Uma noite onde se celebrou o surf

Shane Dorian e Benjamin Sanchis no centro de Lisboa… 

O realizador francês Vincent Kardasik seguiu Shane Dorian e Benjamin "Sancho” Sanchis pelo globo à procura das melhores ondas e das sessões mais fantásticas. Passados alguns anos, o documentário Vague à l’Ame viu a luz do dia e ficou pronto a consumir. 

 

Ontem ao início da noite, cortesia da Billabong, o mesmo teve passagem no Cinema São Jorge, em pleno coração da baixa lisboeta, frente a um público interessado, apaixonando e sempre pronto a participar. Quem esteve presente teve oportunidade de testemunhar algo que não se vê todos os dias, naquilo que se pode chamar de encontro quase informal da comunidade, como há muito não se via. 

Perseguir ondas gigantes é o sonho de qualquer surfista que rapidamente pode transformar-se num pesadelo. Foi essa a ideia com que ficámos. Shane e Sancho, através de Vague à l’Ame, mostraram-nos o sangue, o suor e o medo que a conquista de ondas grandes sempre envolve. 

A audiência gostou e vibrou. Celebrou! No final, num momento de pura interação, seguiu-se uma ronda de Q&A (perguntas-respostas) que satisfez a curiosidade dos presentes.

Eis agora as questões, feitas pelo público, mais pertinentes de ontem à noite: 

 

Que idade tinham quando começaram a surfar ondas grandes?

Dorian: Eu não surfei ondas mesmo grandes até aos 16. Foi quando comecei a surfar Pipeline, Waimea Bay, esses tipo de reefs, e só com cerca de vinte e poucos anos surfei pela primeira vez Jaws. Mas adoro ondas grandes desde os meus 15 anos.  

Sancho: É tudo relativo, pois quando tinha 10 anos já surfava ondas maiores que eu. Portanto, penso que cada um surfa ondas grandes no seu próprio estilo. No meu caso, eu fui passo a passo, comecei em La Nord, em Hossegor, que é muito próximo de minha casa, é uma onda que fica no meio do oceano, e depois comecei a viajar e a surfar ondas diferentes. 

 

Que tipo de pranchas usaram em Rileys, Aileens e Jaws?

Dorian: As pranchas para Jaws são muito grandes. Tanto eu como o Benjamin usamos pranchas muito similares, talvez 9’6 seja a mais pequena mas nos dias mesmo grandes optámos por uma 10’6 grossa e pesada. Em Jaws, para apanharmos uma onda grande temos mesmo que ter uma prancha grande. Na Irlanda usei uma 6’10. 

Sancho: Em Rileys usei uma 5’4 que quase parecia um skimboard, mas dei-me bem como se pode ver. (risos)

 

Em que pensam durante um “wipeout”?

Dorian: “Oh shit!” (risos) No fundo pensamos o mesmo que qualquer pessoa que surfa. À medida que crescemos e temos mais experiência, as ondas são maiores mas a experiência desse momento é a mesma. Eu tento manter-me calmo, manter o batimento do coração baixo e assim eu sei que consigo suster a respiração mais tempo. Se entrar em pânico, eu sei que o coração acelera e o ar desaparece num ápice. É assim que as pessoas se afogam. Portanto, o meu objetivo é manter-me calmo. 

Sancho: Um dos meus maiores medos é bater no fundo e ficar inconsciente. Portanto, tento manter-se afastado do fundo quando estou submerso, manter-me relaxado e como se estivesse num clube noturno, ora vou para a esquerda ora vou para a direita (risos). Quando acaba tento voltar à superfície. 

 

- Foto: Billabong Portugal

 

O que pensam de pranchas leves em ondas grandes?

