POLUIÇÃO EM MATOSINHOS É UM PROBLEMA SÉRIO?
Além da ETAR, conhece os rios e ribeiras que ajudam a agravar a qualidade das águas…
A ETAR, estação de tratamentos de águas residuais construida pela C.M. Matosinhos em finais dos anos 90 veio minimizar o impacte de efluentes de origem poluente, naquele concelho, e consequente melhorar de uma forma consideravel a qualidade da água das Praias do Concelho de Matosinhos. Recorde-se que durante os anos 80 e 90 do século passado, as atividades aquáticas ditas lúdicas, onde se inclui o surf, eram praticados de uma forma livre e já por centenas de praticantes naquela altura. Apesar da água extremamente poluída a qualidade das ondas das Praias de Matosinhos faziam as delicias dos surfistas de então.
Esta noticia visa, não alarmar, mas sim informar a situação atual das Ribeiras e cursos de água afins, potêncialmente poluidoras das Praias do Concelho de Matosinhos.
POLUIÇÃO EM MATOSINHOS É UM PROBLEMA SÉRIO?
Estávamos no início de novembro quando a Câmara Municipal de Matosinhos enviou uma missiva (ver aqui) para todas as associações e escolas de surf do concelho que utilizam frequentemente a Praia de Matosinhos para as suas aulas de surf e bodyboard, desaconselhando a prática destes desportos de ondas (e até de banhos) até março de 2017.
A causa, segundo o Pelouro do Ambiente, reside na implementação do tratamento secundário da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Matosinhos, que leva a manobras de interrupção parcial e que poderão refletir-se na qualidade da água das praias do concelho durante esse período.
Coincidência ou não, nas últimas semanas os vídeos das descargas poluentes têm vindo a multiplicar-se nas redes sociais. Isto levou também a inúmeros relatos de indisposições e de efeitos secundários entre os praticantes de surf.
O município de Matosinhos, que apresenta uma área de 62,30 km2 e 169.261 habitantes encontrando-se subdividido em 10 freguesias: Lavra, Perafita, Santa Cruz do Bispo, Guifões, Custóias, Leça do Balio, São Mamede Infesta, Senhora da Hora, Leça da Palmeira e Matosinhos; tem manifestado ao longo dos últimos anos uma grande preocupação na resolução de problemas ambientais, nomeadamente os que influenciam negativamente a qualidade das águas das ribeiras e, por consequência, as águas balneares.
No entanto, apesar da boa vontade camarária, as descargas de efluentes domésticos, pecuários e industriais e as práticas agrícolas inadequadas têm levado à degradação da qualidade das águas superficiais nos rios e ribeiras que desaguam na costa. A necessidade de um planeamento e a uma gestão integrada dos recursos hídricos mais acentuada é premente.
Portanto, além das obras de interrupção que estão a ter lugar na ETAR, os rios e ribeiras do concelho que desaguam no mar também são focos de poluição para as praias de Matosinhos. É que, de um modo geral, o concelho é fortemente urbanizado e industrializado levando a grandes impactos sobre os cursos de água. Hoje em dia poucos são os cursos de água que não apresentam modificações ou artificialização ao longo do seu percurso favorecendo o aparecimento de situações de descargas ilegais. A indústria presente nesta região é bastante diversificada sendo predominante o sector têxtil, alimentar, metalúrgico, transporte, automóvel (oficinas manutenção), refinaria e agropecuária.
Num estudo independente recente, tendo como base algumas das ribeiras e rios do concelho, e o impacte destas sobre a qualidade das águas balneares, concluiu-se que a Ribeira do Sardoal apresentava o valor médio mais elevado de Escherichia coli e a Ribeira de Joane o valor mais elevado de enterococos intestinais (os parâmetros a ter em conta na avaliação e classificação das águas balneares), apesar de em muito menor quantidade comparativamente com a Escherichia coli.
É de notar também que os valores médios obtidos para Escherichia coli foram sempre superiores aos valores médios obtidos para os enterococos intestinais em todas as estações de amostragem. Como os enterococos intestinais não se conseguem multiplicar em ambiente aquático, isto significa que em todas as estações de amostragem existe contaminação fecal de trato intestinal de animais de sangue quente recente (mais tarde esta confirmada com os valores de Escherichia coli).
CONCLUSÃO
No Rio Onda, face às análises efetuadas em dois locais diferentes, concluiu-se que a água deste, no limite do concelho, apresenta dois tipos de poluição: inorgânica e microbiológica. Na foz, porém, apresenta caraterísticas de poluição inorgânica e apresenta também nutrientes orgânicos.
No Rio Leça também foram analisados dois locais para, tal como no Rio Onda, se ter uma ideia da qualidade da água do rio quando chega ao concelho de Matosinhos. Num dos pontos, o Rio Leça apresentou poluição orgânica, microbiológica e também nutrientes inorgânicos. No outro ponto, na foz, foi detetada, adicionalmente poluição inorgânica.
A Ribeira do Funtão apresentou concentrações significativas de nutrientes inorgânicos responsáveis pelo fenómeno de eutrofização. As Ribeiras do Corgo e da Agudela não apresentaram contaminação significativa, sendo difícil indicar o tipo de poluição presente. A Ribeira de Pampelido apresentou alguns indícios de poluição inorgânica. Nas Ribeiras de Joane e da Boa Nova verificou-se a existência de poluição orgânica e microbiológica. A Ribeira do Sardoal apresentou poluição orgânica, inorgânica e microbiológica tendo sido a estação de amostragem onde se verificaram os teores mais elevados de Escherichia coli. Na Ribeira da Riguinha verificou-se, fundamentalmente, a presença de poluição inorgânica e microbiológica.
Tendo em conta os resultados obtidos é provável encontrar contaminação microbiológica na vizinhança das ribeiras sendo, portanto, aconselhável uma monitorização da qualidade da água do mar em termos de Escherichia coli e enterococos intestinais.
Relativamente ao índice de qualidade da água determinado, a Ribeira da Agudela foi a que obteve o maior valor, o que significa água de melhor qualidade. A Ribeira da Riguinha, o Rio Leça – Ponte de Moreira, e as Ribeiras do Sardoal, de Pampelido e do Corgo apresentaram um índice de qualidade intermédio. As restantes ribeiras apresentaram-se como as mais contaminadas.
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Bibliografia: Estudo de Celeste Andreia de Sá Reis (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto).