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ANDREW COTTON: UM CANALIZADOR QUE É "BIG RIDER" NAS HORAS VAGAS
Não venceu nos Billabong XXL mas tem uma grande história para contar.
No dia 2 de Fevereiro deste ano, a Nazaré voltava a dar de falar. E desta vez, pela prancha de um britânico que além de "big rider" é também canalizador e nadador salvador. Andre Cotton, Cotty para os amigos, foi um dos candidatos para a categoria “Ride Of The Year”, nos prémios Billabong XXL, também conhecidos como os “Óscares” do surf. Os prémios atribuídos na passada sexta feira deixaram-no, contudo, sem qualquer galardão.
Ainda assim, fica o mérito daquela onda e outras tantas. A SurfTotal falou com o surfista de 34 anos a residir em Braunton sobre este dia na Nazaré. “O mar estava muito grande, as condições não eram as ideais, estava tudo um bocado desorganizado talvez ainda do vento do dia e noite anterior”, recorda agora.
Nesse dia, Andrew esteve na água com Garrett McNamara e com o português Hugo Vau. “Estavamos lá só para apanhar umas ondas, é como se fosse mais uma peça para o puzzle da Nazaré, porque sabemos que vai sempre haver outro swell”, diz ainda.
Mas afinal como descreve Andrew aquela onda? “Era enorme, eu senti que não ia depressa o suficiente... e eu não quero pensar em 'querer sobreviver às ondas'. Eu quero é surfar as ondas. E aquela era tão grande, e a crescer cada vez mais e eu parecia estar sempre no mesmo sítio, não a descia. Sabia que ela vinha aí, E que tinha esta parede enorme atrás de mim”, conta o surfista de North Devon.
A determinada altura, Andrew acabou por cair, e o impacto foi enorme, lembra. “É como ser atropelado por um carro, sentes-te totalmente esmagado”, diz.
“Tenho trabalhado com uma companha inglesa que faz os meus fatos, e tenho uma tecnologia [Patagonia big wave inflation vest] dentro do meu fato que me ajuda nessas situações e me traz à tona. Quando acho que estou mesmo em apuros, ativo-a. Naquele momento eu sabia que a onda era enorme. Uma das maiores em que já estive. No segundo em que senti que estava em apuros, puxei logo o fio. [risos]”, diz. Cotty continua: “Quando vens ao de cima estás fisicamente cansado. Acho que o fiz para salvar energias para as próximas ondas. Talvez nem precisasse de o usar, mas fi-lo.”
De momento, o recorde de maior onda surfada pertence ao havaiano Garrett, e foi ali mesmo, na Praia do Norte no dia 1 de novembro de 2011. O registo certificado pela Guiness World Records aponta os 23,7 metros. Esta mesma onda valeu-lhe o prémio de maior onda da competição Billabong XXL Global BigWave Awards.
Mas para Andrew, tal como para Garrett, não é o recorde que importa. “Surfamos para nos divertirmos, não importa muito se bati ou não o recorde”. A verdade é que um buzz como este à volta de uma onda grande pode ajudar a encontrar patrocínios que Andrew perdeu em 2012. “Sim, seria muito bom, - concorda - mas há uma razão importante para estar lá, e não é para bater recordes, ou pelos sponsors, para os manteres felizes, ou para provar algo, aí estás em perigo. O importante é surfar com segurança e voltar em segurança”, conclui o surfista que esteve pela primeira vez na Nazaré em 2010.
NAZARÉ: "É caótica. Perigosa"
E claro, o medo está sempre presente. “A Nazaré é muito intimidante. Abre a nossa percepcão do oceano. É importante que as pessoas percebam isso. É um dos locais mais perigosos no mundo. Se há leis, é por uma razão. Acho que todos devem ter uma chance para surfar lá, mas tem de ser dentro da lei. E isso é por uma razão, porque tudo pode descambar muito depressa. E acabar muito mal. Todos os outros sítios têm canais e spots para descansar, mas na Nazaré não é assim. É caótica. Perigosa. A corrente está sempre a mudar. Não sabemos se vamos bater nas rochas. Não sabemos nada”, confessa.
E enquanto este surfista britânico de 34 anos está na água, deixa cá fora uma mulher e dois filhos, Honey com 6 anos, que já adora surfar, e Ace com 2. Eles ainda não percebem muito bem o que se passa. A mulher, Katie, respeita. “A minha família já esteve na Nazaré, e sabem que é perigoso. Ela diz-me para ter cuidado. Ela percebe mas não percebe. Ela sabe que surfar ondas grandes é uma paixão. A minha paixão. E sabe como seria infeliz se não o fizesse”, diz.
A passagem pela Nazaré em fevereiro foi curta. Durou pouco mais do que um fim de semana, pois Andrew tinha de voltar a casa. “Ia trabalhar num evento da windsurf da Red Bull como nadador salvador”. E é assim o seu dia a dia: Entre os verões na praia, de bóia na mão, o resto do tempo como canalizador, e quando calha como “Big rider”. “O ano passado trabalhei o ano todo como canalizador, mas sempre a tentar perseguir o meu sonho das ondas”. O patrocínio principal ficou lá atrás, em 2012, mas tem tido o apoio de algumas empresas britânicas. “Não voo em 1ª classe, mas com muito empenho e sacrifício tudo se consegue”, confessa.
Embora as ondas grandes surjam assim apenas como “hobbie”, Cotty encara-as como um profissional. “Treino no meu dia a dia para elas, trato-as como um trabalho”, diz, deixando a promessa: “Da próxima vez que a Nazaré estiver perfeita quero estar lá. Nunca sabemos como vai ser, é sempre diferente. Pode ser o melhor dia de sempre e vou querer estar lá.”
Patrícia Tadeia
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- Créditos fotos: Francisco T. Santos / Andrew Cotton - Arquivo Pessoal