Não é definitivamente um assunto que reúna consenso, longe disso, mas o surf na gravidez é possível e depende muito da disposição das mulheres para o fazer. Estar grávida obriga a alguns cuidados e precaução, obviamente, mas não é uma doença. 

Em tempos vimos o exemplo de Holly Beck Obermeyer, que à 32ª semana de gestação, o equivalente a oito meses, ainda continuava a surfar (de shortboard), e da conhecida Bethany Hamilton que surfou praticamente até aos 7 meses de gravidez. 

Esta semana foi-nos dada a conhecer a fantástica história de Renata Porcaro, que aproveitamos para partilhar mais abaixo e que surfou, literalmente, até não conseguir mais. 

“A minha vida sempre foi guiada pelo oceano. Sou oceanógrafa e apanho ondas de longboard. Desde a minha infância quis morar perto do mar e, em 2015, fui viver para Ubatuba. A felicidade foi tamanha que com ela veio um presente do amor. Descobri que estava grávida e a mistura de emoções envolveu alegria e incertezas: será que eu conseguiria continuar a surfar?

A gestação e a maternidade envolvem muitas questões. Num mundo moderno, no qual é cada vez mais difícil ser natural e no qual o direito da mulher de parir lhe é negado, enfrentei uma jornada para conseguir ter os meus direitos garantidos e proporcionar um nascimento digno ao meu filho. Nessa jornada tive o prazer de conhecer pessoas incríveis que me ajudaram com muito conhecimento e na tomada de decisões. 

O tempo foi passando e a primeira etapa dessa jornada seria encontrar um obstetra. Tive duas tentativas frustradas com médicos do convénio: a primeira disse-me que eu deveria parar imediatamente as minhas atividades (surf e bike), embora estivesse apenas no terceiro mês. A segunda médica parecia uma pessoa muito fixe, mas todas as vezes que eu perguntava sobre o parto ela mudava de assunto. Até ao dia que cheguei atrasada para uma consulta e ouvi a secretária a agendar as cesarianas. Nesse dia eu nem entrei no consultório. Eu tinha pavor em pensar que o meu filho poderia ser retirado apenas por conveniência médica e ter o seu tempo de nascimento desrespeitado. 

Continuei à procura e resolvi inverter o caminho. Fui atrás de uma doula, que nada mais é que uma assistente de parto, que orienta e conforta a mulher antes e durante o trabalho de parto. Numa primeira conversa com Andrea fiquei encantada e ela acabou por me ajudar na escolha da médica, a Dra. Fabiana, e da obstetriz Bianca. A equipa estava formada e fiquei muito confiante que tudo iria correr da melhor forma. 

Com a aprovação médica, continuei a surfar e com o passar dos meses o meu centro de gravidade foi-se alterando, o que chegou a ser engraçado. Selecionava o mar em que ia entrar, pois não podia correr riscos de magoar ou bater com a barriga, mas a cada dia eu passava mais tempo no mar e apanhava menos ondas. A remada também passou a ser uma dificuldade. Comecei a remar de joelhos e deitava-me na prancha apenas no momento de entrar na onda. Até que um dia não consegui mais e surfei só com barbatanas e um handplane. Foi muito divertido e supria um pouco a necessidade de estar no mar e sentir a energia das ondas.

Então finalmente chegou a hora de surfar a melhor onda da vida. O momento do sagrado feminino mostrar sua força e mudar a minha vida de forma linda e definitiva. Conheci o verdadeiro significado do meu nome e renasci de uma forma que nunca imaginei que poderia acontecer. 

Benjamim nasceu no dia 29 de junho de 2016 e, passado exatamente um mês, eu estava de volta às ondas. A readaptação não é fácil, principalmente com relação ao tempo, pois os bebés precisam de muita atenção e dedicação. Os meus treinos são agora mais curtos e o tempo na água é cronometrado. Mas está a ser uma experiência maravilhosa e que só agrega coisas boas na vida. 

Eu e Bruno temos agora o melhor companheiro de praia e nos revezamos na função que é cuidar de um serzinho tão incrível e naturalmente sábio.”

Agradecimentos: 

Benjamim Porcaro Vasconcellos

Dr. Ivan Maroso Alves

Andrea Steiof (Doula)

Dra. Fabiana Oliveira Garcia (Obstetra)

Bianca Rocha (Obstetra)