Dorian: Relativamente ao peso das pranchas, depende muito do local. Há algumas ondas, como Mavericks ou até mesmo Jaws, onde uma prancha leve parece funcionar melhor, se gostarem de pranchas leves. Mas quando a onda é mais mexida, tipo Praia do Norte ou Jaws com vento e aos saltos, para mim é muito difícil surfar com uma prancha leve. O que acontece é que muitas vezes ficamos pendurados no topo da onda mal fazemos o take off. Isso acontece porque as pranchas são muito leves, mas há muitos surfistas, como o Kai Lenny, Ian Walsh, Albee Layer e alguns dos riders mais novos, que usam pranchas mais leves mesmo quando está muito vento e é fantástico observá-los. As minhas pranchas, em geral, são mais para o pesado.  

 

Que mais podem adiantar sobre o V2, fato insuflável da Billabong que revolucionou o mundo das ondas grandes?

Dorian: Há uns anos melhorámos a versão inicial deste fato e há pouco tempo redesenhámos o fato. Fizemos um grande melhoramento, o fato é muito mais seguro, mais eficiente, tem um design mais produtivo que nos ajuda a ficar ainda mais seguros. Muito possivelmente ficará disponível em outubro deste ano.  

 

O que achaste da tua primeira vez na Nazaré?

Dorian: A Nazaré sempre foi um daqueles sítios que sempre quis surfar. Portanto, observámos a previsão e escolhemos um dia com o tamanho certo, a direção do swell certa e as condições ideais. A onda parece fantástica e eu quis ver se era possível apanhá-la à remada num dia realmente grande. Eu vi muitas imagens em tow-in e quis ver com os meus próprios olhos, quis surfar ondas grandes no Atlântico. Eu e o Sancho entrámos e estava fantástico, muito assustador, a proximidade da falésia e das rochas, a corrente, a dificuldade em torno da segurança aquática, mas foi desafiante e ambos apanhámos boas ondas. A Praia do Norte é uma onda grande única, pouco comum, não existe outra igual no mundo. O Canhão e a forma como o swell refrata, a força e intensidade, o público a observar de perto, é tudo fantástico. Vê-la em filme, no computador ou no telefone é fantástico, mas descer a estrada de carro e vê-la ao vivo, com a sua potência e som, é absolutamente incrível. A sua consistência não tem paralelo, praticamente todas as semanas durante o inverno há uma sessão. Definitivamente, adorava voltar. Vocês têm muita sorte. 

 

- Foto: Matreno/Billabong Portugal

 

Qual é a próxima fronteira em ondas grandes? Tamanho? Força? Uma mistura de ambos?

Sancho: Eventualmente veremos dentro de 10 anos pessoal a surfar o dobro do tamanho que se surfa agora. Quem sabe? Veremos. Mas penso que estamos na direção certa, seja a remar ou a ser rebocado, e com as pessoas certas. 

Dorian: Sobre o que se segue, penso que o Sancho tem razão. Um sítio como a Nazaré só está a ser surfada tipo há uma década, portanto, é uma fração de tempo muito curta relativamente à história da Terra. A cada 10 anos, ou 20 anos, pode haver uma tempestade muito especial que pode trazer ondas muito pouco comuns. Penso que um destes dias veremos a mãe natureza a surpreender-nos, com ondas bem grandes, mas, se tivermos em conta o tow-in, onde não há limites, veremos muito seguramente riders a surfá-las.

 

Em termos de progresso em ondas grandes, é possível fazer mais tubos e manobras numa onda tipo a da Nazaré? Ou o tamanho é um limitador? 

Sancho: Na Nazaré, por exemplo, da praia vemos as ondas e pensamos que é possível fazer certos movimentos. No entanto, na água é muito diferente. Mas penso que é uma questão de tempo, é o progresso. 

Dorian: Claramente. Eu sou um grande fã de surf em ondas grandes, há um contingente de novos surfistas a aparecer que estão empolgados e famintos para trilhar um novo caminho no big wave surfing. Penso que no futuro vamos ver coisas mais pesadas e performances também a serem levadas mais além. Apesar de toda a segurança existente, surfar ondas grandes nunca foi algo seguro, mas agora é possível puxar os limites com um pouco mais de confiança e ajuda, bem diferente do que era há 10 ou 15 anos atrás. Portanto, estou muito excitado para ver para onde vamos. 

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