muitos os surfistas profissionais sem um patrocinador principal que fazem das tripas coração para se manter no ativo.
A história de Marco Giorgi, revelada pela Surfline, é um bom exemplo. O surfista uruguaio, nascido em Montevideo há 29 anos, que vive atualmente no Brasil, passava pelo pior momento de sempre da sua carreira há uma semana atrás. Acontece que perdera o seu patrocinador principal há pouco tempo, não tinha dinheiro no banco e encontrava-se no 250.º posto do ranking do circuito mundial de qualificação. Há precisamente um ano atrás o cenário era bem diferente - Marco encontrava-se no top 20 e auferia um salário mensal do seu patrocinador de longa data.
Depois da perna australiana, onde gastou um montão de dinheiro e terminou no 121.º lugar nos dois campeonatos em que participou (Newcastle e Manly Beach), o desânimo tomou conta do uruguaio. Foi então que reagiu e decidiu rumar à Indonésia onde visitou as Mentawai. Por lá cruzou uns tubos incríveis e voltou para casa com as baterias recarregadas.
Foi com os últimos tostões da sua conta bancária, bem como com o dinheiro angariado através da venda de pranchas de surf nas redes sociais e a amigos, que juntou a verba necessária para visitar Portugal e participar no QS3000 de Santa Cruz - a 26.ª etapa da Qualifying Series.
Frente ao amigo brasileiro Thiago Camarão, depois de ter eliminado alguns nomes sonantes como o do japonês Hiroto Ohhara e o do americano Kanoa Igarashi, nas meias e quartos de final, respetivamente, Marco Giorgi acabou por levar a vitória nas águas de Torres Vedras por uma diferença de apenas 0.40 pontos.
A vitória, a primeira de sempre no seu currículo no que diz respeito a eventos com a sigla da World Surf League, catapultou-o de 250.º para o 23.º lugar do QS e garantiu 12 mil dólares de prémio. À beira da “bancarrota”, Giorgi pôde, finalmente, meter as mãos à cabeça e respirar de alívio.
“A minha conta estava quase a zeros. Tive que vender pranchas e fatos de surf para financiar-me e poder fazer esta prova e as próximas da África do Sul e da Califórnia que são sempre de custos elevados. Estava quase morto, sem dinheiro… E isto, claro, é uma enorme pressão, uma pressão que já senti na Austrália. Gastei muito dinheiro e não ganhei um centavo; foi a primeira vez que competi assim e não aguentei a pressão. Incomodou-me, nunca consegui surfar tranquilo. Estive sempre a pensar em pagar contas, no cartão de crédito,” começou por explicar o campeão do Pro Santa Cruz à Surfline.
- O uruguaio a rasgar o mar do oeste português na semana passada. Foto: WSL/Masurel
“Aqui (na prova de Santa Cruz), por alguma razão, senti-me mais tranquilo, mais confiante, as coisas fluíram melhor para o meu lado. Isso ajudou a aumentar os índices de confiança e, a determinada altura, esqueci a pressão, as contas e os problemas financeiros, concentrei-me apenas em surfar e em viver o momento. Felizmente, tudo acabou por correr bem,” rematou o talentoso surfista uruguaio.
É verdade que há muitos surfistas profissionais que passam uma vida sem vencer um único campeonato da alta roda do surf. Esse não é mais o caso de Marco Giorgi que, mais confiante do que nunca, está pronto para o desafio que se segue. O uruguaio vinha a desdobrar-se em tarefas para se manter à tona, mas a vitória no Pro Santa Cruz presented by Oakley funcionou como uma espécie de balão de oxigénio, permitindo que este, entretanto, continue a fazer o que mais gosta na vida.
Uma fantástica história da tribo que merece ser partilhada.
Parabéns Marco e sê sempre bem-vindo a Portugal!