NICOLAU VON RUPP APRENDE TÉCNICAS DE SALVAMENTO NO HAVAI

Em entrevista à SurfTotal, conta como foi a experiência.

 

Por Patrícia Tadeia

Começou como uma simples aula de reanimação cardiorrespiratória (“CPR” em inglês). Estávamos em 2011 e o grande surfista de ondas grandes, Sion Milosky, tinha morrido há poucos meses em Mavericks. Foi aí que Kohl Christensen e Danilo Couto perceberam que estava na hora de tornar este surf mais seguro. E assim foi, as aulas começaram num celeiro na casa de Kohl, em North Shore. Na altura, a assistir estavam uns quantos “big wave surfers”, que saíram de lá a sentir-se mais preparados do que nunca, revela a Surfing Magazine.

 

O ano passado, a iniciativa, que ganhou o nome Big Wave Safety Summit in Memory of Sion Milosky, cresceu. Foi um evento de um dia inteiro em Turtle Bay, Havai, e além das aulas de “CPR”, os surfistas aprenderam mais técnicas de salvamento e tiveram a oportunidade de as testar no mar.

 

Este ano, cresceu ainda mais. O evento durou dois dias, a 19 e 20 de novembro, e acolheu cerca de 60 surfistas, entre eles o luso-germânico, a competir por Portugal, Nicolau von Rupp, que partilhou a iniciativa na sua página oficial de Facebook. A ele, juntaram-se surfistas como John John Florence, Nic Lamb e Ben Wilkinson. A SurfTotal quis saber como foi e falou com Nicolau sobre a experiência.

 

“Foram dois dias intensos das 9h às 17h. O primeiro dia foi a parte teórica numa sala de aulas com o mestre Brian Keaulana e no segundo foi a parte prática, no mar e em terra a treinar as técnicas que tínhamos aprendido”, conta o surfista da Praia Grande.

 

“Ondas grandes não são brincadeira, já perdemos demasiadas pessoas para continuarmos a levar esta prática como se fosse apenas mais um surf”, confessa ainda Nicolau, que acrescentou ter sido “incrível ver 70 dos melhores surfistas de ondas grandes reunidos e unidos para melhorar a segurança do desporto, todos a partilharem os seus maiores segredos com os seus adversários para lutar contra a perda de mais um guerreiro”.

 

Para Nicolau, principalmente, esta é uma formação que lhe servirá e de muito. Apaixonado por ondas grandes, confessou ter adorado o curso. Quisemos que partilhasse connosco um dos sustos que teve dentro de água. Aqui vai: “O ano passado estava a surfar uma onda perigosa no Chile com o Anthony Walsh e o Ricardo dos Santos. Apanhei a primeira do set e acabei direto no canal, o Ricardo apanhou a segunda e acabou por ser engolido pelo tubo. O Ricardo nunca mais vinha ao de cima... Alguns segundos mais tarde apareceu inconsciente a boiar. Foi das piores visões que alguma vez tive na vida, cenário horrível. Pus-me logo a remar com toda a força para ir apanhá-lo. Quando finalmente o consegui apanhar,  já estava encostado às pedras a bater com a cabeça. Conseguimos retirá-lo da água, e já estava minimamente desperto mas completamente abalado e desorientado e ainda para mais sem conseguir andar de todo. Muito sinceramente pensei logo no pior.. tetraplégico para a vida. Felizmente não foi o caso e ele fez uma recuperação a 100%”, recorda Nicolau.

  

Um dia inteiro de teoria: manter os “Pro” fora de água não deve ser fácil
No primeiro dia, então, as grandes estrelas do surf puderam assistir a aulas teóricas dadas por Brian Keaulana, “lendário Waterman, peça importante no desenvolvimento dos postos de ''Lifeguards'' no Havai e ainda treinador dos Navy seals”, enumera Nicolau à SurfTotal. Brian falou durante cinco horas sobre técnicas de segurança no mar. “Depois dividimo-nos em 4 grupos e tivemos de planear estratégias de salvamento nas quatro ondas mais perigosas do mundo, ou seja, Jaws, Mavericks, Cortes Banks e Outer Reefs North Shore. Em todas estas já faleceu pelo menos uma pessoa”, continua Nicolau.

 

No dia seguinte, foi altura de ir para a água e pôr em prática o que tinham aprendido. “Aprendemos a agir quando as coisas correm mal... Ensinaram-nos a fazer ‘CPR’, como tratar um pessoa que tenha sofrido de ‘Spinal Injury’ [lesão da espinal medula, ou seja, coluna], mas dedicámos a maior parte do tempo a técnicas de socorro com mota de água a pessoas inconscientes”, recorda o surfista da Praia Grande.

 

Para Nicolau, é importante salientar que o surf de ondas grandes é bem diferente de um surf normal. “O surf é um desporto individualista, em que o nosso desporto nos educa a ser egoístas, um surfista quer sempre surfar uma onda sozinho ou quanto menos pessoas souberem de onde se está a surfar melhor. O surf de ondas grandes tem que ser ao contrário, cada pessoa tem que estar de olho nos seus parceiros e vice versa”, explica.

 

A técnica de Carlos Burle que salvou Maya Gabeira
“Tem que haver uma estrutura de segurança dentro e fora de água, os que estão dentro têm que estar preparados para ir recorrer uma pessoa inconsciente à zona de impacto e aplicar técnicas de salvamento para manter o mais alto possível as possibilidades de sobrevivência. Os que estão fora também têm de estar atentos para chamar as urgências caso seja necessário”, acrescenta ainda, lembrando que Carlos Burle “fez este curso o ano passado”. “Aprendeu a técninca de CPR que salvou a vida da Maya Gabeira na Nazaré”, aponta.

 

Entre as várias técnicas que aprendeu, Nicolau, aponta as “técnicas de salvamento de uma pessoa inconsciente estando sozinho na mota de água”. Para Nicolau foi incrível fazer parte desta turma mas não só para ele. “Toda gente teve o mesmo feedback, INCRIVEL! Vieram pessoas de todo os cantos do mundo. Não é todos os dias que o Shane Dorian te ensina a fazer um salvamento em mota de água, e também não é todos os dias que o mestre deles (Brian Keaulana) dedica 5 horas para dar o ABC de Water Safety”, conclui. 

 

 

 

  

 

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