Tem apenas 17 anos e foi o herói da 2.ª etapa do campeonato regional Paulista Hang Loose Surf Attack, que decorreu no início de setembro, na praia de Pitangueiras, no Guarujá, Brasil. Toda a gente falou dele: o surfista que “largou” a sua bateria para salvar uma vida. A SurfTotal foi conhecer Leonardo Menyon e saber como é que tudo aconteceu.

“Estava na bateria das quartas de finais, peguei minha primeira onda com 4 minutos de bateria e como estava uma forte correnteza para o meio da praia resolvi sair para entrar na correnteza que é no canto da praia do Guarujá. Entrei na correnteza que é favorável para nós surfistas e quando cheguei no meio me deparei com um banhista muito desesperado”, começa por contar Leonardo. “Sem pensar duas vezes remei para perto dele e dei a minha prancha para ele. Falei para ficar calmo que eu iria ajudar ele”, acrescenta o jovem também conhecido por Léozinho.

Mas a situação complicou-se e Leonardo quase morreu durante este salvamento. “Muito desesperado, não conseguia se comunicar comigo, tinha bebido muita agua, então falei para ele subir em minha prancha que eu iria puxando ele até sair da forte correnteza que o jogava cada vez mais ao fundo. Fui puxando, puxando e acabei me cansando e foi quando tomámos duas ondas fortes na cabeça... rolámos juntos embaixo de água e quando subi ele me segurou”, recorda agora.

Foi nesse momento que Leonardo teve de pedir à vítima que parasse de o agarrar, senão “iria acontecer algo pior e não iria conseguir ajudá-lo”. “Gritei com ele falando que a salvação era a minha prancha! Muito cansado já com a forte correnteza sentei em minha prancha e comecei a assobiar e acenar para a praia para alguém me ajudar... só que ninguém parecia estar vendo pois a praia estava lotada. Foi quando fiz o cara deitar em minha prancha novamente e fui puxando até esgotar todas as minhas forças... Aí consegui sair da correnteza e encontrar o chão (areia)”, acrescenta.

Quando a vítima já estava a salvo, Leonardo ainda voltou para a bateria em que defrontava Samuel Pupo, Edgard Groggia e Hebert Moreno. “Olhei para o meu relógio e vi que faltavam dois minutos para o término da minha bateria, dei o meu máximo na remada pela correnteza para chegar à rebentação e quando cheguei ao fundo tinha menos de 45 segundos. Ainda peguei uma onda e tentei aproveitar o máximo... mas infelizmente não consegui a virada. Precisava de 6.80 pontos, e acabei fazendo 3.50 nessa onda que era minha segunda onda. A primeira foi 5,90 pontos”, conta ainda.

Leonardo perdeu a bateria e acabou por terminar a prova em 9.º lugar. Mas não saiu derrotado: “Com certeza saí com sensação de vitória! Foi uma sensação ótima depois, pois fui recebido por aplausos na praia depois de sair de minha bateria. Foi muito emocionante.” Contudo, não voltou a encontrar a pessoa a quem salvou a vida: “Não falei mais com ele... Acredita... Espero um dia reencontrá-lo. Espero que esteja bem!”

Mas esta não é a primeira vez que o surfista que começou a surfar aos 11 anos salvou alguém no mar. “Já salvei o meu irmão de 29 anos que se enrolou numa das redes de pesca aqui na minha cidade, Praia Grande, São Paulo”, conta.

Em Portugal, arrancou este ano a iniciativa “Surf Salva”, um projeto desenvolvido pelo Instituto de Socorros a Náufragos e Lidl, e que consiste em várias ações de formação para surfistas sobre salvamento e suporte básico de vida a banhistas. O objetivo deste projeto é reduzir o número de afogamentos e ensinar os surfistas que estão todos os dias nas praias, em conjunto com os nadadores salvadores ou sozinhos, a salvar vidas, assegurando em conjunto praias mais seguras. “Aqui no Brasil pelo que sei não existe nada semelhante. O que existe são Salva Vidas, mas acho que deveria haver algo assim, pois os surfistas na maioria das vezes são os que sempre conseguem estar no lugar do afogamento primeiro... igual ao meu caso! Apoio sim!!”, avança quando lhe contamos do projeto.

Leonardo Menyon começou a surfar em 2009 com um dos irmãos mais velhos. “Ele me colocou numa escolinha de surf, e depois que você pega sua primeira parede na onda e sente adrenalina já era....Você é mais um viciado no melhor desporto do mundo!”, diz, sorridente, o surfista que tem como ídolos Gabriel Medina e Kelly Slater. “Me inspiro muito neles. Vejo vídeo deles surfando todos os dias”, diz o atleta que neste fim de semana vai participar em mais uma etapa desta competição, desta vez em São Sebastião. Quanto a objetivos, este surfista quer dar o seu máximo na competição. “Queria muito me tornar surfista profissional e vou batalhar para que isso aconteça, pois não é nada fácil, espero contar com ajuda de alguém”, conclui. O karma há-de ter algo a dizer neste seu caso, Léozinho.

Patrícia Tadeia